sábado, 11 de fevereiro de 2012



" A ÍNDIA ENGAIOLADA"


 

 
















JAIR PIMENTEL


 

Apresentação


Foi preciso a coragem, determinação, intelectualidade, desprovido de qualquer tipo de preconceito, do alagoano Rafael Leite Luna, médico radicado no Rio de Janeiro, em seu livro A Saga e Uma Família, para que essa história arrepiante chegasse ao conhecimento da nova geração de uma familia formada por amor e ódio há quase dois séculos, às margens do rio Paraiba do Meio, atual município de Viçosa. Ele dedicou um capítulo inteiro a sua quinta avó, uma índia da tribo Caambembe, remanescente dos Caetés.

Sabia que descendia dessa índia, mas não as consequências que geraram essa família mameluca (mistura do branco com índio). Meus parentes que escreveram livros sobre a genealogia dos Vital, Passos, Leite, Vilela, Vasconcelos, Pimentel e outras, que nas gerações seguintes se misturaram aos descendentes desse tronco, nunca citaram como tudo transcorreu para existir o casamento entre o português Raimundo Vieira e a índia Caambembe. Rafael foi o primeiro, e graças a ele repasso para aqueles que não tiveram a oportunidade de ler seu livro.

Ele e eu somos pentanetos (quinto neto) desse português e da índia. Descendemos de tal tronco e de uma filha deles, casada com outro português: José Martins Chaves, que depois passou a assinar-se com o sobrenome Martins Ferreira, diante do ódio dos brasileiros por portugueses. O mesmo ocorreu com seu patrício e sogro, que retirou o Vieira e colocou Silva. Ambos sumiram já na terceira geração. Também temos trisavós irmãos: eu, de Quintiliano Victal e Avelino Passos e ele de Quintiliano e Vicente Ferreira Passos. E ainda sou tetraneto de outro irmão: Pedro Manuel dos Passos Vilela, que era pai de Josefa dos Passos Vilela, casada com o tio Avelino de Oliveira Passos. Os irmãos tinham os sobrenomes diferentes, o que era comum no século XIX.

Rafael Leite vai mais além sobre nossos ancestrais, por sempre desconfiar da existência de parentes com a pele muita escura, quase negro. E pesquisou muito para mostrar que ocorreu sim a mistura do branco português com uma negra remanescente do Quilombo dos Palmares que vivia na região de Quebrangulo no século XVIII, cem anos depois da morte de Zumbi. É exatamente os pais do nosso tetravô Manoel Inácio de Oliveira Passos. Uma ascendência igual a da índia Caambembe. Os irmãos Quintiliano e Vicente tinham a pele muito escura, quase negra. O primeiro casou com Izidória, filha do português José Martins Ferreira e o segundo com Josefa Leite, de uma família pernambucana. Desses troncos surgiram muitos descendentes bem morenos, assim como eram nossos avós e primos legítimos: José Victal Santos (meu avô) e Antonio Leite dos Passos (o dele), ambos netos de Quintiliano.

O primeiro livro que lí sobre a nossa família foi O Bananal dos Meus Avós, do monsenhor Cícero Vasconcelos, trineto de Raimundo e bisneto de Manoel Inácio de Oliveira Passos. Foi lançado em 1964, quando eu tinha 14 anos de idade e lí de "um só folêgo". Ele não faz nenhum comentário sobre esses dois fatos, limitando-se a citar que aconteceu apenas um casamento entre um português e uma índia. Nada de mistura com a raça negra. Afinal era "menino de engenho". Puro preconceito!

Sempre fui curioso em saber mais detalhes, perguntando aos mais velhos e todos negavam essa existência, até mesmo aqueles que tinham muitas semelhanças com nossos irmãos africanos. Depois surgiram outros livros que citam a genealogia de autoria de Manuel Brandão Vilela (genealogia das familias viçosenses) monsenhor João Leite Neto, Jayme Victal e José Celso Passos e o meu (Família Pimentel - de Portugal ao Bananal).

Dos notáveis alagoanos que descendem desses troncos, lembro: Dom Avelar Brandão Vilela (Arcebispo Primaz do Brasil), Teotônio Brandão Vilela (senador e escritor), José Aloisio Brandão Vilela (folclorista), Theotônio Vilela Brandão (Théo Brandão, folclorista), Nise da Silveira (psiquiatra), Paulo Gracindo (ator) e Graciliano Ramos (escritor, trineto de Inácio Passos e a escrava descendente dos Palmares, não era do ramo de Viçosa, do português com a índia). O atual governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, (da minha geração e nascido no mesmo ano: 1951) é pentaneto do branco com a índia, exatamente originário das terras que ainda pertencem a sua família, o antigo Engenho Boa Sorte, fundado em 1840 por seu tetravô, coronel José Martins.


