domingo, 2 de dezembro de 2012

                                 NO TEMPO DO BRUCUTU 




                                
                                      JAIR PIMENTEL
                                           Jornalista



        Um adolescente na Jovem Guarda
                             










          
Justificando


A segunda metade da década de 1960, foi de reboliço cultural e político no Brasil. O Brucutu relata essa fase vivida numa cidade ainda com ares provincianos, mas com os jovens adolescentes sabendo curtir a vida, de maneira sadia, sem drogas e sem violência. Maceió naquela época tinha menos de 500 mil habitantes e hoje chega a um milhão, se constituindo num dos principais pontos turísticos do Brasil. 

O Brucutu é uma alusão a música homônima de Roberto Carlos, que tanto sucesso fez entre os jovens daquela época. Brucutu era uma peça que esguichava água do pára-brisa do Fusca. Os rapazes retiravam, para que virasse um anel, disputadíssimo em meio a turma. Era uma brincadeira de adolescente mesmo. Mas uma brincadeira sadia, sem nenhuma intenção de roubo. Até porque, essa pecinha não fazia tanta falta ao veículo. Também era Brucutu, o carro-tanque do Exército, que jogava água nos manifestantes contrários à ditadura militar.

Vivi intensamente minha adolescência nessa fase (1964/69)morando em Maceió com meus pais e estudando, passando as férias em Paulo Jacinto e Viçosa, em casa de tios das famílias Barbosa e Pimentel, respectivamente.Meu pai, funcionário público federal, jornalista, poeta e violonista. Na sala principal, uma radiola com seus discos de preferência e os meus da Jovem Guarda, Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley em móvel a moda da época e uma televisão em preto e branco (novidade na época), emolduravam a sala de visita, que tinha ainda conjuntos de sofá, cadeira de balanço e quadros na parede. Uma típica casa de classe média. Não faltavam os jornais do dia, revistas e, claro livros dos mais variados temas. 

Como adolescente de classe média, assim como meus amigos, recebia "mesada" a cada sábado,para os gastos no fim de semana e o lanche no ginásio durante os dias de aula. Só que gastávamos tudo nos bailes, boates e bares da cidade. O lanche era o cigarro, indispensável aos adolescentes daquela época. O dinheiro começava a ser gasto logo que era recebido para assistir filme no São Luiz, na manhã do sábado, sempre filmes de lançamento. Depois, praia, cerveja e a noite, a farra com bebida, cigarro e lindas garotas "papo-firme".


Programei tudo para lançar esse livro exatamente em 2009, quando completou 40 anos do fim da Jovem Guarda, dos Beatles e ainda relembrando que em 1969 nos EUA, realizou-se entre entre os dias 15 e 17 de agosto o Festival de Woodstck, que celebrou a paz e o amor em uma época de irritação e protestos pela Guerra do Vietnã. Em julho daquele ano, mais uma novidade do século XX: pela primeira vez o homem chegou a lua. Um acontecimeto fantástico, uma emoção a toda prova para quem viveu aquele dia, diante da televisão. Assisti a tudo isso e marcou muito minha vida.Roberto Carlos completa 50 anos de carreira artística e lotou o Maracanã num show memorável, em julho de 2009. Em 2011 também teve dois significados importantes: Completei 60 anos e Roberto Carlos, 70. A Jovem Guarda, continua sendo lembrada por todos aqueles que usufruiram dela e ainda os mais jovens que gostam de uma boa música.

Escrever um livro de memórias não é tarea fácil. É sofrido, dá muito trabalho, muita gente que não é citada, e depois que termina de escrever, começa a lembrar todo dia de mil histórias que não estão no livro. Não é como jornal, por exemplo, que se faz uma matéria, esquecendo de algo e no dia seguinte acrescenta numa nota. "Não há nada mais perigoso do que a memória escrita", sábia frase do grande escritor colombiano Gabriel Garcia Marques, Prêmio Nobel de Literatura. Mas fiz o que pude para passar para a posteridade as memórias de minha adolescência, exatamente no período 1964/69, dividido entre Maceió, onde vivia e continuo vivendo e as férias em Paulo Jacinto. A infância, foi lembrada em outro livro. 


José JAIR Barbosa PIMENTEL
Jornalista, professor e escritor
Maceió, primavera de 2012








GLOSSÁRIO


Para quem viveu aquela boa fase, nada melhor do que recordar os termos tão usados, como:

Barra limpa (tudo em cima, tudo certo. Fulano 
é um cara barra limpa).
Bicho (o mesmo que cara amigo).
Brasa ( usada junto a  expressão é um brasa mora. Queria dizer ótimo, legal, gostoso, maravilhoso)
Brucutu (tema de uma canção do Roberto e deste livro).
Bidu (sabido, esperto. Era também o apelido de Jorge Bem.
O Bom (o melhor da turma. Aquele que conquistava todas as garotas, tomava Rum com Coca e fumava cigarro careta. Era o apelido do cantor Eduardo Araújo). 
Bacana (legal, bonito, o máximo). 
Coroas (os pais, os mais velhos). 
Calhambeque (símbolo da Jovem Guarda. Música que se transformou em moda).
Caranga ou Carango ( carro, máquina quente)
Goiabão (um cara babaca, chato)
Pão (rapaz bonito).
Papo Firme (garota com bom papo, avançadinha, que usava minisaia e topava tudo). 





Jovem Guarda

A expressão Jovem Guarda, ficou nacionalmente conhecida por volta de 1965, quando a TV Record passou a exibir um programa homônimo pelo trio formado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.  A partir daí, o termo passou a definir todo um movimento musical pautado na disseminação de um tipo de “rock brasileiro” espelhado na produção internacional. 

Os críticos apontam que na verdade, o movimento funcionou como a cristalização de uma tendência musical iniciada muito antes de 1965, por nomes como o dos irmãos Tony e Cely Campelo, Sérgio Murilo, e até mesmos mais antigos como Ronie Card e os grupos musicais: The Jords, The Jet Blacks e The Fivers. Cantores e compositores que tentavam reproduzir no Brasil, informações musicais muito próximas do rock americano da década de 1950. 

Nessa época, o ritmo americano era reproduzido em letras e versões abrasileiradas, bem adocicadas. A Jovem Guarda surgiu exatamente com o declínio desses músicos, mas de certa forma deu prosseguimento à linha mestra do movimento iniciado por eles, só que dessa vez com um público infinitamente maior, graças ao investimento da mídia. 

O fato é que, na década de 1960, a Jovem Guarda se transformou num conceito, numa onda que entrava pelo ouvido e se diluía em gestos, posturas, roupas e gírias próprias. O sucesso do programa da Record – que durou de 1965 a 1969, arregimentava platéias lotadas por jovens tietes que se descabelavam para ver e ouvir cantores como Eduardo Araújo, Roney Von, Jerry Adriani, Wanderley Cardoso, Márcio Greick e os conjuntos The Fivers, Os Incríveis, Renato e seus Blue Caps.

O eixo de tudo mesmo era o tripé Roberto, Erasmo e Wanderléa. Eles encantavam os jovens, embalados por sucessos como Quero que Vá Tudo pro Inferno, Eu Sou Terrível e É Proibido Fumar. Amparados por uma maciça campanha de marketing produzida pela agência Magaldi, Maia & Prospei, o trio se transformou no estereótipo da modernidade rebelde, levando a comportamentos do tipo leia o livro, veja o filme, ouça a música e se vista como nós. 

O trio ditava a moda, elegendo o tubinho e a mini-saia como uniformes oficiais para as mulheres. Chegaram a criar marcas como: Calhambeque, Ternurinha e Tremendão, responsáveis pela produção de bonés, sapatos e botas de zíper. Rapazes das classes média e alta, não dispensavam a calça Lee, sempre com bonitas botas, além de pulseiras semelhantes a de Roberto Carlos, enquanto as garotas se embonecavam com as mini-saias da Ternurinha.

Mas todo esse romantismo e alegria contagiante dos jovens da segunda metade dos anos 60, agonizou em 1969, “engolido” pelo Movimento Tropicália, encabeçado pelos Novos Baianos (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia), que passaram a incorporar elementos do iê-iê-iê às composições da época. Só que o movimento não chegou a amadurecer. Caetano e Gil foram presos pela ditadura militar e, exilaram-se em Londres. Lá, Caetano compôs London London, enquanto Roberto Carlos em visita aos amigos na capital inglesa, ao retornar ao Brasil, fez: Debaixo dos Caracós dos Seus Cabelos, uma alusão aos cabelos encaracolados que Caetano Veloso usava na época. 




Tardes de domingo

Quem, como eu, viveu a adolescência na segunda metade da década de 1960, não esquece as tardes de domingo em frente à TV preto e branco (TV em cores só a partir da década de 70,chegou ao Brasil), que presenteava todos, com o programa Jovem Guarda, apresentado pelo trio sagrado formado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderlea. Difícil mesmo era  um aparelho de televisão em casa, “um luxo para aquela época”, que só os ricos possuíam. Mas isso não impedia que a turma assistisse. Quem era da classe média e gostava de música, tinha que ficar na praça, onde a Prefeitura colocava uma dessas maravilhas da tecnologia para o deleite de todos. Maceió só foi ter sua primeira emissora de televisão em 1975: a TV Gazeta de Alagoas, afiliada da Globo.

Eu, morando próximo ao Centro, deslocava-me com meus amigos para o Parque Gonçalves Ledo, no Farol, onde existia a TV pública, com imagem de péssima qualidade, já que não existia repetidora de TV em Maceió. A imagem era captada do Recife, através de uma antena existente numa serra próxima a cidade de Joaquim Gomes, a 63 km da capital.  O vigilante se desdobrava para atender aos apelos da platéia, quando a imagem sumia. Tinha que subir no telhado e colocar a antena na posição exata. 

Logo que o programa começou em 1965, tinha 14 anos, iniciando minha fase de adolescente. Já fumava e tomava “Cuba Libre”. Nunca aderi ao cabelo longo, às pulseiras e correntes. O único adereço, era o Brucutu (o anel retirando do Fusca). Antes e depois do programa, a paquera corria solta. Eram “garotas papo firme” que se exibiam com suas mini-saias imitando aquelas que eram usadas por Wanderlea,. Martinha, Vanusa, Silvinha, Rosemary e outras cantoras da Jovem Guarda. Depois a turma descia a Ladeira do Brito passando pela rua do Comércio, vendo as vitrinas das lojas e chegava a Praça Deodoro, para a paquera e o sorvete da Gut-Gut.

Só a partir de 1967, meu pai comprou a tão sonhada TV, que ficou em lugar de destaque na sala de visitas. E “visita” era o que não faltava. Foi a primeira da rua e, obviamente toda a vizinhança enchia os espaços, para assistir o Repórter Esso, a novela O Direito de Nascer e outros programas. Em 1969, o maior acontecimento do século: a chegada do homem a Lua.

Em minha casa não existia bebida alcoólica. Meu pai até que gostava de festas, sempre levando seu inseparável violão, que solava divinamente. Minha mãe nunca permitiu qualquer tipo de farra em casa. Era completamente diferente da família paterna (Pimentel), que adorava festas. Mas, quando saia, era só farra, sarro com as namoradas e, ir direto para a matinê dançante do Regatas, na Pajuçara, onde reunia-se toda a rapaziada e as garotas papo-firme. 



O primeiro show


Tinha 13 anos quando participei de um grande show artístico. Antes, já frequentava os programas de auditório da Rádio Difusora, onde cheguei a participar como calouro. Mas show mesmo com cantores de fora, foi o de Roberto Carlos em 1964. Ele ainda não fazia tanto sucesso, que só começou com o programa Jovem Guarda da rede Record, um ano depois. Mas já era um nome conhecido nacionalmente, principalmente com a música Calhambeque. 

O show foi no auditório da Rádio Gazeta, na Rua do Comércio. Comprei o ingresso com antecendência e, no dia, ainda fui vê-lo em sua chegada ao Hotel Beiriz. Estudava no Grupo Escolar Dom Pedro II (hoje Academia Alagoana de Letras), na Praça Deodoro. De lá, acompanhado dos colegas, vi o futuro Rei, acenando para o público que se aglomerava em frente ao Hotel Beiriz, na rua do Sol, que era o melhor da cidade.

Com o auditório lotado, Roberto Carlos cantou seu Calhambeque, acompanhado de toda a platéia. Anos depois retornou à Maceió, já como Rei da Jovem Guarda, fazendo um mega-show no Ginásio do Sesc, no bairro do Poço,  com sucessos como Quero Que Vá Tudo Pra o Inferno. Todos deliravam e, muitos imitavam suas roupas, seu cabelo, seus adereços, principalmente a pulseira de prata e o anel (que era idêntico ao Brucutu). No início da década de 1980, ele esteve novamente em Maceió para um show no Estádio Rei Pelé. Já como jornalista da Gazeta de Alagoas, fiz uma entrevista com ele, em seu avião “Emoções”, no Aeroporto dos Palmares e, à noite fui vê-lo cantar e encantar os milhares de alagoanos. Tenho essa foto da entrevista em meu Gabinete de Leitura e Pesquisa. 

Mas não era só Roberto Carlos que fazia shows em Maceió. Participei de vários em clubes sociais, com: Jerry Adriani, Rony Von, Márcio Greick, Antonio Marcos, Vanusa, Eduardo Araújo e Silvinha, Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Os Incríveis, Os Fivers, Leno e Lilian e tantos outros. Os clubes que promoviam esses bailes-shows eram Fênix, Iate, Tênis, Portuguesa. A maioria exigia o traje passeio (paletó e gravata). Tinha o meu. 

Outro mega-show que assisti aos 17 anos, foi no Ginásio do Sesc (Poço), com Jerry Adriani. Achava-me parecido com ele, e até o imitava no vestir. O ginásio lotado, para vibrar com o cantor que fazia o maior sucesso. Minha namorada era vidrada nele e, tinha muito ciúme desse seu comportamento. Acabei o namoro exatamente nesse dia. Mesmo ela dizendo que não era amor e sim porque era parecido comigo! 







Viagem de trem

Desde a infância, viajava de trem. Primeiro entre Viçosa e a vila de Anel, para de lá ir a cavalo a casa do meu avô no antigo Engenho Bananal e, também para Maceió, onde tinha meu pediatra, dr. Adail Freire, que curou-me de uma doença que tinha no fígado. No início era a “Maria Fumaça”, movida à lenha, mas logo depois foi a máquina a óleo diesel. Os carros de passageiros eram divididos em duas classes: a primeira com cadeiras estofadas e a segunda, de madeira. Tinha ainda os carros de cargas para transportar a produção agricola, de animais e ainda dos correios, além do carro-restaurante. 

Já morando em Maceió, a cada mês de janeiro a família se deslocava para Viçosa (eu e meu pai) e Paulo Jacinto (minha mãe e meus dois irmãos). A viagem durava mais de três horas parando nas estações de Bebedouro, Fernão Velho, Satuba, Utinga, Gustavo Paiva, Lourenço de Albuquerque, Urupema, Bittencourt, Atalaia, Estrada Branca, Capela, Tinguijada,Cajueiro,Capricho,Costa Rego,Viçosa,Caçamba,Anel,Cruzes e Paulo Jacinto. Paisagens belíssimas com muito verde, a lagoa e os rios Mundaú e o Paraíba, com sua cachoeira, na Serra dos Dois Irmãos. Ao se aproximar da minha Viçosa, já na Usina Boa Sorte, só emoção, ao avistar a torre da velha matriz, o alto do cemitério e o casario.  

Na adolescência, fazia essa viagem sempre sozinho, durante as férias de julho e de fim de ano, além de alguns fins de semana que ia participar de bailes em Viçosa, Paulo Jacinto e outras cidades da linha férrea. Não achava cansativo, até porque era uma verdadeira “farra”, sempre viajando no vagão-restaurante, com cerveja gelada, a paquera nas estações e a chegada, sempre com uma namorada esperando.
Na estação de Lourenço de Albuquerque (bairro de Rio Largo), fazia-se a baldeação com o ramal que seguia para o Recife, passando por várias cidades alagoanas e pernambucanas. Mas era lá, que o trem demorava mais e, a turma procurava um barzinho para beber cerveja ou mesmo cachaça. Outros preferiam o pão quente com caldo de cana. 

Quanta saudade desse trem, que infelizmente parou de vez em 1977, quando já estava casado, mas sempre passava minhas férias em Viçosa, freqüentando ainda Paulo Jacinto, no reveillon, carnaval, Baile da Chita. No jornalismo, lutei muito pela volta do trem de passageiros. Ele existe, mas só até Rio Largo. E agora recentemente, o chamado VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), com maior rapidez, conforto, segurança, vagões climatizados.Mas toda linha férrea entre Maceió e Porto Real do Colégio foi recuperada e os trens de passageiros e cargas, vão voltar. Minha missão no jornalismo foi cumprida!




Os bailes da minha vida

Mesmo com as boates com luz negra e música eletrônica, os bailes nos clubes sociais continuavam atraindo jovens e maduros que bailavam madrugada adentro, com grandes orquestras, tocando boleros, valsa, rock, samba e a própria música popular brasileira, bossa nova e claro, a jovem guarda. Inesquecíveis os bailes tradicionais dos clubes Fênix, Iate, Tênis, Portuguesa, Regatas e ainda outros clubes de bairros, que sempre realizavam seus bailes. Inesquecíveis também foram as orquestras: Marimbas Almas Latinas, LSD (de Maceió, que tinha como vocalista o nosso Djavan), Kuka Samba e outras, tanto de Maceió, como de Recife e outras cidades. 

Mas não é era só em Maceió que participava de bailes. Viajava com minha turma para o interior, seja de trem ou de ônibus. Baile da Chita, no Clube Recreativo Paulojacintense; Baile da Emancipação, na Associação Rural de Viçosa; Baile Macabro, no Aéro Clube de Palmeira dos Índios; Baile da Cana, no Clube Capelense; o Último Baile do Ano, no Clube Recreio, de Fernão Velho e, ainda os bailes para escolha de miss, tanto na capital como no interior, além de formaturas de ginásio, pedagógico e curso superior em Maceió. Em todos esses encontros, exigia-se o traje passeio completo. 

As minhas últimas férias de meio de ano (junho/julho de 1969), em solteiro, foram divididas entre Viçosa, Bananal, Chã Preta, Paulo Jacinto. Eu e mais dois dos meus melhores amigos (Leto e Sérgio) passamos momentos de puro prazer nesses locais, sempre cercados de belas garotas, muita farra, música e ar puro. Primeiro ficamos em Viçosa, num casarão cedido por uma amiga de minha mãe. A alimentação era por conta dela, claro. E assim, conseguimos arrumar namoradas lindas. Afinal eram três rapazes da capital, produzidos, amantes da música e farristas. Era festa todos os dias e, elas sempre levavam amigas e alguns amigos também. Levamos uma radiola portátil e muitos discos. A geladeira sempre abastecida com cerveja, tira-gosto. Muitos beijos, abraços, sarros calientes. Mas não havia sexo. Elas eram virgens. Terminamos as férias no Baile da Chita, com as namoradas de Viçosa. 

Ainda nessas últimas férias de solteiro, tive uma aventura mesmo. Com dois amigos fomos de ônibus até Santana do Ipanema,no alto Sertão alagoano, que não conhecíamos, mas exatamente em sua maior festa: o Baile da Juventude, que era o término dos festejos de sua padroeira. O Tênis Clube era o cenário dessa festa tradicional. Chegamos e nos alojamos num hotel da praça central, os três no mesmo quarto e mais um outro aventureiro que conhecemos no ônibus, numa longa viagem, com boa parte da estrada, sem asfalto e muita lama (era inverno). 

A cidade estava em festa. Já chegamos no final da tarde e o hotel ficava exatamente no centro festeiro, na Praça da Matriz. Eram quatro pessoas num quarto, de apenas uma cama, assoalho de madeira, já que era no primeiro andar e da janela, via-se todo o movimento da festa. Tomamos banho e trocamos de roupa para cair na farra. Bebemos cuba-libre e começamos a paquera na festa. Só que deparei-me com minha namorada de Maceió, que sabia estava passando uns dias na fazenda da família em Major Izidoro. Não imaginava que estaria na festa de Santana. Nada mal. Até que gostava dela e pensei logo no irmão empresário, que poderia facilitar nossa entrada no baile. E foi o que aconteceu. Namorei um pouco, enquanto meus amigos bebiam num dos bares da praça. E depois seguimos para o baile, num frio intenso. Mas todos de paletó e gravata, que era exigência para acesso. 

Fiquei a noite inteira com a namorada, dançando ao som de uma excelente orquestra do Recife e ao amanhecer retornamos ao hotel, para dormir um pouco. Acordamos às 10 horas e fomos a um churrasco numa fazenda próxima. Maravilha. Cerveja geladíssima e muita música. Saímos às 15 horas e pegamos o ônibus para Palmeira dos Índios, onde tinha outro baile no clube AABB. Ficamos num hotel e pegamos um “rango” num restaurante, combinando tudo como seria a “maiada”. O dinheiro estava curto. Um dos amigos,que tinha levado mais dinheiro, já estava praticamente liso. E eu ainda tinha, já que bebi de graça em Santana. Mas seguimos ao clube, bem distante do Centro. Conseguimos entrar, sem pagar, enganando o porteiro. 

Só que o azar foi meu. Um amigo encontrou a namorada de Maceió e ficou com ela até o final do baile. Eu e o outro, a “ver navios”. Ainda consegui uma menina, “guinchei” um pouco, mas o sono me dominava. Terminei indo embora com um dos companheiros, enquanto o outro ficou com a namorada. Ao amanhecer, disse ao amigo que iria embora de trem para Viçosa, que avisasse em Maceió. Só que não avisaram e foi uma tremenda confusão em família, preocupação onde eu poderia estar. Enfim, sacanagem dos amigos! Só depois, eles disseram aos meus pais que eu tinha ido à Viçosa, onde passei o restante das férias, curtindo a namorada de lá. No final o Baile de Fim de Férias, na Associação Rural.

Com essa minha turma, também participava de outros bailes no interior. Fomos ao clube Cassino Pilarense (Pilar), Associação Atlética Palmarina (União dos Palmares),Baile da Cana, em Capela,  Clube América (Rio Largo) e ainda bailes em clubes de bairros de Maceió: 29 de Junho (Bebedouro), Atlético do Poço, Aliança (Levada) e, claro os clubes tradicionais: Fênix, Iate, Tênis, CRB, Portuguesa. E mais: aniversário de 15 anos de meninas-moças, que geralmente comemoravam em casa mesmo, sempre com a exigência de convites e traje passeio. Sem problema. Conseguíamos. E também conseguia até mesmo “segurar” a aniversariante, como ocorreu em duas oportunidades, namoros que teve até alguma duração. Bailes de formatura em Medicina, Engenharia, Direito, Economia, sempre nos principais clubes. Tinha ainda os bailes promovidos pelas turmas desses cursos, para angariar dinheiro e fazer a festa de formatura. Sempre eram nas próprias faculdades. 

Mas o baile da minha vida, sempre aguardado todos os anos, foi o Baile da Chita, no mês de julho. Chegava a Paulo Jacinto antes do São João, logo que iniciavam as férias escolares do meio do ano. Era festa toda noite, organizada pela turma jovem em suas casas. Os chamados “assaltos dançantes”. Essas residências tinham radiola, sempre com bons discos de músicas da época, principalmente as da Jovem Guarda, Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, além de boleros, sambas e o forró, claro. 

Na véspera e dia de Santo Antonio, São João e São Pedro, além da fogueira, fogos, comidas típicas e muita bebida, dançávamos quadrilha. A cidade se enfeitava com bandeirolas e havia ainda a disputa entre o Centro e o bairro Nossa Senhora das Graças, do outro lado da ponte sobre o rio Paraíba, onde viviam muitos jovens de famílias tradicionais e disputavam a guerra de “busca-pé”. 



Zinga, a primeira boate

Beirava os 16 anos, quando surgiu a primeira boate com luz negra e música eletrônica em Maceió. Era o Zinga Bar, em Riacho Doce, lugarejo distante do Centro, que só se chegava de carona ou mesmo sendo obrigado a ir de ônibus e esperar que o dia amanhecesse para retornar. O nome foi uma homenagem de seus proprietários aos jangadeiros. Zinga é a vara comprida usada pelos jangadeiros para vencer a força da corrente. É o varejão para empurrar a jangada ou canoa em vez de remar. Fica sempre na popa, pronto para ser usado. 

Ir aquela boate, era programa certo para as noites de sábado da rapaziada. Nunca deixava de “segurar” uma “garota papo-firme”, daquelas que usavam mini-saia e curtiam a jovem Guarda. A música era mecânica, fumaça e muita bebida, além de espelho, onde as pessoas dançavam se vendo. Depois surgiu uma outra, também em suas proximidades: A Casa da Bahia e, mais: Âncora, na praia do Sobral e Escondidinho, na praia da Avenida.

Os cinquentões e sessentões de hoje, que viveram naquela época não esquecem as boas noitadas regadas a cuba-libre. O dinheiro da mesada e ainda do lanche diário, era economizado para o fim de semana, dava para uma boa curtição. A roupa era mesmo calça jeans (Lee), camisa quadriculada ou banlon, espécie de camisa pólo, além da bota de ziper. A minha primeira calça Lee ganhei de uma tia que viajou aos EUA e quando chegou ao Rio, enviou-me pelo Correio. Foi um sonho realizado. Ninguém da minha turma possuía uma. Ao chegar, no mesmo dia vesti por cima da calça do colégio, já quer era muito larga e precisava ser ajustada pelo alfaiate. Não esperei. Um dia especial. Um sucesso entre a turma. Durou vários anos. Geralmente não se usava cueca, para “guinchar” bem (dançar coladinho com uma perna entre as da garota). Uma masturbação delirante!


A  praia da moda


Quem viveu em Maceió nas décadas de 1950/60 e 70, não esquece os fins de semana na praia da Avenida, nas imediações do Corêto de Jaraguá, conhecida como praia do Castelinho, sem a poluição do Salgadinho. E foi exatamente lá, que surgiu o biquini em Maceió, lançado no Rio, em princípio dos anos 60 pela atriz Brigit Bardot, quando esteve naquela cidade para lançar um filme. Lá, exibiu seu corpo semi-nu na praia de Copacabana.  Isso provocou escândalos, porque as cariocas começaram a imitá-la. O então presidente Jânio Quadros, atendendo pedido da primeira dama, dona Eloá Quadros, baixa um decreto proibindo o uso do biquini. Quem fosse flagrada, seria presa por atentado ao pudor. Felizmente ele demorou apenas 8 meses na presidência e seu sucessor, revogou o tal decreto. 

Mas já na segunda metade dos anos 60, quando estava na adolescência e era a fase da Jovem Guarda, namorava as meninas de biquini do Castelinho. Também usava sunga, tinha os cabelos castanhos bem claros, quase loiros e os olhos esverdeados. “Um pão”, para elas.Não existiam as atuais cadeiras de praia e as garotas tomavam "banho de sol" deitadas em toalhas, um colírio para a rapaziada! 

Na Avenida da Paz, residiam as famílias mais tradicionais e de classe média alta, que construiam seus bangalôs em frente ao mar. O mesmo ocorria na Praça Sinimbu, na rua Pedro Monteiro e rua da Praia. O Clube Fênix, tradicional reduto da burguesia, geralmente realizava bailes com conjuntos famosos, como Os Incríveis, que participei “maiando”. Com mais dois amigos, fiquei num casarão de um dos conhecidos da turma. A meta era pular os muros de três casas e sair na área externa do clube. Assim fizemos e passamos mais de duas horas trancados no banheiro, até o baile começar. Todos de paletó e gravata. 

Toda a extensão da Avenida da Paz, incluindo Jaraguá e Centro, e ainda prolongando-se até o Sobral, era tomada por jovens, adultos e crianças nos fins de semana. Praia limpa, areia branca, muitos coqueirais, era um espetáculo de rara beleza. Em noites de lua cheia, a turma se reunia nos coqueiros do Sobral com violão e cachaça. 





O primeiro arranha-céu

Estava iniciando a adolescência quando foi erguido no Centro de Maceió, o Edifício Breda, com dez andares e dezenas de salas comerciais. Era meu programa preferido para levar a namorada até o décimo andar pelo elevador e ficarmos deslumbrados com a beleza de nossa Maceió, dos dois lados: mar e lagoa. Quantos beijos ardentes e carícias. Nunca tinha andado de elevador e, isso era um deslumbramento não só para mim, mas a imensa maioria da população, a não ser aqueles que já tinham feito isso no Recife, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e outras grandes capitais. Aqui foi o primeiro, exatamente em 1964. 

A família Breda já tinha feito sua mansão do bairro da Gruta de Lourdes, que ela mesma criou, com casas estilo bangalô. A sua, era uma verdadeira mansão, tudo baseado naquela do filme E O Vento Levou, que fazia sucesso na época. Belíssima, com muito conforto, segurança, piscina, verdes por todos os lados. E o nome do bairro,que hoje é um dos mais importantes da cidade, foi em homenagem a matriarca da família, Lourdes Breda. Freqüentava com meus amigos, o bairro, onde tinhamos amigos e paqueras. Sempre pegávamos o ônibus no Centro, percorrendo toda a Avenida Fernandes Lima e chegando lá logo cedo da noite, para animados papos, sempre regados a boa música e, claro, bebidas. 

Mas o Edifício Breda era mesmo a grande novidade da Maceió dos tempos da Jovem Guarda. Logo depois, os mesmos construtores ergueram na Avenida da Paz, vizinho ao Clube Fênix, o Edifício São Carlos, com 11 andares em frente ao mar e totalmente residencial.  Foi o primeiro edifício de apartamentos da cidade e inaugurado em 1966. Lindo. Invejava quem lá morava, tendo o mar em sua frente. Mas, muitos anos depois, realizei esse sonho. E mais: no último andar. Era mesmo que estar dentro do mar. 



Turma de bairro


A rapaziada dos anos 60, também tinha sua turma de bairro, que sempre provocava desavenças, embora nunca com violência. As duas rivais eram a do Parque Gonçalves Lêdo (Farol) e Praça do Rex (Pajuçara). Eram os paqueradores, os mais disputados pelas garotas da época. Frequentavam os bailes da Fênix, Portuguesa, Iate, Tênis e Regatas. Usavam calça Lee, bebiam cuba-libre e curtiam os Beatles, os Rolling Stones e a Jovem Guarda. 

Como morava próximo ao Centro, tinha que participar da turma do Parque. Entrosei-me logo com a rapaziada de lá, logo que iniciou o programa Jovem Guarda, nas tardes de domingo. Era exatamente onde tinha uma TV pública, em preto e branco, claro (a Tv em cores só chegou ao Brasil em 1970). Todo domingo o caminho era um só: assistir o programa comandado por Roberto Carlos. Eles também estudavam nos colégios do Centro ou do Farol, frequentavam os mesmo ambientes e geralmente eram filhos de funcionários públicos, como eu. 

Quando o baile exigia passeio completo, a situação se complicava, já que alguns da turma não possuía. Eu tinha dois ternos completos. Em várias ocasiões tínhamos que pular o muro e, obviamente com toda cautela, para não se sujar. Precisávamos entrar no salão, impecáveis e cheirosos. Certa vez, um dos integrantes da turma do Rex, ao pular o muro do Jaraguá Tênis Clube para um baile com o cantor Márcio Greick, caiu num túnel cheio de água. Foi flagrado pelo vigilante e teve que sair todo molhado pela porta principal, onde os convidados estavam entrando. Vergonha! Mas nós aproveitamos isso e todos pulamos o muro e entramos no salão, intactos, cheirosos e curtímos a noite inteira o baile, cada um com uma paquera. 