 

Amor e ódio


Tudo começou no Povoado Riacho do Meio, próximo a Serra dos Dois Irmãos, atual Viçosa, na segunda década do século XIX, unindo um branco português, já beirando os 30 anos de idade e uma índia adolescente da tribo Caambembe, remanescente dos Caetés. Ele proprietário do Sítio Gurungumba e ela vivendo no meio do mato com seus pais e toda a tribo. Sem mulher branca na redondeza para procriar, só teve um caminho: "engaiolou" a indiazinha, brava, linda, cabelos longos e negros, até que ela entendesse esse seu gesto era para que se transformasse na mãe de seus filhos. E conseguiu, com muita paciência e amor.

A região era reduto tanto dos remanescentes dos Caetés (indios) como dos Palmares (negros). E eles se misturaram em sucessivos casamentos, originando o chamado Cafuso. Eram festeiros, cultivavam a terra plantando lavouras, pescando no rio Paraiba e vivendo em quilombos e aldeias. A presença dos brancos incomodava a todos e estavam sempre fugindo, lembrando de seus antepassados que foram massacrados exatamente pelos portugueses. Ela fugia, mas era apreendida e voltava para sua "gaiola" feita de bambu, mas sempre bem tratada pelo português, que ensinava a sua lingua, alimentava com boa comida e demonstrava ser apaixonado, até que não resistiu e aos 14 anos, tornou-se cristã, recebendo o nome de Maria e casando na Igreja católica, dando-lhe três lindas filhas mamelucas (mistura do branco com o indio).

Em seu livro A Saga de Uma Família, o médico Rafael Leite Luna,faz um relato apaixonante,que a imensa maioria da familia não conhecia. Sempre houve preconceito em meio a chamada aristocracia açucareira alagoana contra índios e negros. Era sua bisavó Maria Arcelina Leite dos Passos (Marica) que contava toda a história, mas nos livros publicados antes sobre a família, os autores eliminavam por puro preconceito racial. Só que existem verdadeiros mamelucos e cafusos entre os descendentes do branco com a india e o branco com a negra.


Uma terra viçosa

Na segunda metade do século XVIII, um padre de Atalaia foi celebrar a Missa de Natal na povoação de Passagem, próximo a atual cidade de Quebrangulo, margeando o rio Paraiba do Meio. Ao chegar ao Riacho do Meio, não conseguiu fazer a travessia e lá mesmo, acompanhando do "coroinha", fizeram uma cruz de madeira ,celebrando a missa e dormindo no local até o dia amanhecer, levando a notícia de que era uma terra viçosa, que poderia ser explorada, já que tudo que pudesse plantar, germinava. Assim surgiu Viçosa, uma das mais importantes cidades de Alagoas, cuja marca dessa descoberta de mais de dois séculos é uma cruz , fincada ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em seu centro histórico.

Foi exatamente pensando em explorar a terra que o agricultor Manoel Francisco deixou Atalaia e chegou ao local indicado pelo padre, construindo sua casa, plantando lavoura e criando seus filhos. Na virada do século XVIII para XIX, já era um povoado chamado Riacho do Meio. Nas suas proximidades na Serra dos Dois Irmãos, viviam os índios Caambembes e os quilombolas, remanascentes dos negros. Novos moradores foram chegando e a agricultura, comércio e outras atividades fluorescendo.

O português Raimundo Vieira foi um deles que chegou fugindo da perseguição dos brasileiros que lutavam pela independência. Comprou o Sítio Gurungumba, próximo ao povoado, a atual Fazenda Boa Sorte e começou a criar gado, plantar lavouras e querendo se tornar um grande fazendeiro. Conseguiu. Afinal a terra era propícia para a lavoura. Outro português, Manoel Silva Loureiro, fugiu de Anadia para adquirir o Sítio Pedras de Fogo e também casando com uma índia Caambembe.

Foram chegando novos fazendeiros e na década de 1820 a população começou a se movimentar pela emancipação política que só ocorreu em 13 de outubro de 1831, com o nome de Vila Nova de Assembléia, alusão ao costume dos moradores de ser reunir na calçada logo ao entardecer. Desapareceu o Riacho do Meio como nome oficial, mas permaneceu cortando as ruas e chegando ao rio Paraiba do Meio. Em 1835, a família Carneiro da Cunha, de São Luiz do Quitunde, fundou o Engenho Bananal, o primeiro da nova vila. Um avanço para aquela época, já que era movido a força hidráulica.


Um amor puro

Raimundo Vieira jamais pensou em ter relações sexuais com a índia antes de casar. A "prisão" foi apenas um pretexto para garantir a sua presença no sítio. Ela crescia e se tornava cada vez mais bela. A cada fugida que fazia para se encontrar com sua tribo, ele se apaixonava mais. Era ágil, os cabelos ao vento, o corpo dourado. Ensinava-lhe o português, que ela rapidamente aprendia e isso fazia com ele ficasse mais fascinado. E conseguia que ela abrisse um sorriso lindo, com dentes brancos. Uma formusura!

A india vestia sempre uma túnica (não era mais como suas ancestrais Caetés, totalmente nus) e isso a tornava cada vez mais atraente para o português. Tinha a pela cor de cobre, cabelos longos, lisos e negros, olhos negros, dentes brancos e perfeitos e pernas torneadas. Trancafiada na gaiola de bambu e cipó, sempre ficava de cabeça baixa, encolhida em num canto, esperando seu algós, que levava comida, presentes e aos poucos conquistava sua confiança.

Da parte de Raimundo era só amor, carinho, respeito e ânsia por tê-la como sua esposa. Já sabia falar português e todos os procedimentos de higiene e se transformava numa linda mulher, tão sonhada por ele, que destruiu a gaiola, levou-a até o povoado e diante do padre na capelinha de Nossa Senhora do Rosário, ambos disseram sim. O amor venceu o ódio que a índia nutria pelo branco. Ela se transformou em Maria Barbosa de Jesus, nome eminantemente português e comuns naquela época.

A casa do Gurungumba foi ampliada, adquiriu-se móveis novos e outros utensílios para garantir mais conforto ao novo casal que se preparava para formar uma linda família construída com muito amor,mas sacrifícios e paciência. E o casal teve quatro filhas: Antonia, Felipa, Domingas e Maria. As duas primeiras morreram ainda crianças e as outras casaram e formaram as novas gerações.

Assim como Rafael Leite Luna, fiquei indignado com esse episódio que gerou a nossa familia em Viçosa. Mas chegamos a conclusão de que tudo foi feito por necessidade de procriar do português, que não encontrava com quem naquela Viçosa primitiva da segunda década do século XIX. Indignação porque não admitimos a escravidão, que naquela época era legal, exatamente diante do episódio do massacre dos índios Caetés, dois antes antes. Qualquer remanescente daquela tribo poderia ser escravizado e Raimundo Vieira estava "coberto pela legislação", não necessariamente para ter a india como sua empregada, mas como esposa.

A única lembrança mais próxima que poucas pessoas possuem é uma foto de 1890 de nossa trisavó Izidória, neta de Raimundo e da índia, com seu vestido belíssimo, jóias, um leque e uma fisionomia mais portuguesa do que índia. Temos ainda uma outra foto do coronel José Martins, seu pai e nosso tetravô, com seu terno preto, gravata borboleta e que foi tirada no Palacete do Barão de Jaraguá, em Maceió, quando da visita do Imperador Dom Pedro II em 1859. Ele foi um dos senhores de engenho (Engenho Boa Sorte) que colaborou financeiramente para as despesas com essa visita e recebeu o título de coronel da Guarda Nacional, mas já estava preparado o título de Barão de Assembléia (Viçosa), quando morreu na década de 1870. Para nós, seus descendentes continua sendo Barão, com todas as honras do Império.


Os opostos se encontram!

Tanto o branco português como a índia brasileira, viviam fugindo de seus algozes. Ela inocente, iniciando a sua adolescência e ele adulto, culto e que era perseguido pelos brasileiros que desejavam a separação com Portugal, já que toda a Corte portuguesa vivia no Brasil, através do Rei Dom João VI. Ela já não andava nua como seus ancestrais Caetés, mas não falava português e aprendeu com seus pais e avós que deveria odiar o homem branco, que escravizava índios.

Um fazendeiro branco, em seu pleno vigor sexual, aos 28 anos, alto e forte, trabalhador, em meio a trabalhadores rurais, que já eram casados e tinham filhos e ele sozinho, sem ter com quem procirar, era um suplício! Não tinha escapatória: só podia ser uma índia Caambembe. Ela surgiu um dia em seu sítio, linda, vestida em sua túnica, cabelos negros e lisos. Amedrontada diante de uma casa diferente de sua aldeia. Fugiu. Mas ele marcou sua imagem e jurou que seria sua esposa.

Raimundo Vieira chegou de Portugal e instalou-se na Vila de Anadia, quando começa a guerrilha contra os portugueses e resolve mudar-se para Atalaia. Atuou como agricultor e comerciante, mas demorou pouco, porque a perseguição contra os portugueses era acirrada. Resolveu mudar de lugar e foi ao Povoado Riacho do Meio (Viçosa), comprando o sítio Gurumgumba, nome de origem indígena. Lá retirou o sobrenome Vieira e colocou da Silva, já tipicamente brasileiro.