Para os “maiões” daquela época, o maior obstáculo era o Regatas (Clube de Regatas Brasil), que promovia as domingueiras, com a participação ativa das turmas do Rex e do Parque. O sacrifício era maior por trás, tendo que subir num poste e alcançar uma das janelas que dava para o primeiro andar, até conseguir chegar embaixo e entrar nos banheiros. Em várias ocasiões, algum “maião” era flagrado e tinha que sair pela frente com o vigia. No Clube Fênix ou pulava-se o muro da frente ou tinha que pular vários das residências da Praça Sinimbu ou Rua da Praia, até chegar ao pátio interno do clube. 


Minha turma, era formada por amigos da mesma faixa etária e filhos de classe média: Sérgio Pimentel (meu parente), Wellington Pedrosa (Leto), Ednaldo Queiroga (Torró) e Marcos Guimarães (Ararão). Éramos inseparáveis. Muitas farras, namoradas, mas sem drogas. Todos moravam no Prado, a duas quadras do mar, o bairro onde vivi a segunda infância, adolescência e parte da fase adulta, como casado. Sérgio, vez por outra, nos vemos, é agrônomo; o mesmo acontece com Marcos Guimarães, que se tornou um grande profissional do rádio; Ednaldo, foi embora para Pernambuco e, perdemos o contato e meu amigo Leto, morreu aos 38 anos. Era dentista. Todos tinham a mesma idade, os mesmos gostos e a mesma ânsia de viver feliz. 

 Estudávamos, íamos à praia (quando as aulas eram a tarde). Mas vez por outra farreávamos. Durante um bom tempo nossa programação em noite de lua era uma serenata no sítio de coqueiros a beira-mar do Sobral. Aí entrava a turma de garotas: as irmãs Lúcia e Márcia Pimentel, Vera Mascarenhas, Ceiça Torres e ainda: Eclivan, Fernando. O violonista era o irmão de meu amigo Torró, que depois se tornou famoso, como cantor e músico. Era só cantoria e cachaça. Nada de namoro. Também íamos a cinema e aos domingos, a missa na capela da Santa Casa (eu e Sérgio, os únicos realmente católicos, por índole). Até os 12 anos, ia à missa na matriz de Nossa Senhora das Graças, na Levada, com meu pai. Depois, visitar nosso tio Otoniel Pimentel, que morava num bangalô bem próximo a Igreja. Adorava brincar com os jogos do primo Wellington e, claro o lanche sempre gostoso. 

Já mais crescido na faixa dos 16 anos, levava minhas primas e amigas delas, mais velhas aos bailes. Elas não podiam ir sozinhas. Tinha que ter um homem de lado. Só que eu era um “pirralho”, medroso. Se tivesse alguma briga por perto, corria e elas que me acompanhassem.  Todo o percurso de ida e volta era feito a pé. Certo baile na Portuguesa (Centro), na volta, passando pela Praça da Faculdade de Medicina, já bem próximo a minha casa, um negrão com uma faca na cintura, aproxima-se e pede-me fósforo. Estava com a caixa na mão. Disse que não tinha e ele insistiu, aproximando-se. Não contei conversa: corri em disparada e elas atrás com os sapatos nas mãos. Grande companhia! Essa turma de moças era formada por Maria Ilza, Betânia, Socorro (Pimentel) e mais Jucedi e Gilda, amigas delas. O baile foi inesquecível, com um show de Jerry Adriani, grande sucesso. Betânia conseguiu aproximar-se dele e tacou-lhe um beijo na boca. Era uma bela morena e excelente dançarina, amante da música e sempre sorridente, feliz.Uma das primas que mais considero.  



Meu Ginasial


Foram poucas as oportunidades que tive de estudar em escola particular. Só a primeira, em Viçosa, onde fiz o jardim infantil. Depois, tinha que ser mesmo em escola pública, que funcionava muito bem: O Grupo Escolar 13 de Outubro, onde fiz o pré-primário aos 7 anos de idade. Já em Maceió, vez por outra perdia o ano e meu pai era obrigado a pagar uma particular com mais chance de ser aprovado. Iniciei no Educandário Nossa Senhora das Graças (particular), na primeira série do primário, seguindo para o Grupo Escolar Dr. José Maria Correia das Neves (público estadual), que ficava na mesma rua em que morava. Repeti de série e segui para o Externato João Pessoa (particular), também no mesmo bairro, para concluir o primário no Grupo Escolar D. Pedro II (Estado), na Praça Deodoro, no Centro, atual Academia Alagoana de Letras. 

Tarefa difícil foi passar no exame de admissão, uma espécie de vestibular para entrar no ginasial. Fiz esse exame em vários ginásios, sem sucesso. Cheguei a fazer a quinta série, que era como se fosse um cursinho. Consegui passar no Colégio Santa Cruz (particular), que funcionava no período noturno, no Pedro II. Já estava com 14 anos, quando na verdade, deveria ter terminado o ginásio. Repeti de ano na segunda, no Colégio Élio Lemos (CNEC), que era um dos mais bem preparados até mesmo no científico. 

Foi exatamente aos 18 anos, quando fazia a quarta série ginasial (atrasadíssimo) e era líder da turma e presidente do grêmio estudantil, que aconteceu um episódio marcante. Havia conseguido organizar a excursão para Aracaju, com o transporte pago pela Prefeitura, dei meu nome e ao receber o cheque ele colocaram nominal a José Jair Barbosa Pimentel, como sempre utilizava, eliminando o Santos. Nunca tinha recebido cheque e, ao chegar ao banco, o dinheiro não saiu. Tive que voltar a Prefeitura, provocando mais burocracia, mas irritação dos colegas, que me chamavam de irresponsável e, ainda cancelar a excursão que já estava marcada. Só uma semana depois é que tudo foi resolvido e seguimos viagem, com hospedagem numa escola de treinamento. Visitamos os pontos principais da capital sergipana, clubes, boates, praias, etc. 

Mas, para piorar a situação depois de toda essa trabalheira, ao receber o resultado das provas finais, fui reprovado. Não havia festa de formatura naquela época e, não esperava por essa decepção, embora pouco estudava, preocupado apenas com o grêmio e a excursão. Mas consegui fazer uma segunda época no Ginásio dos Ferroviários, estudei mais e passei. Assim, conclui o ginasial. 

Mas o colégio da minha vida (o científico) foi o Colégio Estadual de Alagoas (Lyceu Alagoano), que funcionava no Centro, onde é hoje a Secretaria de Educação do Estado. Lá preparava realmente para o vestibular, com excelentes professores, laboratórios de química, física e biologia, ginásio de esportes e as turmas eram dividas por área de preparação para o vestibular a partir do segundo ano. Assim, fiquei na turma de Direito (área de Humanas). No primeiro ano, perdi, porque casei e tive que trabalhar. 

Estudar no Estadual (antigo Liceu Alagoanao e Moreira e Silva (também do Estado), era uma disputa acirrada por vaga. Só entrava mesmo quem tinha competência ou algum apadrinhamento político. Lá, estudavam os jovens da classe média e até alguns ricos, mais interessados em entrar na Universidade Federal de Alagoas. Era a época do “excedentes”, vestibulandos que conseguiam aprovação, mas não existiam vagas suficientes. Começaram também os cursinhos pré-vestibular. O Alagoano, foi o primeiro.

A boa curtição da turma do Estadual, era logo depois da aula de sábado (uma revisão da semana), ir para o Cinema São Luiz, na Rua do Comércio, que tinha sua sessão matinal, sempre com excelentes filmes. A maioria era de estudantes, que pagava meia entrada com sua carteira da Uesa (União dos Estudantes Secundários de Alagoas).  Depois do filme, começava-se a gastar o dinheiro da mesada com um chopinho ou mesmo um sorvete na Gut-Gut. Vez por outra, corria-se logo para casa, vestir a sunga e, se esbaldar na praia da Avenida. 

Hora de recreio no Estadual, lanche para alguns e cigarro para minha turma. Nunca lanchávamos, deixava-se sempre o dinheiro para a farra de fim de semana e comprar Continental, o cigarro preferido da rapaziada. Algumas meninas também fumavam. Mas também aproveitava em algumas oportunidades para ir à biblioteca, ler bons livros, que as vezes levava para casa emprestado, devolvendo na semana seguinte.

  
Os filmes da minha vida

Aprendi a gostar de cinema, ainda na primeira infância em Viçosa. Meu pai, sempre procurou dar-me uma boa formação cultural, incentivando a leitura e, claro o cinema. Assim, íamos  assistir aos filmes infantis no Cine Aliança, exibidos nas tardes de domingo. Em Maceió, já mais crescido, aos 8 anos, quando a família fixou-se na capital para sempre, assistia a filmes nos seguintes cinemas: Colonial, Ideal, Lux e já na adolescência, o São Luiz, além do Rex (Pajuçara) e Plaza (Poço). 

Priorizava os filmes de aventura (western, guerras, policiais), além dos românticos. Listei vários que lembro muito bem:
- Rio Bravo, com John Wayne.
- Sete Homens e um Destino, com Charles Bronson.
- Bullit, com Jackeline Bisset, Robert Duvall e Steve McQueen.
- Rebeldes Sem Causa, com James Dean, assistido no São Luiz, na década de 1960.
- O Rebelde, com Steve Mcquee, Mitch Vogel, Robert Crosse).
- A Dama e o Vagabundo,  com Clyde Geronimi, Wilfred Jackson, Hamilton Luske. 
- A Felicidade Não Se Compra, com James Stewart, Donna Reed, Lionel Barruymore.
- Horizonte Perdido (EUA), com Ronald Colman, Jane Wyatt, San Jaffe). Inesquecível
- Os Amantes do Perigo, com Robert Redford, Gene Hackman, Camilla Sparv.
- O Rei e Eu, com Yul Brynner, Deborah Kerr e Rita Moreno.
- A Noviça Rebelde, com Julie Andrews, Christopher Plummer, Peggy Wood).
- Casablanca, com Humprhey Bogart e Ingrid Bergman, inesquecível.

Adorava os filmes produzidos em Hollywodd (Metro-Goldwyn-Mayer, Colúmbia, Paramount), França e Itália. Mas também gostava dos brasileiros. As belas atrizes das décadas de 1940/50: Elisabeth Taylor, Marylin Monroe, Julie Andrews, Jane Fonda, Gina Lolobrigida, Cláudia Cardinalle, Sofia Loren, Ava Gardner Grace Kally, Brigite Barddot, Dorys Day, Danielle Darrieux, Betty Hutton, Ingrid Bergman e tantas outras. Quantos sonhos eróticos tinha com essas belas mulheres, sempre com suas fotos pregadas na parede do meu quarto de adolescente. 

Inesquecíveis foram os filmes com os mais famosos atores: Dean Martin, Kirk Douglas, Burt Lancaster, Larry Hagman, Fernando Lamas, Cary Grant, Robert Redford, Paul Newman e ainda os filmes dos Beatles e Elvis Presley, além de Frank Sinatra. Clássicos como O Mágico de Oz, A Volta ao Mundo em 80 Dias, Ben Hur, Os Brutos Também Amam, Horizonte Perdido, Lawrence da Arábia, Sindicato de Ladrões, Quem É Meu amor? Dr. Jivago e tantos outros. 

E mais: os românticos assistidos no Cine Godoi (Viçosa) e São Luiz: Candelabro Italiano, Dio Come Ti Amo, Romeu e Julieta, A Bela da Tarde, E o Vento Levou. E já casado em Maceió: Irmão Sol, Irmão Lua, O Destino do Posêidon, Inferno na Torre, Terremoto, Tubarão. Também assistia aos nacionais, como o Pagador de Promessas e os de comédia com Oscarito e Grande Otelo.   





O prazer de ler

O livro descreve-se como um conjunto de folhas de papel com formato peculiar, as quais são escritas sobre determinado assunto, e sequenciadas em páginas, conforme o desenvolvimento do conteúdo textual. Atende a um modelo tradicional. Tem importância fundamental na sociedade civilizada. Voltaire já dizia: “Os livros governam o mundo”

A matéria, conforme o caso, é distribuída em partes, e estas em capítulos dedicados aos sub-temas. Por fim, a relação das fontes bibliográficas que serviram, e consulta na elaboração do texto. Ao texto, elaborado pelo autor ou autores, antecede o prefácio escrito pelos mesmos ou por um apresentador, que diz da razão do livro; e a introdução, que prepara o leitor para a natureza da obra, sem objetivo, finalidade e limites. 

O livro é instrumento fundamental da civilização, visando a aprendizagem escolar, a intelectualização individual sem compromisso, e o lazer saudável no silêncio da solidão. É pois veículo de comunicação de importância, influindo na formação da consciência individual, através do aprimoramento dos sentimentos, do estímulo a imaginação, e, sobretudo, das novas idéias no processo de formação da intelectualidade. 

Escrever é fruto da leitura. A compreensão disso, explica o fato com que todos os educadores concordam: os bons escritores são leitores compulsivos. O ato de ler proporciona a força e o poder para se expressar por meio do exercício da escrita e, além disso, amplia a capacidade de percepeção da realidade. A consiciência do que se passa ao nosso redor tem seu início nas primeiras páginas de um bom livro. A construção pessoal dos sentidos do mundo passa pelas lições dadas pelas palavras. 

Meu avô paterno José Victal, era assinante da revista O Cruzeiro, a de maior circulação no país nas décadas de 1930/40 e 50. Era mensal e ele comprava na livraria de Viçosa, enquanto o Jornal de Alagoas, lia todos os dias, como assinante, e que chegava no trem que saia de Maceió. Tinha o hábito de ler alto e explicar aos filhos tudo que estava acontecendo no Brasil e no mundo. Assim ele adotou uma maneira inteligente e cidadã: reunia a matutada no alpendre da casa grande e lia a revista, mostrava as fotos. Eram verdadeiras aulas de cidadania num lugar distante dos grandes centros urbanos, com todos praticamente analfabetos, mas que acompanhavam os principais acontecimentos políticos, sociais e econômicos do Brasil e do Mundo. Também tinha um rádio a bateria, presente de seu filho que morava no Rio de Janeiro. Era o único, e assim sua casa se tornou o centro de todas as atenções na comunidade. Os filhos foram criados  gostando de ler, escrever e de música. Ele também era teatrólogo, organizando ao lado da esposa Maria de Lourdes Pimentel, peças de teatro onde eram protagonistas. 

Aprendi a gostar de livros exatamente porque sempre tive eles ao meu alcance em minha própria casa. Meu pai, além de gostar de ler, era jornalista, poeta e músico. Lia meus livros didáticos e ele sempre comprava gibis, que foram dando-me a oportunidade de gostar cada vez mais de ler e escrever. A coleção O Mundo da Criança, que ganhei dele aos 10 anos, lia e relia sempre e, está intacta em minha biblioteca, numa mini-estante onde guardo ainda outros livros e objetos de infância, como a camisa de meu batizado e muitas fotos.A primeira edição da Enciclopéida Barsa, ele comprou e ainda tenho em minha bibioteca como uma relíquia. 

Esse prazer de ler, que aprendi com meus antepassados, passei  para meus filhos e hoje para minha neta. Nada mais prazeroso do que ler, virar a página, sentir-se naquela época, naquele cenário, vibrar, se emocionar e chegar até a chorar com as histórias fantásticas dos escritores mais famosos do mundo. Por isso, sigo o pensamento de Matias Aires: “Os meus livros me acompanham fielmente; deles não me aparto. Eles foram meus mestres e continuam sendo”. Hoje tenho uma biblioteca com quase 3 mil livros dos mais variados temas, todos catalogados e distribuídos por temas em estantes de madeira-de-lei, antigas e envidraçadas. É o meu mundo. Um sonho que tinha desde a adolescência, conquistado ao chegar a aposentadoria depois dos 50. 