Longe das vilas e das lutas entre portugueses e brasileiros, Raimundo dedicou-se exclusivamente ao trabalho e a esperança de encontrar o amor de sua vida, que teria de ser mesmo uma índia. Queria filhos mamelucos, como muitos outros seus conterrâneos. E a indiazinha que viu espantada e sempre correndo para se embrenhar nas matas da Serra dos Dois Irmãos, era o seu sonho. Traçou todo o plano para conquista-la e conseguiu. Foi amor a primeira vista.


Meu lado caambembe

Desde a infância ouvia falar em caambembe, mas com uma conotação diferente. Os viçosenses utilizavam esse termo para designar gente pobre, sem família. E continuam assim entre os membros da minha família e de outras oriundas da Viçosa das Alagoas, onde surgiram os índios Caambembes, remanescentes dos Caetés. No dicionário, a palavra significa exatamente isso: "gente sem importância", trabalhadores do campo, maltrapilhos, analfabetos.

A imensa maioria das famílias tradicionais de Viçosa, descende exatamente dos caambembes ou seja das índias dessa tribo, que casaram com os portugueses Raimundo Vieira e Manoel Loureiro. E aí entram mais as famílias: Victal, Passos, Vilela, Leite, Brandão, Gracindo, Vasconcelos, Pimentel, Souza, Ferro, Jatobá, entre outras. Muitos de seus descendentes continuam achando que "caambembe" são seus subalternos, pobres, fedorentos, maltaprilhos e analfabetos.

Orgulho-me de ser "caambembe", pentaneto da "india engaiolada", inocente, linda, que se apaixonou por um branco. Se um cafuso ou mulato da família usa esse termo para identificar um pobre, achando-se rico, aristocrata e descendente de senhor de engenho, respondo: somos "caambembes" sim senhor! Não necessariamente como os dicionaristas afirmam, mas temos o mesmo DNA.

Minha pentavó índia, que depois de casada recebeu o nome cristão de Maria, é da mesma geração das pentavós: Josefa Moreira Pimentel, casada com Francisco de Barros Pimentel, que não tinham qualquer tipo de miscegenação com índio ou negro. E ainda Ana Joaquina Cândida dos Passos, casada com Manoel Inácio de Oliveira Passos, afro-brasileiro.


Uma casa portuguesa, com certeza!


Raimundo era um típico português clássico, branco, cabelos lisos, olhos verdes, ombros largos, alto, pernas longas e mãos ágeis, que aos poucos foi se adaptando ao clima da Mata Atlântica e a necessidade de cultivar a terra. Nasceu na última década do século XVIII e chegou ao Brasil na segunda do seguinte (época do Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarves, com o Rei Dom João VI), já adulto, pronto para vencer na vida. Conseguiu com muito esforço, mas muita perseguição dos brasileiros que começavam a odiar os portugueses, querendo se transformar num País idependente, que só chegou em 7 de setembro de 1822, quando já havia casado com a índia Caambembe.

Procurou dar a sua casa às margens do rio Paraiba alguma semelhança com uma casa rural portuguesa margeada pelo rio Tejo. O máximo de conforto para ele, a "indiazinha engaiolada" e suas filhas, que possuiam mais semelhaças com ele. Tinha a sala grande, alpendre com plantas, redes, sala de estar, com cadeiras austríacas (de palhinha), quarto de casal, quarto das filhas e sala de jantar com ampla mesa, além da cozinha, despensa e pomar no quintal.

Com o casamento de sua filha Maria e seu patrício (português) José Martins, ele já se sentia realizado e morreria feliz, depois de muita luta pela sobrevivência fugindo dos brasileiros e tendo que "engaiolar" uma índia que se apaixonou e casou. Morreu em 1834 e em 1840, surgiu o Engenho Boa Sorte através do genro português, no mesmo local em que 150 anos depois se transformou em usina construída pelos seus tetranetos (Brandão Vilela).

No início do século XX, o neto do coronel José Martins: José Aprígio dos Passos Vilela, construiu o belo casarão que hoje pertence a viúva e filhos de seu homônimo (bisneto: José Aprígio) e toda a extensão do antigo engenho, usina e fábrica de beneficiamento de Leite tipo A) se transformou numa fazenda de criação de cavalos de raça. A casa foi preservada, assim como o edifício da usina que durou da década de 1940 a de 1970. São 170 anos de história preservada por uma só família, assim como acontece nos antigos engenhos Bananal e Barro Branco, também em Viçosa.


A geração mameluca

A minha geração mameluca iniciada com Raimundo e Maria (branco com índia), seguiu com Maria de Jesus e José Martins (português), através da filha Izidória, nascida em 1830 e casada com o dono do Engenho Bananal, Quintiliano Vital Santos, neto de um branco com uma negra. Assim sou memeluco e mulato. Brasileiro, sim senhor! Tenho a pele branca, cabelos aloirados (atualmente grisalhos) e olhos esverdeados, herança dos portugueses, espanhóis, italianos e alemães, pelo lado Pimentel e ainda do lado materno (Barbosa Delgado).

O coronel da Guarda Nacional José Martins, sempre foi a principal liderança da então Vila, que só se transformou em Viçosa, na década de 1890, quando estava no auge de seu desenvolvimento, sendo ponto final da estrada de ferro. Foi ele que construiu o cemitério público, comprou o sino e as imagens da matriz, importado de Portugal e detinha o mais importante engenho de açúcar da vila. Colaborava assiduamente com a paróquia, sendo sempre citado nos relatórios dos vigários.

Branco, olhos verdes, cabelos sempre curtos e lisos, barba, andava sempre impecavel quando precisava ir a cidade ou a capital, um verdadeiro fidalgo. Mãos calejadas pelo trabalho inicial no Gurumgumba e depois no Engenho Boa Sorte que construiu logo após a morte do sogro. Era presença marcante nas missas dominicais da matriz e logo construiu uma capela no já povoado Sabalangá, em louvor a São José,imagem que mandou buscar em Portugal, ainda preservada.

O casal já instalado na casa grande do Boa Sorte, teve 12 filhos que garantiram dezenas de netos e bisnetos. Duas delas são minhas ancestrais, exatamente casadas com dois irmãos: Antonia, com Pedro Manoel dos Passos Vilela e Izidória, com Quintiliando Victal Santos. De Rafael Leite Luna só foi izidória, porque a outra parte veio de Pernambuco.

Antonia e Pedro Manoel tiveram entre seus filhos: Josefa, que casou com o tio Avelino de Oliveira Passos, irmão de Pedro e Quintiliano. Isso era comum naquela época. E desse casal, nasceu Antonia, minha bisavó, casada com Manoel Victal Santos, seu primo leg[ítimo, filho de Quintiliano e Izidória, do Engenho Bananal. Quintiliano e Izidória, tiveram Maria Arcelina (Marica) que casou com o primo legítimo João Leite dos Passos, filho do tio Vicente Ferreira Passos, irmão de Quintiliano. São os trisavós de Rafael Leite Luna. Eu tive dois trisavós irmãos e um tetravô também irmão.

É exatamente dos patriarcas da Boa Sorte, Barro Branco, Bananal e Floresta, os principais engenhos de açúcar de Viçosa no século XIX onde surgiram as famílias; Victal Santos, Passos Vilela, Leite dos Passos, Brandão Vilela, Gracindo, Silveira e Teixeira de Vasconcelos. Ainda existem casas grandes intactas como as dos engenhos Bananal Fernandes, Boa Sorte, Barro Branco e Bom Sucesso. E o mais imporante: Todas com seus descendentes, uma tradição de mais de 150 anos. Os filhos de José Martins e Maria, foram:

1. - Izidória (a primogênita, nascida em 1830), casada com o coronel Quintiliano Victal, do Engenho Bananal. Com geração. Avós do monsenhor Cícero Vasconcelos, senador da República, autor do livro O Bananal dos Meus Avós.

2. - Antônia, casada com Pedro Manoel dos Passos Vilela (irmão de Quintiliano), Engenho Boa Sorte. Com geração. Bisavós do cardeal Avelar Brandão Vilela, arcebispo primaz do Brasil.

3. - Maria, casada com Elias Constâncio Brandão, do Engenho Barro Branco. Com geração.

4. - Laurinda, casada com Caetano Donato Brandão, também do Engenho Barro Branco. Com geração. Bisavó do ator Paulo Gracindo e da psiquiatra Nise da Silveira.

5. - Francisca, casada com o sobrinho Joaquim Estevão Passos. Com geração.

6. - Vivalda, solteira.

7. - Pastora, solteira.

8. - Luzia, casada com Firmino Brandão, com geração.

9. - Raimundo, casada com Maria Lia. Com geração.

10.-José Martins Filho, casado com Sinhá Vilela. Sem geração.

11.-Joaquim José, casado,mas sem geração.

12.-Manoel, solteiro.


Um homem de honrarias

José Martins Chaves ou "Ferreira" que saiu de Portugal para vencer no Brasil já independente, na década de 1820, foi um homem que honrou o Império por seu trabalho, gerando empregos, impostos e formando uma familia mameluca que perpetuou-se até agora. Começou como Capitão e chegou a Coronel da Guarda Nacional, recebendo ainda a maior honraria outorgada por Dom Pedro II, a da Ordem da Rosa, criada por Dom Pedro I , para perpetuar o seu casamento com dona Amélia de Leuchterenberg. A concepção e o desenho são de autoria do pintor francês Jean Baptist Debret, que veio para o Brasil na missão artística francesa de 1817.