Mas o primeiro romance que li, foi aos 13 anos: As Sandálias do Pescador, de Morris West, escritor australiano, que se tornou um dos meus preferidos, hoje tenho todos os seus livros, num total de 20. Também lia clássicos da literatura francesa, inglesa, italiana, russa, norte-americana e latino-americana, além de revistas sobre cultura, que comprava nas bancas. Nos colégios por onde passei, sempre encontrava um tempinho para dirigir-me a biblioteca e, conseguia livros emprestados para ler em casa. Tinha ainda a Biblioteca Pública de Alagoas, onde li bons livros e fazia consultas para trabalhados escolares. 

Li ainda na adolescência, já no final do ginasial, O Capital, de Karl Marx (extremamente filosófico), mas que tinha muito interesse em conhecer. Adquiri um exemplar na livraria e comecei a ler, só terminando mesmo na fase adulta, já como estudante de Economia. Continua muito bem guardado na estante destinada aos temas econômicos.



Gosto pela escrita


Assim como aprendi a gostar de ler desde a infância, o mesmo ocorreu com a escrita. Adorava escrever, resumindo o que lia. Assim meu pai ensinava-me e, foi com esse ensinamento que jamais deixei de escrever, primeiro nos cadernos escolares mesmo e uns que existiam, próprios para escrever cartas. Aos 14 anos, ele matriculou-me num curso de datilografia, teve diploma e festa de formatura. Foi a partir daí que comecei a escrever artigos para o Jornal de Hoje, onde ele era articulista e colunista, hábito que já trouxe de Viçosa, quando escrevia em jornais e revistas.

Os jovens de hoje escrevem demais, mas lêem pouco. Através da Internet, a garotada troca correspondência com pessoas de todo o mundo. O fascínio tecnológico pela computação, atingiu o jovem para a arte da escrita. Se os jovens escrevem com mais frequência e fervor, eles seriam mais preparados do que a juventude de épocas passadas, como a minha? a resposta é óbvia: não. A distinção está em num detalhe que faz a diferença: a garotada escreve demais, mas lê pouco, bem menos do que deveria para uma escita organizada e inteligente. O único compromisso deles é com a comunicação instantânea, sem  com a correção e a importância da palavra. Assim, quando enfrentam uma prova de redação no vestibular, a nota é zero. Tem que ser na caneta e não na tecla do computador!

Escrevia cartas para meu tio Jaime, no Rio de Janeiro, outro guru da minha vida. Suas cartas eram verdadeiras aulas de civismo, ética,ortografia, literatura e história. Ele era formado em Filosofia e Economia. Sempre foi professor e executivo. Suas férias anuais eram passadas aqui em sua terra, primeiro sozinho e depois casado e com dois filhos menores. Guardei suas cartas por muitos anos. Deveria ter preservado tudo para hoje fazer parte de meu Gabinete de Leitura e Pesquisa. 

Na adolescência escrevia para minhas namoradas do interior. Tinha até algumas de cidades mais distantes que conhecia através de paquera, alguns encontros na capital e depois, mantinha essa correspondência pelo Correio. Aquelas da região do Vale do Paraíba, por onde o trem passava, meu “pombo correio” era o primo João Neto, que morava em minha casa, estudando o científico no Colégio Estadual. Todos os sábados ele viajava de trem para Paulo Jacinto, onde residiam seus pais. E era o encarregado de entregar cartas as namoradas. Na volta, trazia as respostas. 

Foi com esse hábito de escrever, que ingressei no jornalismo, não parando mais. Mesmo quando casado, necessitando de trabalhar para ganhar o suficiente ao sustento da família, produzia jornais nas empresas onde trabalhava e sempre escrevia artigos nos jornais diários. Adorava as aulas de Redação e fui destaque nos textos que os professores pediam. No ginasial e científico, ajudava os colegas a produzir textos. E assim continuei até a maturidade.



Um hotel da família

Minha casa, desde Viçosa, sempre se constituiu no hotel da família. Naquela época (início da década de 1950), a cidade era o centro educacional mais importante do Vale do Paraiba (continua sendo) e as moças e rapazes Barbosa e Pimentel, viviam nos engenhos e fazendas, precisando estudar na cidade. A casa de Joel e Leonilda era o "porto seguro". Eram hóspedes fixos estudantes e os ocasionais que chegavam para ir a médicos,dentistas, bancos, participar das festas de final de ano, do padroeiro, dos bailes no Clube dos Diários e da emancipação política em 13 de outubro, assistir filmes no Cine Aliança, ou ainda  fazer compras  na Loja do Povo,a maior da cidade. 

A casa da Praça Izidro Vasconcelos, era "uma festa" com moças bonitas e alegres normalistas (da Escola Normal) ou do Ginásio de Assembléia. Minha mãe se desdobrava nos afazeres domésticos, com ajuda de empregadas, enquanto meu pai trabalhava como escriturário do Departamento Nacional de Endemias Rurais - Dneru, do Ministério da Saúde, além de participar do movimento cultural da cidade, como jornalista, poeta e violonista. A casa tinha luz elétrica, fogão inglês, radiola (rádio e passa disco), geladeira a gás (já que a luz elétrica era só durante a noite) e toda infraestrutura de conforto, com sala ampla, três quartos, sala de jantar, copa, cozinha, banheiro e quintal. 

Aos sábados (dia de feira livre semanal) era a vez de meu avô paterno que vinha do antigo Engenho Bananal para abastecer sua residência e ainda as compras para a Mercearia São José. Uma alegria,porque sempre ganhava presente comprado na Loja do Povo. Também chegavam outros da família para o almoço. Os mais jovens ficavam para o final de semana, sempre participando de bailes, cinema,além de peças teatro, festas de rua e a paquera na Praça Apolinário Rebelo. 

No dia a dia após as aulas, eram só lindas normalistas filhas de tio Otoniel Pimentel e Nini Murta Pimentel, moravam na Fazenda São Luiz: Lígia,Norma,Kátia e Socorro. E ainda: Denise, Delba, Dilma e Dinalva, filhas de tia Carminha Pimentel e Luiz Eduardo Godoy, do Waterllo. Minhas tias Jabete e Bernadete Pimentel, eram outras presenças marcantes. E tinha ainda as amigas de minha mãe: Marly Madeiros, Marlene Aragão, Maria do Carmo, Maria Brandão, Carminha Torres e outras.


Existiam os hóspedes fixos, que ocupavam o quarto especificamente preparado para eles e os que pernoitavam. O primeiro desses foi meu tio Cante, no início de sua adolescência. Minha tia Lourdes Barbosa, de Paulo Jacinto. Depois, a prima Dilma Pimentel Godoy, que estudava no Ginásio de Assembléia e a prima Gema Galgani Pimentel Vasconcelos (da Fazenda Santa Luzia) e o primo Eronildo Barbosa Ribeiro, sobrinho de minha mãe, que estudava no Ginásio de Assembléia. 

Mas com a transferência de meu pai para a sede regional do Dneru, em Maceió, o "hotel" se expandiu. Os estudantes Barbosa e Pimentel precisavam cursar a faculdade e os pais viviam no interior. Não tinha escapatória! E haja mais despesas e ter que destinar mais quartos para os hóspedes fixos e temporários. A casa de Viçosa foi vendida e com o dinheiro e mais herança de minha mãe na Fazenda Macuca e seu gado, construiu-se a casa da Rua Tamandaré, 150, no Prado, com duas salas, quatro quartos, dependência de empregada, quintal, banheiro interno, copa, cozinha, área de serviços e quintal. 

Por essa casa, passaram por ordem de chegada: a sempre fiel escudeira de minha mãe, tia Lourdes Barbosa; o primo Edvardo Barbosa Ribeiro, afilhado de meus pais e que terminou o curso científico, passou no concurso da Petrobras, aposentou-se e se transformou em fazendeiro; João Barbosa Neto, também estudando o cientifico, entrando na Universidade Federal de Alagoas, se formando em Economia, passando no concurso de fiscal de rendas, ingressando na política, como deputado estadual por três legislaturas, presidente da Assembléia Legislativa e governador interino; Maria Ilza Pimentel Barbosa, que ingressou na universidade, concluindo o curso de Pedagogia; Maria Célia Vital e Elísio Carlos de Vasconcelos Santos, sobrinhos de meu pai.


Meus pais deixaram esse exemplo de perfeitos anfitriões e que em muito, ajudaram a formar verdadeiros cidadãos, a maioria chegando a universidade.E não era só hospedar parentes e amigos do interior. Ele conseguia médicos, dentistas, matrícula escolar, empregos e sempre orientando para o futuro, com um só fóco: a formação escolar, principalmente a universitária. A nossa casa sempre tinha livros, jornais, música e ele um exímio violonista. Meus pais viveram intensamente um grande amor, com ele dedicando poesias apaixonadas e músicas até 55 anos. Morreu aos 77 anos e ela continua viva aos 89 anos, vivendo com a filha caçula no antigo Engenho Bananal, em Viçosa, onde iniciou seu casamento em 1945.


                         

                         PARTE II


Paulo Jacinto - Sua História


Chamava-se Lourenço de Cima, o povoado criado pelo meu tetravô Antonio de Souza Barbosa, paraibano de Campina Grande (PB), que migrou na década de 1830 para o Vale do Paraiba do Meio na então Província de Alagoas, comprando uma grande extensão de terras, construindo a casa grande, uma capela em madeira e telha, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, sua protetora. Já existia na redondeza, a Fazenda São Lourenço, de Lourenço Veiga Lima, assim como outras propriedades de familias tradicionais da então Vila de Assembléia(Viçosa): Tenório, Albuququerque, Carneiro da Cunha, Vieira, Martins, Vital, Passos, Vilela, Brandão, Teixeira de Vasconcellos, Teixeira Cavalcante, Holanda e outras.Todo esse mundaréu de terras, incluia os atuais municípios de Quebrangulo, Mar Vermelho, Paulo Jacinto, Chã Preta, Pindoba, pertencentes a Viçosa, que foi emancipada de Atalaia em 1831. Portanto antes dessa data, tudo e mais ainda Palmeira dos Indios, Cajueiro e Capela, era Atalaia, criada nos últimos anos do século XVIII.

Mas um povoado só surge mesmo,quando as terras de algum latifundiário é doada ao patrimônio da Igreja que ele próprio construiu Assim foi com o Povoado Lourenço, como Riacho do Meio, depois Assembléia e Viçosa; Chã Preta e a própria capital da Província, Maceió, que começou com um Engenho, a casa grande e a capela, depois transformado em povoado, através de doação da parte central ao patrimônio de São Gonçalo do Aramante, através do senhor de engenho Apolinário Fernandes Padilha, na segunda metade do século XVIII.O povoado fundado por Antonio de Souza Barbosa, ficou como Lourenço de Cima, para não haver dúvidas sobre o outro, que era São Lourenço e nunca foi povoado. As casas foram surgindo com novos moradores, plantando lavouras e a primeira "Bodega" pertencia a José Carolino, o pioneiro no comércio do povoado.  

No relatório do vigário da Freguesia, em 1835, publicado no livro Viçosa de Alagoas, consta a capela de Nossa Senhora da Conceição, como construida pelo paraibano, já bem estruturada com altar, paramentos diversos para as celebrações e uma comunidade formada em volta dela,com casas de moradores e uma mercearia, formando-se um verdadeiro povoado, que percencia a Assembléia. Toda extensão as margens do rio, a partir da casa grande e da capela até a atual Rua Floriano Peixoto (Rua do Comércio) foi doada pelo proprietário ao patrimônio de Nossa Senhora da Conceição, atraindo muitos forasteiros, que construiram suas casas e trabalhavam na agricultura. 

O casal Antonio de Souza Barbosa e Maria Inês Lopes Delgado Barbosa, teve um filho apenas: João Lopes Delgado Barbosa,nascido na década de 1820, em Campina Grande e que casou com Isabel de Sant'Ana Barbosa. Ele aparece no relatório dos engenhos de Alagoas de 1859, como proprietário do Engenho Olhos D'àgua.Outros paraibanos foram chegando ao novo "eldorado" de Alagoas, entre a Mata e o Agreste, terra propícia para a cultura da cana de açúcar e algodão. Assim chegaram os casais José e Ana Barbosa da Silva (sem nenhum parentesco) com o fundador, era da cidade de Galante. De Campina Grande, também chegaram os irmãos Antonio e José Amâncio, já casados. De Garanhuns, chegou José Duda Calado, de Palmeira dos Indios, Pedro Jorge Oliveira e Maria Cândida Costa de Aguiar Barbosa,de Pernambuco, que casou com Josino de Souza Barbosa.  

A partir da década de 1870, com a criação da vila de Quebrangulo, desmembrada de Assembléia, o Povoado Lourenço ficou pertencendo a ela, embora toda a margem esquerda do rio Paraiba ficasse coui a anterior, como continua. A ponte do Riacho Cavaco, já na área urbana, pertence até hoje a Viçosa (antiga Assembléia). Novos engenhos foram surgindo já na fase republicana, assim como indústrias de descaroçar algodão, as principais fontes de renda da população. O comércio fluiu e em 1811, foi inaugurada a estação ferroviária, já com o nome de Paulo Jacinto,homenagem ao fazendeiro Paulo Jacinto Tenório, que doou parte de suas terras a Rede Ferroviária, que tinha como ponto final a cidade de Quebrangulo. Em 1825, o povoado passou a ser vila.´(No Império, Vila era o mesmo que município/cidade da fase republicana). Vila e Povoado, continuam sendo denominados, mas ligados diretamente ao município.  

Só a partir de 1911, quando a companhia ferroviária construiu sua estação no então povoado Lourenço para ir em frente e terminar em Quebrangulo, foi que o progresso chegou definitivamente ao futuro município, que só conseguiu mesmo sua emancipação em 1953, já com o nome de Paulo Jacinto, homenageando Paulo Jacinto Tenório, Barão de Palmeira dos Indios e que doou parte de suas terras para a construção da estrada de ferro.  O algodão, lavoura em franca expansão na região, gerou a indústria de beneficiamento, que transportava toda produção para as fábricas de tecidos, através do trem. A maior delas ficava na Fazenda Barro Preto, de Ursino Delgado de Souza Barbosa, neto do fundador e considerado o homem mais rico da região. 

Á década de 1920, também foi de avanço na economia, com o algodão, cana de açúcar e outras lavouras. Em 1925, atingiu o status de Vila,integrada ao município de Quebrangulo. Atual Rua Floriano Peixoto, centralizava o comércio,com lojas dos mais variados ramos, enquanto seus proprietários viviam com a familia no mesmo imóvel ou vizinho. As casas tipicamente residenciais, seguiam o estilo arquitetônico da época. Nenhuma delas existe mais. 

Nos anos 30, a então vila de Paulo Jacinto já tinha sua indústria de beneficiamento de algodão, de propriedade de João Duda Callado. E duas décadas depois, surge a Algodoeira Lajense, que funcionou por mais de 30 anos, levando o progresso ao município. A crise da indústria têxtil atingiu a todos. As fábricas de Rio Largo,Pilar, Penedo e Maceió, foram desativadas, permanecendo apenas as de São Miguel dos Campos, Fernão Velho e Delmiro Gouveia.Hoje só funciona a última, que se constitui numa das mais modernas do País, pertencente ao Grupo Carlos Lyra, o mesmo que criou o Algodoeira Lajense. O algodão foi subistuido pelo capim para a engorda do gado,desempregando milhares de trabalhadores.

Finalmente, em 2 de dezembro de 1953, o então governador,Arnon de Mello, assinou o decreto de emancipação política da Vila de Paulo Jacinto, se separando definitividamente de Quebrangulo. Um dia de festa para toda a população, que depois, em agradecimento construiu a Praça Arnon de Mello,em frente a estação ferroviária. Daí em diante foi só progresso, que infelizmente parou 30 anos depois com a desativação da rede ferroviária, a indústria de beneficiamento de algodão e a substituição pelo capim para a engorda do gado e o enriquecimento dos pecuaristas. 