Essa medalha tem uma estrela de seis pontas guarnecida por uma coroa de rosas. No centro, o nonograma com as letras A e P (Amélia e Pedro), circundando pelas palavras amor e felicidade. Encimada pela coroa imperial do Brasil, foi a comenda mais importante do Império e disputada pelos nobres. Cada pessoa que recebia, jurava: "Prometo ser fiel a Sua Magestade, o Imperador, e à Pátria". Era uma distinção social, muito importante para os detentores de postos políticos e econômicos.

Meu tetravó recebeu essa honraria na década de 1860, logo após a visita do Imperador Dom Pedro II, por ter sido um dos maiores colaboradores financeiros da Província nas despesas dessa visita imperial. Além dele, seu companheiro,coronel Pedro Brandão, do Engenho Barro Branco, também recebeu. A participação desses dois senhores de engenho de Assembléia (Viçosa), foi muita comentada na Imprensa de Maceió. E a do dono do Engenho Boa Sorte, foi bem maior. E ele compareceu as festividades imperiais na capital, tendo uma foto sua tirada no Palacete do Barão de Jaraguá (atual Biblioteca Pública), onde o Imperador ficou hospedado. A foto existe ainda, com vários de seus descendentes, mas a medalha sumiu. Tenho a minha iniciando a genealogia, seguindos de fotos de minha trisavó, Izidória; meus bisavós Cantidiano e Maroca; meus avós José e Lourdes; meus pais Joel e Leonilda: eu e minha mulher: minha filha, Luciana e a minha neta Maria Beatriz. São oito gerações em fotos, na parede do Memorial Joel Vital Pimentel Santos.

Mais duas honrarias o Imperador já tinha preparado para entregar a alagoanos importantíssimos em suas regiões: Paulo Jacinto Tenório, em Palmeira dos ìndios e José Martins, respectivamente Barão de Palmeira dos Índios e Barão de Assembléia. Não conseguiu, porque a Monarquia foi derrubada com a ascensão da República e todos esses títulos foram extintos. Meu trisavô morreu na década de 1880, antes de ter essa notícia. Para nós, seus descendentes, ele é o Barão de Assembléia.


 

Meninos de Engenho

Meus bisavós paternos (Manoel e Cantidiano) foram meninos do Engenho Bananal do seu pai, coronel Quintiliano Victal na segunda metade do século XIX. O primeiro casou com a prima legítima Antonia, filha do tio Avelino de Oliveira Passos e Josefa dos Passos Vilela (sua sobrinha) e o segundo casou com a professora Maria Moreira Pimentel (Maroca), descendente direta de portugueses, espanhóis, holandeses, alemães e italianos, sem miscegenação com índios e negros. Viveram intensamente como meninos do primeiro engenho de açúcar de Viçosa,que funcionou durante 90 anos, de 1835 a 1925.

O Bananal tinha a casa grande, a capela, a senzala, o engenho propriamente dito e várais casas de moradores, além das construídas para os filhos e filhas que se casavam. Na década de 1890, o coronel construiu a casa paroquial, onde viveram alguns sacerdotes. A primeira foi derrubada na década de 1980 e a segunda totalmente reformada, servindo de residência de um dos seus descendentes.

Outros meninos de engenho, filhos de Quintiliano e Izidória, foram:

1.- Pedro Victal, casado com Mônica Vasconcelos. Com geração.

2.-José Victal,casado com Constância Vasconcelos, irmã de Mônica. Com geração.

3.-Francisco Victal, casado com Manuela Vasconcelos, irmã de Mônica e Constância. Com geração. Viúvo, casou com Sebastiana dos Santos, com geração.

4.-João Victal, casado com Maria Teixeira de Lima, prima legítima de Mônica, Constância e Manuela. Com geração.

5.- Antônia Victal, casada com Severino Florêncio Teixeira de Vasconcelos, irmão de Mônica, Constância e Manuela. Com geração.

6. -Ana Victal, casada com Inocêncio Teixeira de Vasconcelos, irmão de Severino, Mônica, Constância e Manuela.

7.-Laurinda Victal, casada com Pedro Teixeira de Vasconcelos, irmão de Severino, Inocêncio,Mônica, Constância e Manuela. Com geração.

Um caso inédito: Foram seis irmãos do Engenho Bananal que casaram com seis do Engenho Floresta, de Izidro Athanásio Teixeira de Vasconcelos, além de um outro irmão Victal que casou com uma sobrinha deste. O Bananal, hoje povoado, continua pertencendo aos descendentes do coronel Quintiliano, enquanto a Floresta pertence a terceiros. O Engenho Boa Sorte, depois usina e atualmente fazenda de criação de cavalos de raça, pertence a pentanetos do seu fundador, o português José Martins.