Os primeiros doutores

Paulo Jacinto, desde o século XIX possuia suas escolas isoladas, exclusivamente para alfabetização. A dificuldade era imensa para se dar uma educação de qualidade e de nível superior aos seus filhos,mesmo para os fazendeiros e senhores de engenho. Só existiam faculdades no Recife e Salvador. Em Maceió, a primeira fundada foi de Direito, na década de 1930. Medicina, só a partir da década de 1950. 

Mas Viçosa já se projetava como importante centro cultural desde a segunda metade do século XIX. No seguinte,possuia o Ginásio Viçosense,em regime de internato e na década de 1930,foi fundada a Escola Normal, para formação de professoras.Para lá seguiram algumas moças paulojacintenses, que viviam em pensões ou os pais alugando casas. O transporte era só o trem e não dava para ir e voltar no mesmo dia. Os filhos de ricos, estudavam em Maceió: Colégio Diocesano (rapazes), Sacramento, São José e Bom Conselho (moças), Colégio Santa Sofia (moças) e Diocesano (rapazes), em Garanhuns) e ainda os Colégios Salesiano, Marista e Nóbrega, das Damas (Recife). Era preciso muito dinheiro para bancar as despesas, principalmente porque as familias eram nomerosas.

No final da década de 1950, a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) fundou o Ginásio Antonio Farias, homenagem ao pai do então arcebispo de Maceió, Dom Ranulfo Farias, que não conheciam Paulo Jacinto, uma homenagem que poderia ter sido prestada a um filho da terra. Funcionou por mais de 30 anos quando a mantenedora faliu e a Prefeitura assumiu, trocando o nome para Ginásio Antonio de Souza Barbosa, o fundador do povoado, hoje é Escola Municipal com o mesmo nome. Existe escola já de nível médio,primeiro com curso pedagógico e atualmente científico.  

Somente a partir da década de 1950 apareceram os primeiros doutores paulojacintenses: os irmãos Luiz Duda Barbosa Callado, Oswaldo Barbosa Callado e Hélio Barbosa Callado (médicos), o primeiro formado na Faculdade de Medicina da Bahia e os dois na Faculdade de Medicina de Alagoas.Os pais já residiam em Maceió desde 1935. Na Faculdade de Medicina de Recife, a dra. Maria Barbosa Barros.Teve ainda um descendente de Lourenço Veiga Lima,  o dr. Judá Fernandes Lima, formado na Faculdade de Medicina de Alagoas, em 1960.  E a partir dessa fase foram se formando advogados, agrônomos, engenheiros, médicos, dentistas, professores universitários, economistas, jornalistas e outros graduados. Todos nascidos a partir da década de 1940. Na minha fase de adolescente (década de 1960), eram esses que existiam e nasceram na década de 1920. 


                     
As meninas de "PJ"

Desde que comecei a freqüentar Paulo Jacinto no início de minha adolescência, sentia-me paulojacintense. Afinal é a terra de minha mãe e, onde vivia sua família. Adaptei-me aos costumes locais, fiz amigos, geralmente parentes e tinha meus primos legítimos, filhos de um tio e uma tia, lá residentes. Já bebia e fumava, aos 13 anos de idade. Tomava banho de rio, ajudava meus primos a prender os bezerros na fazenda de seu pai, bem próxima à cidade, paquerava, namorava, participava de grandes farras e ainda iniciei-me no sexo com uma prostituta desdentada, terrível! Mas era a única que satisfazia os adolescentes.

As "Meninas de PJ" eram lindas, charmosas, andavam sempre "na moda" de minisaia e exibiam todo o charme nos assaltos dançantes, baile e festas de rua. Algumas já não eram mais adolescentes, mas estavam solteiras, namorando com os rapazes de sua idade,também estudantes universitários na capital, como elas e nas férias, voltavam para o aconchego do lar e da cidade tão querida. As da minha faixa etária (adolscentes no tempo do jovem guarda) imitavam as "garotas papo firme", alusão a Wanderléa, Martinha, Rosemary, Vanusa e outrs cantoras. 

Que saudade das irmãs Holanda Barbosa (Ivonete, Tereza, Estela, Fátima e Maria José), das Veigas (Mabel, Meibel, Maria Júlia, Marúcia e Magaly), das Torres Barbosa (Luiza, Lucia e Fátima), das Brandão (Ia, Graça, Valda, Basta e Maria José),Maria Telma, Vera e Lúcia Alves Costa,Mércia Barros, Socorro Rocha, Socorro Ribeiro Callado, as Porangaba (Socorro e Lúcia), das Albuquerque (Tânia, Telma,Lúcia de Fátima), as Souza Holanda (Maria José, Josefa Maria e Nadege), das Barbosa Teixeira (Maria Júlia, Josefa, Graça, Augusta), das Canuto de Andrade (Rejane e Gorete), as Teixeira Cavalcante (Leopoldina, Suely e Gorete), as Aguiar Barbosa (Salete, Gorete e Fátima), as Aguiar Ribeiro (Socorro e Auta Maria), Aguiar Barros (Fátima, Elisabeth e Luiza), Aguiar Vitório (Melânia e Margarida),Ana Maria Barros,Maria Cícera Neto, Selma Assunção,Selma Bezerra, Cí Canuto, Maria José Gomes, Maria José Calheiros, Célia e Selma Carnaúba, Maria Carnaúba, Penha César,Vera Moreira ,Gorete Gomes, Graça Correia, Graça Barros Passos, Cicinha Ramires,Socorro Lopes,Delma Carnaúba, Magnólia Barbosa, Ana Virgínia Barros. Tive algumas namoradas fixas e ainda as turistas que chegavam para o Baile da Chita, Carnaval, Micareme, Baile da Primavera. 

Muitas dessas "meninas de PJ" estudavam no Ginásio Antonio Farias, enquanto as mais velhas, já no científico ou pedagógico, viviam estudando em Viçosa, Palmeira dos Índios ou Maceió, e só retornavam nas férias ou quando tinha algum baile. Estavam sempre na moda, usando mini-saia, perfumadas e lindas. E como rapaz da capital, freqüentador de clubes e boates, levava a moda para aquela cidade. Dançar solto, jamais. Tinha que ser “guinchando” mesmo, pernas e rostos colados, vez por outra uma “lambida” no ouvido”. 

Antes do Baile da Chita, existia até mesmo “ensaio” de como se lançaria alguma novidade nos passos da dança. Esses encontros eram os próprios assaltos dançantes nas residências. Para a rapaziada, complicava mais a dança do “guincho” devido a não existir na época as atuais cuecas justas, de malha. Eram os “cuecões” de tecido, que preocupava a todos, devido ao “volume” que crescia. Quem já era adepto da calça jeans colada, como eu, não tinha muita dificuldade. E  sempre saia do salão antes da música parar, disfarçando, para que ninguém notasse que estava excitado. Um mais prevenido, chegava até mesmo a amarrar o “pinto” com cordão numa das pernas, dentro da cueca, para que nada fosse notado. Só quem sentia mesmo a sensação era a parceira na dança.

No dia do baile, era só animação, expectativa com a chegada do trem e os visitantes que enchiam as casas, já que, para o único hotel da cidade, geralmente seguiam os integrantes da orquestra ou algum aventureiro que queria curtir a festa e não conhecia ninguém para ficar hospedado na casa. O clube era decorado com chita, colorindo o ambiente e, a partir das 22 horas começavam a chegar os festeiros. Todas as mesas eram ocupadas e tinha ainda os individuais. A orquestra abria o baile com a música: Rosinha de Própria, tradição do primeiro, que foi realizado em 1952. Geralmente era algum “cantor” da cidade que fazia essa abertura. No meio da festa, a eleição da “Rainha da Chita”, escolhida entre as beldades presentes, e que no final, com coroa e faixa, liderava a moçada para sempre com alguns músicos, terminar a farra em sua casa. 

O Baile da Chita foi criado em 1952, através de dona Zefinha Barbosa Barros, mãe da famosa cantora Leureny. Foi dela a idéia de deixar como marca o tecido mais usado na época junina (a chita) e a música tema, de autoria de Luiz Gonzaga, que até hoje é entoada no início e no final do baile. O objetivo era angariar fundos para a campanha em prol a emancipação política da então vila que pertencia ao município de Quebrangulo. E foi um sucesso de público e animação. Um ano após, em 2 de dezembro de 1953, Paulo Jacinto tornou-se município, através de decreto assinado pelo governador Arnon de Mello. Já tinha toda a infra-estrutura para crescer mais ainda. 

O carnaval era um dos mais animados do Vale do Paraíba. Começava mesmo no revéillon, seguindo em janeiro com um “grito de carnaval”, culminando com a festa propriamente dita, do sábado de Zé Pereira até a manhã da quarta-feira de cinzas. Eram organizados blocos com fantasias iguais, entre as diversas turmas da cidade, que davam mais colorido ao salão e animava mais a festa que só terminava com o sol nascendo. No último dia, ao som de “Ah, Quarta-Feira Ingrata”, tinha o desfile da Rainha do Carnaval” até sua residência. 

O último carnaval que passei em solteiro, foi o de 1968, exatamente na época da novela O Direito de Nascer, a turma organizou um bloco de rua, com os rapazes vestidos de mulher e as moças com roupas masculinas. Tinha o casal de noivos, faixas, cartazes e muita animação, com a saída do casarão da família Holanda Barbosa, na parte alta da cidade, com muitas guloseimas preparada pela dona da casa e, o desfile pela cidade, com parada nas residências das famílias mais abastadas, que já esperava com bebidas e tira-gosto. A cidade parou para ver o bloco passar. Tudo começou às 10 horas da manhã, terminando com o pôr-do-sol, para que todos fossem para casa, tomar um banho e descansar para recomeçar no clube após as 23 horas e até amanhecer o dia. 

No sábado de aleluia, a turma voltava ao Clube Recreativo Paulojacintense, para o Baile de Micareme (frevo e samba), uma réplica do carnaval. Mas a festa só começava mesmo depois da Missa da Aleluia na Matriz. Ordem do Padre Monteiro. A cerimônia era longa e, geralmente pouco assistida pelos jovens, que ficavam nos bares se abastecendo para cair na folia logo depois da meia-noite. Tinha ainda o Baile da Primavera em setembro e o Baile dos Concluintes do Ginásio Antonio Farias, em dezembro. 

Inesquecível foi o Baile de Debutante da linda Margareth Rebelo Passos, em 1968, no Clube Cultural e Recreativo Paujacintense, muito bem deocrado. A aniversariante entrando no salão, já com os 15 pares (eu com Graça Passos) e a valsa entoada por uma excente orquestra. Mordomia total,gratuitamente. Todos vestido a rigor: homens de terno e gravata e as mulheresd de vestido longo. Já tinha participado de vários aniversários de 15 anos tanto em Maceió como em Viçosa. Mas em PJ foi o primeiro e único. Momorável mesmo. 

Ainda em 1968, um grupo de jovens paulojacintenses, participou de uma excursão para a cidade sertaneja de Major Izidoro. Era o time de futebol e alguns folguedos da cidade. Passamos dois dias nessa farra inesquecível. Nem mesmo o jogo assisti, optando mesmo pelos bares da cidade com outros amigos. A noite, um animado baile e, claro, uma nova namorada, linda, morena de cabelos longos, dançando e sarrando a noite inteira. No dia seguinte retornamos e no último sábado do ano, o Baile dos Concluintes, onde antes mesmo, na casa de um dos formandos, numa farra com toda a turma, conheci a mulher que mudou minha vida dois anos depois, com quem vivo há 42 anos. Linda, de trança, que apaixonei-me de imediato e, cantarolava a “Menina de Trança”, de Antonio Marcos, um grande sucesso da época. 

Sem mais os meus tios residindo na cidade (migraram para a capital, para os estudos dos filhos), passei o carnaval de 1969 em Maceió mesmo, com a namorada que tinha. Mas voltei no Baile da Chita. E no ano seguinte, já casado, nunca deixei de passar o carnaval, os bailes tradicionais, hospedando-me na casa dos Amorim Vasconcelos, parentes de minha mulher. Assim fizemos durante toda a década de 1970. Nos anos 80, já não freqüentava mais PJ. Associei-me ao Clube Fênix e o carnaval era sempre lá. Mas o Baile da Chita foi obrigatório e já com meus filhos.

"A rapaziada"

A partir de 1964, quando passei a frequentar Pj nas férias, meus primos legítimos(Barbosa Ribeiro e Aguiar Barbosa) eram solteiros, estudantes do Ginásio Antonio Farias ou na capital. Fui formando minha turma de férias, todos na minha faixa etária. Dos legítimos,apenas João Neto, Afonso Celso, José Ribeiro Filho e Erivaldo. Mas tinham os parentes: Inácio Ribeiro, José Vitório Barros, Basto Calado, Tarciso Barros e os amigos: Bastinho Carnaúba, Gerônimo Barbosa, Heli Brandão Vilela, Domingos Ramires, Abelardo e Luiz Alfredo Cavalcante, Zé de França (Zé Mata Rato),Zé Gomes. 

Mas tinha a rapaziada que não participava de minha turma ou era adulta, os de sinuca, do futebol e voleibol e dos bailes do Clube Recreativo Paulojacintense. Os irmãos Holanda Barbosa (Avelar, Everaldo, Orlando)Barbosa Ribeiro (Eronildo, Edmilson e Edvardo), Vicente Aguiar Ribeiro, Vicente Ribeiro Barros, Neulivan e Normando Vasconcelos, Jorge e Zé Fernandes Holanda,Mauro e Hermes Vilela, Neurivan e Geldevan Gomes,Luizito Rocha, Ze Carlos Barbosa, Fernando Torres, Maélio e Zé Calheiros, Maércio e Murilo Veiga, Laurentino Veiga, Pecinho (do bar),Betinho Souza, Zé Chaves Filho, Adão Moreira, Walter e Nivaldo Barros, Talmany Costa,Geraldo e Edson Costa, Luiz Alfredo Cavalcante, Zé Maria e Cícero Jorge Teixeira Cavalcante e os irmãos: Ademar, Baltazar e Josafá Teixeira Cavalcante.  

Além do próprio clube, a rapaziada e as "meninas de PJ" tinham ainda a disposição, os assaltos dançantes realizados nas residências delas. Isso mais especificamente durante as férias,quando toda a urma se encontrava na cidade. E era o ponto de partida para paquera, namoro e preparativos para os bailes principais. A luz elétrica da Ceal (24 horas) chegou a cidade, exatamente no ano em que comecei a frequentá-la. Antes só funcionava a noite. Melhorou até mesmo a qualidade dos filmes rodados no Cine Floriano. Melhor ainda a Sorveteria e Zé Chaves, a cerveja geladíssima nos bares. Enfim, o progresso! 

Tinha uma radiola portátil, vermelha, que levava para todo canto. Funcionava a pilha ou na eletricidade. E quando ia a Paulo Jacinto, era minha companheira inseparável nas farras feitas no coreto da praça, no armazem da estação, no banho do Cavaco,sempre com discos da Jovem Guarda, dos Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley e outros. Em várias casas das "meninas de PJ" tinha radiola, já que a cidade havia sido beneficiada com a energia elétrica da Chesf. E meus discos se tornaram em uma atração a parte.  



Dia de feira

A feira livre de Paulo Jacinto era realizada aos domingos. Mas no sábado a tarde, os feirantes já começavam a armar suas barracas tomando todo o espaço da Rua Floriano Peixoto e suas praças. Os bois, porcos e carneiros abatidos, chegavam para o corte no Mercado Municipal, que ficava na esquina com a Travessa São Sebastião. A noite a rapaziada se reunia nos bares da rua e na sorveteria para saborear o picolé de biscoito, invenção do seu proprietário, que era o preferido de todos. Mas sempre tinha algum assalto dançante e, a farra varava a madrugada nos bares, para acordar cedo no domingo e ir para a feira. 

Todo o comércio se concentrava na rua da feira (Floriano Peixoto): A Loja Esperança (a maior da cidade) dos irmãos Francisco e José Barbosa Filho; a Graciosa, de dona Maria Luiza Torres Barbosa; as lojas de tecidos de Afonso Rocha, Lino Costa, Eurides Barbosa e Mirian Tenório; o Armazém de José Chaves, vizinho a sua sorveteria; a casa de bugigangas de dona Zefinha Teixeira; armazém de Zuza Buzinho (José Teixeira Cavalcante), a barbearia de “seu” Padilha; a farmácia dos irmãos Edson e Geraldo Costa; a mercearia dos Porangaba; a padaria de Noel Holanda; a sapataria de Severino Brandão,o Cartório de Nisa Costa, bares, mercearias e o Cine Floriano. No centro, praças e o coreto, ponto de encontro da rapaziada para paquerar, ouvir músicas e tomar “pinga” com limão ou caju. Tinham ainda várias residências, como o casarão da família Teixeira Cavalcante (hoje Prefeitura Municipal) e ainda das famílias: Barbosa Calado, Aguiar Vitório, Barros, Barbosa Rocha, Gomes, Ramires, Veiga Rocha, Barros Carvalho, Alves Costa, Souza Holanda, Costa Brandão, Costa Porangaba, Almeida Chaves, entre outras. 

Durante toda a manhã, o serviço de alto-falante PR-VITÓRIA, de “seu” Zé Chaves, tocava músicas, dava recados e ainda tinha um importante serviço de utilidade pública: ele pegava as cartas que chegavam a agência dos Correios cujos destinatários viviam na zona rural e no dia de feira estavam na cidade, e dizia seus nomes para que fossem pegar a correspondência. 

 Na chegada do trem, toda a juventude se concentrava na estação para receber algum amigo ou parente que vinha da capital, ou paquerar quem se dirigia para Quebrangulo, Palmeira dos Índios e outras localidades da linha férrea. Era a sensação, o melhor momento do dia. No verão, o calor forte e o sol brilhando, nada melhor do que cerveja gelada no Bar do Pecinho, em frente à estação, depois todos se dirigiam para casa. Eu, para da minha tia, onde esperava um almoço típico sempre regado a carne guizada, feijão, arroz, farinha. Também tinha galinha à cabidela, carneiro, porco. A “madorna” após o almoço, e depois “rua” novamente, até retornar para o café da noite e namorar na praça. 


Sou "PJ sim senhor!

Cheguei até mesmo a pensar em fazer uma "troca de primos", eu estudar no Ginásio Antonio Farias em Paulo Jacinto e um primo no Estadual ou Moreira e Silva, em Maceió. Loucura de adolescente! Jamais meus pais admitiriam isso. Preferiam mesmo que fosse em férias para lá e o primo ficando em minha casa na capital, estudando e entrando na Universidade.Assim foi feito e foram férias memoráveis que passei naquela cidade do Vale do Paraiba, que no meu tempo tinha até indústria beneficiadora de algodão, a riqueza da região e hoje, possui suas terras ocupados só por capim para  engorda do gado e o enriquecimento dos fazendeiros. 

Mas continua uma cidade linda, arborizada, sua Igreja matriz belíssima, construida no início da década de 1960 com a força e a coragem do então pároco, José Monteiro (infelizmente não lembrado),a estação ferroviária(sem trem), mas com o nome PAULO JACINTHO, a casa grande de Zé Filho (José Barbosa Filho, primo de minha mãe), o casarão dos Teixeira Cavalcante (atual Prefeitura) e a Rua Floriano Peixoto, sem mais a Soreveria de Zé Chaves, a Barbearia do, a Sapataaria de Severino Brandão, o Cartório de Isa Costa e a Padaria de seu Noé! Mas o chão é o mesmo, que foi doado há mais de um século e meio por meu tetravô Antonio de Souza Barbosa ao patrimônio da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que ele construiu um 1835 e deu origem ao povoado, vila e município de Paulo Jacinto.


Em dezembro de 1996, retornei a Paulo Jacinto, para receber o título de Cidadão Honorário outorgado pela Câmara de Vereadores, numa iniciativa do vereador Everaldo Holanda. Agradeci emocionado lembrando minha fase de adolescente naquela cidade e ainda, já casado, retornando sempre em dias de festa. Mas o título foi uma retribuição a tudo que fiz em prol do desenvolvimento do município, divulgando na Imprensa local e até mesmo na nacional, quando na década de 1980, os três Poderes do município eram comandados por mulheres (prefeita, presidenta da câmara e juíza de direito). A notícia correu o país e a TV Globo enviou sua equipe, fazendo uma ampla reportagem no programa Fantástico.

A grande imprensa aproveitou a "pequena" daqui das Alagoas e fez uma manchete nacional. Tanto as revistas como os jornais Folha de São Paulo, Estado de São Paulo, como O Globo e o Jornal do Brasil, fizeram matérias longas sobre esse fato. Cada vez que a equipe  procurava-me na Gazeta para colher informações sobre a minha matéria, inédita no Brasil. Informei tudo e na gravação do Fantástico, da Globo, tudo foi mostrado, afirmando que "na terra de cabra macho, as mulheres dominam e até o homem cai do cavalo", uma imagem memorável do sargento Sócrates caindo do cavalo em plena praça da cidade. 

Nunca cobrei direitos autorais sobre minha matéria e muito menos na divulgação de Paulo Jacinto e Viçosa. Sou um jornalista saudosista, sem nenhuma participação política. Na verdade: "dou a notícia, não sou notícia". E assim pautei minha vida jornalística desde que iniciei ainda na adolescência. Já fui assessor de imprensa, mas de empresas privadas, jamais de deputados, senadores, vereadores, governadores, prefeitos e presidentes. Na verdade, nunca fui funcionário público. Minha aposentadoria é pelo INSS e por tempo de serviços de 35 anos, sempre na iniiativa privada. 

O dia 26 de dezembro de 1996, quando fui receber o honroso título de Cidadão Honorário de Paulo Jacinto, foi um dos momentos mais emocionantes de minha vida. Tudo que fiz na Imprensa pela terra que prestava essa homenagem, era por amor, nada de comprometimento político. Minhas matérias eram sempre levando em conta o aspecto cultural e econômico. E naquele dia, no Clube Cultural e Recreativo, onde passei bons momentos de minha vida, dançando, paquerando, namorando, estava feliz, ao lado de minha mulher, meu filho, minha filha (prestes a dar a luz minha primeira neta) e meu genro. Recebi o título exatamente das mãos de um primo legítimo de minha mãe: José Barbosa Filho, já octagenário e que foi vereador por várias legislaturas. A partir daí, pude dizer com orgulho: Sou PJ sim senhor!

O mesmo aconteceu como Cidadão Honorário de Maceió, através do vereador José Márcio, que considerando tudo que fiz como jornalista e professor pela cidade em que vivo, conseguiu a aprovação unânime de seus companheiros. Uma solenidade simples, com a presença do autor,de slguns companheiros e minha familia. Nada da coquetel e homenagens. Em Viçosa, onde nasci e não posso ser "cidadão honorário", recebi uma monção honrosa, com jornalista divulgado da terra, através do vereador Djalma Leite. 


As ruas de “PJ”

A casa da minha tia Áurea (família Barbosa Ribeiro), toda avarandada, estilo bangalô, ficava no outro lado da ponte sobre o rio Paraiba (Rua Erasmo Porangaba), era uma casa sempre cheia, além dos seis filhos: Eronildo, Edmilson, Edvardo, José Ribeiro Filho, Erivaldo e Eduardo,tinha a parentela e os inúmeros eleitores do meu tio José Ribeiro, que foi vereador por várias legislaturas. Minha tia nunca quis empregada doméstica. Era quem tomava conta de tudo. A despensa abastecida com tudo que se produzia na Fazenda Macuca, antigo engenho do meu avô, que já se transformara numa fazenda de criação de gado e agricultura. Eram quatro quartos, três salas, cozinha, banheiro, despensa e atrás o rio Paraíba do Meio.

 Na mesma rua residiam outros parentes das famílias: Barbosa Teixeira, Aguiar Ribeiro, Barros Oliveira, Aguiar Barros, Medeiros Barros e mais os Mota Carnaúba,César,do militar Socrates  Costa Araújo, os França,Souza, Sebastião Cassiano,Veiga Vasconcelos, Antonio Shel,Ricarte Pereira,o sobrado da família Veiga Lima, já no acesso a estrada de Quebrangulo. Nos fundos da rua, o Estádio Municipal, onde hoje se encontra o Colégio Antonio de Souza Barbosa (justíssima homenagem ao fundador da cidade). Na esquina, ficava a casa dos Aguiar Barros(Benedito Barros e Cristina Aguiar) com mais de 10 filhos.

Uma outra casa familiar, onde passei férias depois da saída de minha tia para a capital, foi dos meus tios Antonio e Janira (família Aguiar Barbosa), na rua Siqueira Campos, por trás da Algodoeira Lagense. Eram oito filhos: João Neto, Afonso Celso, Maria da Salete, Maria Gorete, Maria de Fátima, Álvaro, Rafael e Rinaldo, alguns da minha faixa etária. Existia o relógio carrilhão de meu avô, tocando a cada hora, a comida maravilhosa preparada por minha tia Janira  e ela sempre católica, por índole, que orientava-me  a assistir as missas na matriz. Na mesma rua, residiam outros integrantes da família, como os Aguiar Vitório e Miguel Barbosa. E na Travessa São Sebastião, entre a Siqueira Campos e a Floriano Peixoto, os Vasconcelos Albuquerque, Barbosa Correia, Vieira Aguiar, Cassiano e Firmino, o sobrado e padaria de Noel Holanda e o casarão de Júlio Veiga. 

A Rua Santos Dumont, também conhecida como Rua do Funil, começava na esquina com a Floriano Peixoto, indo até a Praça Souza Barbosa. Tinha os casarões das famílias Calado (José Calado) e Firmino Barbosa, com uma capelinha ao lado o  de Ernestino Veiga “Teco”, além das boas casas dos Costa Vasconcelos,Rocha,Freitas, Assunção, a Maternidade Marina Lamenha e a Cadeia Pública.  

A Rua João Pessoa, cortava a linha férrea, margeando ainda a Praça Arnon de Mello. Lá residiam as famílias Bezerra, Albuquerque Barros (José Aurino Barros, o primeiro prefeito), Aguiar Vitório, Barbosa Barros, Canuto de Andrade, Calheiros Costa, a Prefeitura Municipal (hoje Câmara de Vereadores), no alto, o Grupo Escolar 2 de dezembro e em frente a estação, o Bar do Pecinho, ponto de encontro da rapaziada para bebericar e jogar sinuca. Na residência da estação, a familia Cavalcante Lima (casal Alfredo e Dalva), ele chefe da estação com os filhos Luiz Alfredo, Abelardo, Dalva Denise e Simone Renise. Os demais eram crianças. Tinha ainda a Algodoeira Lajense e o bangalô do gerente geral, Alonso Andrade com sua esposa, dona Luiza e as filhas Rejane e Gorete, além do Clube Cultural Recreativo Paulojacintense, antes o sobrado e mercearia da família Costa Calheiros, as residências de José Carlos Barbosa (gerente da Ceal), Antonio Lisboa e outras. Margeando a linha férrea, o casarão no alto da família Holanda Barbosa (José Barbosa Filho e Sebastiana de Holanda Barbosa), casa belíssima, avarandada, muito verde por todos os lados, dez filhos: na parte baixa, uma pequena rua que abrigava as casas das famílias Moreira e Amâncio. 

Na Praça da Matriz, os bangalôs tomavam conta de todo o espaço, abrigando as famílias: Torres Barbosa, Veiga, Gomes Barbosa, Brandão Vilela, Feitosa Barbosa,Amorim Vasconcelos, a casa paroquial, o hotel na esquina, a Biblioteca Municipal Souza Barbosa, a casa paroquial e a belíssima  matriz de Nossa Senhora das Graças, construída no início da década de 1960, quando era pároco, o saudoso padre José Monteiro. 

Seguindo em demanda a estrada que dar acesso a Viçosa e Maceió, a Rua São Pedro, a casa e padaria da família Souza Canuto, dos Correia Fontan, do professor Oliveira, dos Amorim e no final o cemitério municipal, seguindo a rua São Francisco e terminando na ponte sobre o riacho Cavaco, que separa os municípios de Paulo Jacinto e Viçosa. 

Mas a principal mesmo era e continua sendo a Rua Floriano Peixoto (Rua do Comércio), com praças arborizadas. Na esquina pelo lado esquerdo, os armazéns de algodão da família Calado, seguindo-se as residências de minhas tias Dondon e Lica Barbosa; de Antonio Vitório (Aguiar Vitório), uma farmácia, mercearias, o Cine Floriano, a loja A Graciosa (familia Torres Barbosa), as residências de Irene Barros,familia Ribeiro Calado, Eurides Barbosa,Zefinha Teixeira, Luiz Gomes, família Ramires, familia Barros de Carvalho, o Mercado de Farinha, a loja e residência de Afonso Rocha, a farmácia dos irmãos Edson e Geraldo Costa, a loja e residência de Lino Costa e o Mercado de Carnes, na esquina com a Travessa São Sebastião. 

Do lado direito, inicia-se com a mercearia da familia Bispo, seguindo a  farmácia de Mário Lima, um armazém, a casa de Joaquim Borba; A loja Esperança, a casa de tia Maria Amélia Barbosa; o casarão da família Teixeira Cavalcante (atual Prefeitura Municipal) um bar com sinuca; a barbearia de “seu” Padilha, sempre um bom papo; a mercearia de  dona Zefinha Teixeira; residência, armazém de ferragens e a sorveteria (inesquecível o sorvete de biscoito) de “seu” Zé Chaves; a loja de Mirian Tenório e sua residência ao lado; mercearia da família Costa Porangaba, com sobrado; a loja de Eurides Barbosa; o armazém de José Teixeira Cavalcante (Zuza Buzinho), com residência; mais mercearias e a Sapataria de Severino Brandão, com residência anexa; o cartório de Nisa Costa e na esquina o sobrado e padaria de Noel Holanda. 

Essas ruas da minha época já eram pavimentadas e iluminadas. A Ceal havia acabado de inaugurar a luz elétrica. E o progresso fluiu mais. Não tinha estrada asfaltada, que só chegou mesmo quando da gestão do governador Theobaldo Barbosa (inicio da década de 1980), grande amigo da cidade. Mas já existia o ônibus da empresa Santa Luzia, fazendo o percurso até a capital. O trem era mesmo o meio de transporte mais eficiente e seguro. 


Hoje a cidade cresceu, existem novas ruas, dos dois lados do rio Paraíba. Apenas algumas homenagens à gente da terra: Erasmo Porangaba, João Cassiano, José Aurino de Barros e Antonio de Souza Barbosa, o fundador da povoação em 1835, tronco da família Barbosa, além de Zefinha Barbosa, com o espaço multieventos.  A Câmara de Vereadores já deveria ter mudado isso. Ao invés de homenagear pessoas que ninguém conhece, as ruas deveriam ser denominados com nomes  dos conterrâneos que já morreram e tanto contribuíram para a terra. Propus isso na Imprensa, mas nunca houve interesse dos políticos locais a seguir o que a maioria das outras cidades fazem: ruas com nomes de conterrâneos importantes. Ainda bem que o antigo Ginásio Antonio Farias, que homenageava o pai do arcebispo de Maceió, dom Ranulfo Farias (que nunca foi à cidade), mudou para Antonio de Souza Barbosa, uma justa homenagem ao fundador da povoação na primeira metade do século XIX. 