O Bananal dos Meus Trisavós


O primeiro que escreveu sobre o mais antigo engenho de açúcar de Viçosa, o Bananal, fundado em 1835 pela família Carneiro da Cunha, foi o primo legítimo de meus avós paternos, Cícero Vasconcelos, monsenhor, professor, museólogo (fundador do Museu de Arte Sacra), escritor e senador da República. Nele, a genealogia da nossa família, não necessariamente uma verdadeira genealogia milenar, mas a que partiu do início do século XIX. Mas um trabalho perfeito de pesquisa com base em documentos extraídos dos cartórios e paróquia de Viçosa.

Depois foi a minha vez, com o livro Família Pimentel - de Portugal ao Bananal, relatando a história iniciada pelo meu trisavô, Quintiliano Victal, até o século XXI. Meu tio Jaime Victal e o primo José Celso, escreveram A História do Bananal a partir de 1853, quando os irmãos Victal Passos adquiriram dos Carneiro da Cunha esse mundaréu de terras de mais de 1 mil hectares, hoje resumido a menos de 100.

Com a morte do coronel Quintiliano Victal, em 1911, aos 90 anos, a parte principal do Bananal: engenho, casa grande e extensos canaviais, ficou com o filho, o major Manoel Victal (Néco Victal), casado com sua prima Antonia dos Passos Vilela, filha do tio Avelino de Oliveira Passos e Josefa dos Passos Vilela, do Engenho São José, vizinho ao Bananal. Com a morte da mulher, seu patrimônio expandiu-se. Casou em segundas núpcias com Amália Teixeira, de tradicional família de Quebrangulo.

Do seu primeiro casamento, teve quatro filhos: José (meu avô), Josefa, Noêmia e Isaura, que nunca casaram. Do segundo: João, Quintiliano Neto, Antônio, Maria Eulália, Carmelita e Izidória. Deixou em seu testamenteo, uma tarefa de terras para o patrimônio da capela do Bananal, constando da própria, uma casa paroquial e mais alguns metros de terras, hoje ocupadas por casas de parentes. Morreu em 1948 e a viúva Amália Teixeira vendeu ao padre João Vasconcelos, primo do falecido que depois vendeu ao primo Manoel Leite dos Passos (major Néco Leite) em 1950, mas exigindo que o comprador deixasse registrado o núcleo central (três tarefas) para seus herdeiros, nunca podendo ser vendido. E assim foi cumprido.

O povoado que começou logo depois que o engenho entrou em fogo morto, foi se modernizando aos poucos, chegando a luz elétrica, água canalizada, asfalto, ônibus na porta, telefone público e depois residencial, celular e Internet. Possui uma escola pública, posto de saúde e ainda transporte escolar para levar os estudantes até Viçosa, a 12 quilîometros de distância. Uma parte de terra de Jayme Victal e Ilca Pimentel, foi desmembrada pela Prefeitura para construção de casas populares em regime de mutirão. E o Bananal, antes apenas da familia, passou a ser uma "cidade". Não existem mais moradores dos fazendeiros morando nas terras dos descendentes do coronel Quintiliano Victal.


Meu lado Pimentel

Tudo começou no século XIII, Na Galícia, com um apelido que o Rei Afonso X, de Castela (Espanha) colocou em seu vassalo Vasco Martins, afirmando que ele era nervoso,colérico, ardendo como "pimenta". Ele gostou e passou a assinar-se Vasco Martins Pimentel, perpetuando-se desde esse episódio até agora na geração de minha neta, ou seja a vigêsima segunda geração, espalhando-se por vários países: Espanha, Portugal, Itália e Holanda. Quem tiver esse sobrenome, é com certeza descendente desse espanhol da Galícia, que se tornou Conde de Benevute e casou com Maria Gonçalves de Portocarrero.

A familia chegou ao Brasil na década de 1580, com o português de Viana do Castelo, Antonio de Barros Pimentel, da oitava geração do fundador. Aqui se instalou em Porto Calvo, construindo o Engenho do Meio e casando com Maria de Vasconcelos Holanda,filha do holandês Arnault de Holanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcelos, tronco dessa importante familia brasileira. Desembarcou no porto de Barra Grande (Maragogi) ainda usando as vestimentas que sempre utilizava na Corte em Lisboa: calção de veludo e chapins.

O casal teve dois filhos: Antonio e Rodrigo, sobrevivendo o segundo, que casou com a prima Jerônima de Almeida Lins, neta do colonizador de Alagoas e fundador dos primeiros engenhos e de Porto Calvo, Cristovão Lins e de Adriana de Vasconcelos Holanda, irmã da mãe de Rodrigo. O casal teve dez filhos(apenas um homem, exatamente de quem descendo) José de Barros Pimentel, casado com Maria Accioli Pimentel, também com dez filhos, dentre os quais Francisco de Barros Pimentel, que saiu de Porto Calvo para as margens da lagoa Manguaba entre Pilar e Marechal Deodoro, casando com Antonia de Moura Caldas e comprando o Engenho Novo, que perpetuou-se entre seus descendentes até o século XIX.