A festa da padroeira

Quando comecei a freqüentar Paulo Jacinto, já não existia a antiga matriz,que ficava no início da rua Floriano Peixoto. Foi exatamente na década de 1960 que o pároco local, José Monteiro com a ajuda de toda a comunidade, construiu a bela matriz de Nossa Senhora das Graças, já incorporada a Diocese de Palmeira dos Índios, recém-criada. Uma das mais belas igrejas do Vale do Paraíba. Lá assistia as missas dominicais e o novenário da padroeira, que eram nove noites de celebrações e na praça em frente, a festa com quermesse, leilão, barracas e parque de diversões. 

A festa da padroeira, iniciava-se em 24 de janeiro indo até 2 de fevereiro,com a missa solene e a procissão pelas ruas da cidade. Era época de minhas férias escolares, claro que nunca perdia uma noite de festa. O serviço de alto falante transmitia recados de paquera. E foi através desse serviço de som, que consegui minha primeira namorada da cidade, uma moreninha linda, charmosa, cheirosa, sempre impecável no vestir e amante da música da Jovem Guarda. Tudo nela combinava comigo. E assim, namoramos, sem que ela soubesse que também tinha namoradas em Viçosa e Maceió. Quando estava na capital escrevia cartas e, só nos encontrávamos mesmo nas férias. 

Mas mesmo durante a festa, ainda tinham os assaltos dançantes, logo depois que terminava a novena, a turma se reunia para dançar em alguma casa, seja nas da própria Praça da Matriz ou em outras. O bom mesmo era dançar coladinho, paquerar, namorar. Se a namorada não comparecia, dançava com outras, claro. E nesses encontros sempre lançava “moda” de Maceió, sempre “guinchando”, a moda da capital, que era dançar colado, entre coxas, uma masturbação disfarçada, mesmo com a vigilância de alguns donos da casa mais radicais. 

O padre Monteiro, muito severo e extremamente contrário aos avanços da juventude dos anos 60, proibia qualquer tipo de exagero, seja em bebedeira, namoros na porta da Igreja e até mesmo autorizou o fechamento da única “zona” que existia na cidade. Mas as putas conseguiam dobra-lo, levando os machos para suas próprias casas. 

Nos dias de festa, as garotas se produziam mesmo. Jamais repetindo a mesma roupa do dia anterior. Queriam aparecer na praça, lindas e perfumadas. E a mini-saia era o auge. Para o desgosto do padre e das beatas! A rapaziada era calça comprida, pois short só para jogar futebol ou voleibol. A sandália japonesa só surgiu mesmo depois e, também ninguém usava muito a noite. Era sapato mesmo ou bota de cano curto, a moda da Jovem Guarda. 

Como em todas as cidades brasileiras, o dia da padroe era feriado municipal. Logo pela manhã, tinha a missa solene, com a Igreja sempre lotada e a emoção de homenagear Nossa Senhora das Graças, os hinos belíssimos, tradicionais e o que mais se esperava: a procissão a tarde, com a imagem da padroeira em seu andor florido, percorrendo as ruas da cidade.  

Uma festa que marcou o ano de 1968, foi dos 15 anos da linda Margareth Rebelo Passos, filha do fazendeiro Gilvan Passos. Inesquecível! O Clube Recreativo todo decorado, uma excelente orquestra, os 15 pares (eu participei) para a valsa e a entrada triunfal da aniversariante, belíssima em seu vestido branco. Foi uma novidade naquela época. A cidade nunca tinha assistido a uma festa de 15 anos no clube. Gilvan e Miriam Rebelo Passos, viviam na Fazenda Aquidaban, próximo a Paulo Jacinto, mas pertencente a Viçosa. A família é viçosense e meus parentes, pelo lado paterno (Vital Passos). 

Quanta saudade desse tempo bom que não volta mais! Claro que as comemorações da nossa padroeira ainda continuam, no mesmo período, mas sem o serviço de alto-falante, sem a quermesse, o leilão, as barraquinhas de guloseimas, os barcos, carrocel, roda gigante. Provavelmente ainda existe o Baile dos Concluintes, mas não mais como no meu tempo. Até porque não é mais ginasial e, sim  ensino médio. Também não existem mais o Baile da Primavera, em setembro e o Micareme, no sábado de aleluia. Mas o carnaval, incrivelmente e desnecessariamente, o prefeito resolveu realizar uma semana após. Exatamente no período da Quaresma. Isso porque não existe mais o Padre Monteiro. Ele jamais admitiria essa afronta a Igreja católica!



Banho de rio

Minha paixão por “PJ” era tanta, que nem sentia saudade do mar de Maceió, somente freqüentado durante o período escolar. Adorava banho de rio. E nem havia a preocupação com o tal xistose, o mesmo que esquistossomose. A doença deve o nome ao causador – o verme Schistosoma, provavelmente originário do Egito, tendo sido sua presença detectada até mesmo nas múmias dos faraós. 

O verme de aloja preferencialmente em caramujos de água doce – mais freqüentes nas águas estagnadas ou semi-estaques do rio Paraíba-do-Meio, durante o verão e em seus riachos contribuintes. Ele se abriga no organismo humano, provocando-lhe distúrbios hepáticos e intestinais e, vezes muitas, levando o indivíduo a morte.Na década de 1950, o médico sanitarista viçosense José Pimentel de Amorim (primo de meu pai), surpreendeu o Brasil ao descobrir a cura da esquistossomose, lançando no mercado um remédio que logo foi absorvido pela população ribeirinha.  

Mas os jovens daquela época, não se preocupavam com isso e,  se banhavam livremente no Paraíba e no Cavaco, seu afluente. Eram manhãs de plena felicidade. A rapaziada levava cachaça para melhorar o ambiente e ficar mais afoitos, vendo os belos corpos das meninas. Algumas exibiam sumários biquines, enquanto outras mais recantadas, usavam maiôs. O importante era ver todas aquelas beldades semi-nuas. Quando não agüentavam mais, corriam para uma “moita” e se masturbavam ao vivo. Delícia! 

O rio Paraíba nas férias de verão, tinha suas águas mais limpas. Um local preferido pela juventude era o chamado “sabonete” do outro lado da ponte, próximo à curva que o rio faz para entrar na cidade. Não era tão poluído, já que ainda não tinha entrado na área urbana, onde as casas despejavam seus esgotos. Dava para nadar e aproveitar ao máximo os momentos de descontração com toda a turma reunida. 

O riacho Cavaco, ficava mais distante da cidade, mas dava para ir a pé. O local tinha espaço para um banho delicioso, muito verde ao lado, com os esconderijos para a masturbação e, ainda local para o verdadeiro pique-nique, com cachaça e tira-gosto. Algumas vezes levava minha radiola portátil e a música invadia o ambiente. Tinha até dança mesmo. 

Considerado o segundo maior rio em extensão de Alagoas (depois do São Francisco), o rio Paraíba do Meio da sua nascente em Bom Conselho (PE) até a foz na lagoa Manguaba (Pilar), tem 30 léguas de curso, banhando os municípios alagoanos de Quebrangulo, Paulo Jacinto, Viçosa, Cajueiro, Capela, Atalaia e chegando ao Pilar, onde forma a Lagoa Manguaba.  Toda sua poluição é causada pela falta de saneamento das cidades por onde passa, com todos os dejetos jogados em suas águas. E isso continua, claro. Não só ele, como os demais rios que só provocam tragédia.


O meu Baile da Chita

Não poderia deixar de lembrar o meu Baile da Chita da adolescência (1964/69) e a partir daí, já casado, mas jamais deixando de participar da maior festa da cidade. Foi o meu primeiro baile de salão, aos 13 anos de idade, mas já com aspecto de "rapaz" e o mais importante: "um pé de valsa", sabia dançar qualquer tipo de música desde a primeira infância, nascido que fui numa terra festeira:Viçosa e tendo em casa radiola, violão, acordeon, pandeiro. Meu pai, um boêmio por natureza, tocava divinamente violão e tinha excelentes discos.

Foi exatamente em julho de 1964 quando passava as férias escolares na casa de minha tia Áurea Barbosa Ribeiro, que aconteceu o Baile da Chita no Clube Cultural e Recreativo, exigindo-se terno e gravata para homens. Era uma orquestra famosa de outro Estado e só entra mesmo os sócios, seus dependentes e convidados. Claro que fui com toda primarada e já com a namorada que havia conseguido nos assaltos dançantes das residências, uma prática muito utilizada naquela época. Uma noite memorável, que iniciou-me mesmo no mundo da badalação noturna.

A diretoria do clube atendia sempre aos apelos das "meninas de PJ" e a "rapaziada"  e contratava um conjunto específico para o "Chitinha" que era realizado no dia seguinte (domingo), exclusivamente para os que residiam na cidade e os de fora como eu. Uma ressaca prazerosa! Nesse baile  era só minisaia, calça jeans e músicas da Jovem Guarda. Muitos namoros iniciado na noite anterior, continuava no "Chitinha". Mas se a namorada não fosse, tinha que conseguir outra, preferencialmente alguma "turista" que no outro dia ia embora. 

Lembro dos diretores do clube dessa fase da Jovem Guarda: Eutrópio Vilela, Joaquim Cassiano, Afonso Rocha,Jarbas Rocha,Newton Vasconcelos,Edvardo Ribeiro, Correia Fontan e outros, sempre rigorosos no acesso, além de manter a ordem para evitar brigas, que sempre existiam entre as turmas de rapazes da cidade e de Viçosa, só que apaziguadas facilmente. Uma grande familia! O que queriam mesmo era diversão, com responsabilidade. Jamais participei de alguma briga, exatamente porque minha meta era beber e namorar. Afinal era o tempo de "Paz e Amor". 

No dia do baile toda juventude se reunia na estação a espera do trem que chegava de Maceió e outras cidades com os visitantes. A maioria se hospedava em casa de familia. A Prefeitura antecipava a feira do domingo para o sábado, exatamente para que todos abastecessem a despensa. O único hotel da cidade também servia para alguns turistas e principalmente os integrantes da orquestra. Era o início da grande farra no Bar do Pecinho, na praça e nas casas. A expectativa da chegada da noite e do som da orquestra tocando Rosinha de Propriá. Pura emoção!

Assim foi até o Baile da Chita de 1969, quando meus tios não mais residiam lá e fui com dois amigos de Maceió para a casa de um parente, com namorada de Viçosa e sem ficar mais para o "Chitinha". Foi o último, como solteiro. No ano seguinte, já fui casado e para a casa de parentes de minha mulher. Mas com a mesma animação, que perdurou até a década de 1990. 

Desde que ingressei no jornalismo e até hoje, a cada mês de julho no dia do baile, sai uma matéria que produzo no jornal onde trabalho.É uma paixão que faço questão de cumprir todos os anos. A última foi destaque de uma página no caderno B de O Jornal, louvando os 60 anos do Baile da Chita. Mas há mais de 10 anos não participo. Fico só na saudade. 


O Engenho Macuca

Os descendentes do primeiro senhor de engenho de Paulo Jacinto, João Lopes Delgado Barbosa, tinham seus engenhos de menor porte, produzindo açúcar, mel e rapadura. O do meu avô Janjão Barbosa, casado com uma neta do pioneiro,  chamava-se Macuca, alusão ao riacho que cortava a propriedade, mas que também era um pássaro da Amazônia, que aqui é conhecido como Nambu. Ele e seu concunhado João Duda Calado,adquiram o engenho que já era de herança do pioneiro e deram o nome de Nova União. Depois meu avô comprou a outra parte e ficou sozinho comandando tudo, com a ajuda dos filhos adolescentes e seus trabalhadores.Voltou a ser Engenho Macuca 

A casa grande tinha três janelas de frente e um portão com a varanda e jardim. Ampla sala de visita, quatro quartos, sala de jantar, quarto dos santos (para as orações diárias), cozinha e amplo pomar próximo ao riacho. Depois era o engenho movido a tração animal, com quatro bois que foram "batizados" de: Azulão, Moreno, Natureza, Cadeado. A produção era para o consumo da familia e vendida no comércio do vila. Também plantava lavouras de subsistência e criava gado. 

Poucos anos depois de adquirir o Engenho Macuca, meu avô ficou viúvo. Sua amada Maria, morreu logo após dar a luz a flha Maria de Lourdes, a oitava da prole. Viveram apenas 13 anos de um amor intenso.Ele nunca quis casar e criou os filhos com a ajuda da mãe e da sogra. Jamais admitia festas na casa grande. Trabalhava incansavelmente para garantir uma boa qualidade de vida para a familia. Mas não teve condições financeiras para manter os filhos estudando na capital. Todos foram alfabetizados por uma prima sua: a professora Joaquina Catarina, formadora de várias gerações. 

Extremamente ético, amigos de ricos e pobres, passava todos esses ensinamentos aos filhos, que foram crescendo sempre com muito amor, respeito e responsabilidade. Morreu em 1945,com a filha mais nova aos 18 anos de idade. O primogênito José, já casado, assim como as filhas Áurea, Maria e Leonilda. Deixou seis netos crianças. Foi sepultado no mausoléu que havia construído para sua esposa em 1927, no cemitério particular do Engenho São Sebastião dos seus cunhados: Josina Barbosa Barros e Francisco Barros. 

Com sua morte, as terras foram divididas e adquiridas depois pelo genro José Ribeiro, transformando tudo numa fazenda de criação de gado, hoje pertencente ao neto Edvardo Barbosa Ribeiro. Das casas grandes daquela época, a única que continua preservada é a do antigo Engenho São Sebastião, com sua capela e cemitério, pertencente ao casal Hélio Barbosa Callado e Dercy Barros Callado. 


Árvore genealógica


Desde a infância, gosto de conversar com os mais velhos, interessado que sempre fui em genealogia (ciência que estuda a origem da familia). Do lado paterno, consegui tudo, desde a Idade Média, na Peninsula Ibérica (Espanha e Portugal) onde a familia surgiu no século XIII, através de Vasco Pimentel, Conde de Benavente e passando para o Brasil na segunda metade do século XVI, com o português Antonio de Barros Pimentel, meu nono avô. 

A familia Barbosa, originária da Quinta do Barbosa, em Portugal, surgiu na Idade Média, constando de brasão e outras honrarias. Mas foi extinta no século XVI, quando o último dos descendentes do fundador Sancho Barbosa faleceu,sem deixar descendentes. E a partir daí o sobrenome se popularizou como os: Silva, Santos, Souza, Ferreira,Pereira, Nascimento, Oliveira, Gomes, Lima e outros, tão comuns naquele País e depois no Brasil. Muitos índios brasileiros,que se tornavam cristãos, recebiam esses sobrenomes. E ainda após a escravidão, os negros também seguiram o mesmo critério. 

 O escritor, principalmente em se tratando de genealogia, só deve trabalhar e passar para a posteridade o que realmente for oficial, com nome, sobrenome, data de nascimento. Existiam muitos casamentos entre primos e até sobrinhos. Sobrenomes de irmãos diferenciados, criação de sobrenomes nativos, substituindo o original português. Enfim, uma verdadeira colcha de retalhos, que se deve ir juntando cada pedaço para formar a árvore genealógica.  

Antonio de Souza Barbosa e Maria Inês Lopes Delgado Barbosa, tiveram apenas um filho: João Lopes Delgado de Souza Barbosa, casado com Isabel Santana Delgado. Ele consta como proprietário do Engenho Olho D'Água, na relação dos engenhos de Alagoas, situado na Vila de Assembléia, em 1859. É portanto o primeiro engenho daquela região(hoje Paulo Jacinto), que difundiu o plantio da cana já na região do Agreste. O casal teve quatro filhos:

1. - Ursino Delgado de Souza Barbosa, nascido em 1850 e falecido em 1955, com 105 anos de idade, casado com Henriqueta Amâncio Barbosa, de Campina Grande(PB). Meus bisavós.

2. - Josino Delgado de Souza Barbosa, casado com Maria Cândida Costa de Aguiar Barbosa, de Pernambuco. Pais de:
- João Aguiar Barbosa (João Batinga), casado com Oriana Vieira Aguiar, com geração.
-  José Aguiar Barbosa, casado com sua sobrinha Auta Aguiar Barbosa. Com geração. 
-  Luiza Aguiar Vitório, casada com Antonio Vitório.Com geração. 
-  Etelvina Aguiar Amâncio,casada com Permínio Amâncio. Com geração.
-  Maria Madalena Aguiar Barros, casada com João Barros. com geração.
-  Severina Aguiar Barbosa, solteira.
-  Francelina Aguiar Barbosa, solteira.

3.  - João Lopes Delgado Barbosa Filho, casado com Maria Amâncio  Barbosa "Ti", com geração.Uma filha casou com o fazendeiro João de Deus, de Correntes (PE),pais de Enaura.  
4.   - Menandes Delgado de Souza Barbosa, que foi viver na Argentina e não deu mais notícias. Provavelmente deixou geração. 
5.  - Irina Delgado de Souza Barbosa Calado, casada com João Duda Callado, de Garanhuns (PE).Pais de:
-  João Duda Callado Filho, casado com sua prima Isaura Barbosa Callado. Com geração.
-   José Duda Callado, casado com Joaquina Barros Callado, pais de Benedito, Cosme e Damião. 
-    Maria Duda Callado Taveira, casada com Antonio Amâncio Taveira. Com geração. 
-     Josefa Duda Callado Taveira, casada com Pedro Amâncio Taveira. Com geração. 
-    Joaquina Duda Callado Silva, casada com Manoel Silva (Garanhuns), pais de Ricardo, João, Manoel e Severino.   
-  
6. - Iria Delgado de Souza Barbosa Oliveira, casada com Pedro Jorge Oliveira, de Palmeira dos Índios.Pais de:
-  Maria Barbosa de Oliveira, casada com Antonio Miguel. Com geração. 
-  Maria Santina de Oliveira, casada com João Miguel, com geração. Avós do advogado e ex-deputado federal José de Oliveira Costa. 
-  Maria Domícia (Dona),casada com Antonio Caxeiro. Pais de Lourival, Joana, Júlia, e Maria José (Zezé). 

Na terceira geração, já os bisnetos do pioneiro Antonio de Souza Barbosa e Maria Inês Delgado Barbosa, entra outras familias como os Barros, Taveira, Ribeiro, Feitosa, Vitório. O lado Barbosa de meu avô João Barbosa da Silva (Janjão) também vem da Paraiba, mas da cidade de Galante, que não é o mesmo do fundador. Seus pais eram José e Ana Barbosa da Silva. 


O meu lado
                                    Fazenda São Sebastião    


Ursino de Souza Barbosa herdou do pai João Lopes Delgado de Souza Barbosa, a Fazenda Barro Preto, uma imensidão de terras agricultáveis, onde "em se plantando tudo dava". Optou pelo algodão, lavoura que se projetava como a segunda mais importante da então província de Alagoas, na segunda metade do século XIX. Construiu a casa grande e um descaroçador de algodão, levando toda produção para a fábrica de tecidos de Fernão Velho, depois já para as de beneficiamento do produto em Viçosa. Enriqueceu, tornando-se o mais rico da região, um verdaeiro capitalista, maximizando os lucros e minimizando os custos. Também plantava lavouras de subsistência como feijão, milho, mandioca e criava gado. 

O casal Ursino e Henriqueta, tiveram quatro filhas e viveram uma eternidade. Ele até os 105 anos e ela aos 100, já morando em Maceió e sendo sepultados no mausoléu que foi construido no Cemitério Nossa Senhora dos Prazeres. Sua descendência:

Filhas:

1. MARIA DE SOUZA BARBOSA, carinhosamente chamada "DÔCA". Minha avó materna, casada com o paraibano de Galante, João Barbosa da Silva "Janjão". 

2.- ISAURA BARBOSA CALLADO, casada com seu primo, filho da tia Irina: JOÃO DUDA CALLADO.

3.- JOSINA BARBOSA BARBOSA BARROS, casada com FRANCISCO BARROS SOBRINHO, de Quebrangulo. Engenho São Sebastião, atual Fazenda.

4. - BENEDITA BARBOSA DE SOUZA, solteira. 

Netos:

- Filhos de DÔCA e Janjão: 




1. - JOSÉ BARBOSA, casado com MARIA JOSÉ CALADO BARBOSA "Zezé", sua prima, residindo na Fazenda Camaratuba, Paulo Jacinto e São Paulo. Filhos: Manoel Marcos, Francisco e Maria Thereza. 

2. - ANTONIO BARBOSA, casado com sua prima Janira de Aguiar Barbosa.Filhos: João Barbosa Neto,Maria da Salete, Afonso Celso, Maria Gorete, Maria de Fátima, Álvaro, Rafael e Rinaldo. 

3. - VICENTE BARBOSA, casado com Ilca Pimentel Barbosa,de Viçosa. Filhos: Maria Ilza, Maria do Socorro, Vicente Cláudio, Maria Aparecida, Maria Ismênia, Fernando, João Manoel, Alexandre e Rosângela.

4. - ALIPIO BARBOSA, casado com sua prima Eunice de Aguiar Barbosa. Filhos: Rejane Maria, Alípio Jorge, Oriano Marcos, Rogério e Sérgio.  

5. - AUREA BARBOSA RIBEIRO, casada com José Ribeiro. Filhos: Eronildo, Edmilson,Edvardo, José Filho, Erivaldo, Eduardo. 

6.-  MARIA BARBOSA COSTA, casada com Manoel de Barros Costa.(Quebrangulo). Filhos: João Costa Neto (Janjão), Jeferson Luiz, Fernando José, Jeovani, Gilberto, Maria das Graças e Evandro.

7. - LEONILDA BARBOSA DE SOUZA SANTOS, casada com Joel Victal Pimentel Santos, de Viçosa. Filhos: José Jair, José Cícero e Vitória de Fátima.

8.  - MARIA DE LOURDES BARBOSA DE SOUZA. Mãe adotiva de Rúbia Régia.

Filhos de Isaura Barbosa Callado e João Duda Callado:

1. - JOSÉ DUDA BARBOSA CALLADO, casado comsua prima Joaquina Barbosa Callado. Filhos; João Duda Callado Neto, Isaura Maria, Joaquim e Ricardo. 

2. - LUIZ DUDA BARBOSA CALLADO, casado com Auriete Lages Callado. Filhos: João Aurélio e Nidiana. 

3. - ERCILIO BARBOSA CALLADO, casado em primeiras núpcias com Ivonete Oliveira Callado, uma filha: Cristina e em segundas núpcias com Dirce Barros Callado. Sem filhos. 

4. - OSWALDO BARBOSA CALLADO, casado com Marlene Barros Callado. Uma filha: Viviane.

5. -  HÉLIO BARBOSA CALLADO, casado com sua prima Derci Barros Callado. Filhos: Hélio Filho, Silvana, Luiz, Suzana, Francisco e Célio. 

6. - HILDA BARBOSA CALLADO AGUIAR, casada com seu primo Josias Aguiar Barbosa. Um filho: Guilherme. 

7. - MARIA BARBOSA CALLADO MOREIRA, casada com Joaquim Barros Moreira. Sem filhos. 

Filhas de Josina Barbosa Barros e Francisco Barros Sobrinho. 

1. - MARIA BARROS GALINDO, casada com JOÃO GALINDO. Uma filha:
 Enedina. 

2. - DERCI BARROS CALADO, casada com seu primo HELIO BARBOSA CALLADO. Filhos já citados.

3. - DILMA BARBOSA BARROS, solteira.

Em julho de 2012,dessa geração,continuam vivos: MARIA,LEONILDA, HILDA, OSWALDO, HÉLIO, MARIA BARROS, DERCI, DILMA. São mais de 50 bisnetos de Ursino e Henriqueta,além de dezenas de trinetos, tetranetos e já pentanetos. Só MARIA BARBOSA COSTA "MARIIQUINHA", aos 92 anos e bastante lúcida, possui 22 bisnetos.  

Meus bisavós José e Ana Barbosa da Silva, tiveram os seguintes filhos; 

1. - João Barbosa da Silva (Janjão), meu bisavó,com sua descendência já citada. 
2. - José Barbosa da Silva Filho (Zezinho), casado com Maria Amélia Amâncio Barbosa, irmã de minha bisavó Henriqueta. Pais de: José Barbosa Filho, casado com Sebastiana Holanda Barbosa; Francisco Barbosa, casado com Maria Luiza Torres Barbosa; Alzira Barbosa Barros, casada com Crispim Barros e Eulina Barbosa Calado, casada com o primo Joaquim Barbosa Calado (Joaquim Borba). Os demais filhos, não consegui o nome próprio, apenas apelidos: Quinca (que deveria ser Joaquim).Iaiá, casada com José Barbosa (irmão de Firmino Barbosa), pais de Sebastião Barbosa;Mocinha, mãe de Joaquina Catarina, a professora), Ioiô. 

Minha bisavó Henriqueta, filha de Antonio Amâncio e Maria Felícia, também da Paraiba, tiveram além de minha avó Maria Barbosa e Maria Amélia, os seguintes filhos:Corbiano,Getúlio,  Joventina mãe de José Correia, casado com Otília Ribeiro), Sidronia, Severina,Marica (mãe de Antonio Feitosa) Lica e Dondon.Uma delas é mãe de Inácia, que gerou Carlos, Maria Amâncio, casada com Antonio Feitosa, pais de Bento, Hidelbranda e Márcia, nascidos em Lagoa do Ouro (PE).

Tentei por todos os meios possíveis documentos como batistérios, registros de nascimento e óbitos, mas não consegui. Os que citei quando do início da povoação, constam do livro Viçosa de Alagoas, do historiador Alfredo Brandão,publicado em 1914. Paulo Jacinto fazia parte deste município, até a criação de Quebrangulo na década de 1870. Mesmo assim, citei na genealogia os apelidos, que na verdade se incorporaram ao próprio nome dessas pessoas. Mas a minha genealogia propriamente dita, partindo de Antonio de Souza Barbosa, é correta e sem apelidos. Fica assim memorizado esse trabalho de pesquisa que pode ser ampliado por qualquer outro descendente desses pioneiros paulojacintenses.



 Fazenda não é povoado!

Os documentos oficiais do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, da freguesia da vila de Assembléia, do livro Viçosa de Alagoas e ainda das enciclopédias dos municípios alagoanos, comprovam: Paulo Jacinto foi fundado pelo paraibano Antonio de Souza Barbosa, na década de 1820, quando doou parte de sua propriedade ao patrimônio de Nossa Senhora da Conceição, cuja capela ele construiu. Denominou de Lourenço de Cima, para não confundir com a Fazenda São Lourenço, de Lourenço Sucupira Veiga Lima, que existia nas proximidades. 
Assim, desmitifica-se a versão de alguns integrantes da família Veiga, que dizem ter sido o seu ancestral o fundador do povoado. Toda aquela área, inclusive Quebrangulo, pertencia a Vila (município atual) de Assembléia, depois Viçosa, até a década de 1870, quando Quebrangulo desvinculou-se e também se transformou em Vila.  Antes dessas duas vilas, tudo pertencia a Atalaia, até que em 13 de outubro de 1831,oentão presidente da Província de Alagoas, decretou a emancipação política de Assembléia, constando dos povoados Lourenço (fundado por Antonio de Souza Barbosa), Passagem (atual Quebrangulo), Limoeiro e Sabalangá. 
Depois de doar parte de sua propriedade ao patrimônio da Igreja que construiu e ver o povoado florescendo, Antonio de Souza Barbosa, comprou uma grande extensão de terras batizando de Barro Preto, Ferrugem, Olho D'Água. E em 1859, seu filho João Lopes Delgado Barbosa, consta como proprietário do Engenho Olho D'Água, na relação dos engenhos da Vila de Assembléia (Livro Viçosa de Alagoas, de Alfredo Brandão, 1914). 
Na criação da Vila de Paulo Jacinto,  nome é em homenagem ao fazendeiro Paulo Jacinto Tenório, o Barão de Palmeira dos Índios,por ter dado parte de suas terras para a construção da estrada de ferro, muitos moradores se revoltaram, alegando que a mudança deveria ser para o fundador do povoado, que gerou a Vila: Souza Barbosa. Mas esse nome ficou mesmo memorizado logo depois da emancipação política em 1953, com a Praça Souza Barbosa, o Jardim Infantil Souza Barbosa, a Biblioteca Souza Barbosa e atualmente a Escola Municipal Souza Barbosa. 
Nada na cidade lembra Lourenço Veiga. Mas a Fazenda São Lourenço existe e continua em poder de seus descendentes, com seu casarão, a bela igreja de São Lourenço, que ele construiu no século XIX. Seu filho José Luiz da Veiga Lima , teve 14 filhos, que hoje formam dezenas de descendentes, muitos ostentando o sobrenome Veiga, com médicos, dentistas, engenheiros, advogados, professores, economistas e outros profissionais de nível superior, espalhados por todo o Brasil. 
Mas escrever um livro afirmando que foi Lourenço Veiga que fundou em 1838 a Vila de Paulo Jacinto, é desmentir a própria história oficial de Alagoas. Todos os documentos indicam o fundador como Antonio de Souza Barbosa, pois fazenda não é povoado!.Até porque fundar uma Vila (atual município) era no Império competência do presidente (governador) da Província e, quando já era um povoado, com uma população residente, comércio, escola. Fazenda, engenho, sítio, pertenciam aos seus proprietários. 

Paulo Jacinto, hoje
Com pouco mais de 7 mil habitantes, o atual município de Paulo Jacinto, é o menor do Vale do Paraiba, perdendo para Quebrangulo, Viçosa, Cajueiro, Capela e Atalaia, por onde o rio passa, até formar a lagoa Manguaba, no Pilar. É também o menor PIB (Produto Interno Bruto), soma de tudo que produziu durante o ano. Fica na região Agreste,limitando-se com Viçosa, Mar Vermelho, Quebrangulo e Palmeira dos Índios. Possui uma área de 108 quilômetros quadrados e dista de Maceió, 104 quilômetros, em rodovia asfaltada. Sua economia é baseada na pecuária, mas também produz: inhame, feijão, milho,mandioca. 
A cidade dispõe de uma mini-agência do Banco do Brasil, um comércio de pequeno porte, feira livre e escolas de níveis fundamental e médio (rede pública municipal e estadual),além de uma maternidade e postos de saúde. A maior parte das famílias, sobrevive dos programas do governo federal (Bolsa Família), além de aposentadorias do INSS e do serviço público. Na área cultural não não possui biblioteca e Casa da Cultura, marco da identidade cultural da cidade, foi fechada há vários anos e o movimento festivo se resume a festas promovidas pela Prefeitura, Vaquejada, festa da padroeira, festas juninas e o tradicional Baile da Chita. 
Assim como boa parte dos municípios alagoanos, sobrevive do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). A parcela do ICMS é mínima, já que o comércio é de pequeno porte. Emprego para os jovens e adultos só através do serviço público ou comércio e prestação de serviços. Os pais de jovens que têm melhor poder aquisitivo, colocam os filhos para estudar em escolas privadas de boa qualidade em Maceió, Viçosa ou Palmeira dos Índios. Sempre foi assim, desde a época de povoado e até o início da década de vila. 
Aos poucos, paulojacintenses já 50tões, 60tões, pensam em viver a aposentadoria lá onde nasceram, construindo suas casas e recordando o passado. Já tem alguns que iniciaram e se sentem felizes. É preciso resgatar essa história e ainda preservar o pouco que existe na arquitetura de mais de 60 anos. É triste ver as casas antigas sendo modernizadas, inclusive na fachada. Pior ainda, fechar a Casa da Cultura e a Biblioteca. Que moradores e seus gestores, sigam o exemplo de Viçosa e Quebrangulo, cidades vizinhas, que preservam seu patrimônio histório. Afinal, Paulo Jacinto tem uma história de mais de 180 anos.





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