O primogênito do coronel, Inácio Accioli de Vasconelos Pimentel, casou com Ana da Silveira Albuquerque, de São Miguel dos Campos e teve entre os filhos: Francisco Neto, casado com Josefa Moreira Pimentel, do Pilar, gerando Nuno Moreira Pimentel, que casou com Maria Roza de Chaves Pimentel, tendo os seguintes filhos: Nuno Júnior, Miguel, Francisco, José, Antonio e Maria (Maroca). Era comerciante na Vila de Alagoas (Marechal Deodoro), alferes e músico, passando para os filhos os ensinamentos do piano, órgão, violino e instrumentos de sopro.

O primeiro piano que surgiu na zona rural alagoana, foi em meados do século XIX no Engenho Várzea do Souza, em Passo de Camaragibe do coronel José de Barros Pimentel, pai dos ex-goernadores (presidentes na época): Esperidião Eloy e Hermelindo Accioly de Barros Pimentel. Daí em diante vários integrantes da família Pimentel, seja em Passo de Camaragibe, Porto Calvo, São Luiz do Quitunde, União dos Palmares, Maceió, Marechal Deodoro, Pilar, Viçosa e Palmeira dos Índios, possuiam pianos, órgãos, violinos, violão e instrumentos de sopro. Três deles fundaram escolas de música: Nuno Pimentel, em Viçosa; José Moreira Pimentel, em São Miguel dos Campos e Venúzia de Barros Pimentel, em Maceió.

Nuno Moreira Pimentel Júnior, que depois da morte do pai, retirou o Júnior e ficou apenas Nuno Moreira Pimentel, migrou para Assembl[éia (Viçosa), na década de 1870, também comerciante, músico e alferes. Casou com a viçosense Maria Accioly Pimentel, tendo os seguintes filhos:

1. - José Moreira Pimentel, sacerdote e professor

2.- Francisco Alfredo Moreira Pimentel, comerciante, casado com Áurea Accioly, sua prima. Com geração

3.-Andrelina Pimentel de Sá, casada com o comerciante Luiz de Siqueira Sá. Sem geração

4.-Francisca Pimentel de Amorim, casada com o comerciante Américo Amorim. Com geração.

5.-Eulália Pimentel de Vasconcelos, casada com o industrial e prefeito Izidro Vasconcelos. Sem geração

6.-Eudócia Pimentel de Vasconcelos, casada com Jonas Vasconcelos. Com geração.

Maria Moreira Pimentel (minha bisavó), viveu sua infância no Pilar, já orfã de pai e a adolescência em Maceió na casa do tio e professor da Escola Normal, Inácio Pimentel, onde estudou e concluiu seus estudos, se transformando em professora,uma novidade naquela época, indo viver com o irmão mais velho (Nuno) em Viçosa, sendo contratada como primeira professora pública do novo Estado de Alagoas no Engenho Bananal. Lá, conheceu, namorou, noivou e casou com Cantidiano Victal, um dos filhos do coronel Quintiliano Victal, tendo os seguintes filhos:

1. - Maria das Dores Pimentel Santos, solteira.

2. - Ismênia Pimentel Leite Passos, casada com o primo Manoel Leite dos Passos. Com geração.

3. - Antonio Pimentel Santos, casado com a prima Vanilde e Vasconcelos Pimentel. Com geração.

4. - Maria de Lourdes Pimentel Santos, casada com o primo José Victal Santos (meus avós).

5. - José Pimentel Santos, dentista, farmacêutico, professor e prefeito de Viçosa, casado com a prima Maria Ercília Vilela Pimentel. Com geração.

6. Ana Pimentel de Vasconcelos, casada com o primo Antonio Teixeira de Vasconcelos. Com geração.

7. Julita Pimentel Santos, professora, casada com o primo José Victal Santos Primo. Sem geração.

8.- Otoniel Pimentel Santos, casado com Anita Garibaldi Murta Pimentel. Com geração.

9.-Maria do Carmo Pimentel Godoi, casada com o fazendeiro Luiz Eduardo Godoi. com geração.


Meu avô, um autodidata!


José Victal Santos, nasceu em 1896, no Engenho Bananal, primeiro filho do casal Manoel Victal Santos e Antônia dos Passos Vilela, primos legítimos. Casou com a prima Maria de Lourdes Pimentel Santos, filha do tio Cantidiano Victal Santos e Maria Moreira Pimentel Santos (Maroca, a professora) Vivendo intensamente de 1917 até 1943, quando ela faleceu aos 44 anos, deixando cinco filhos, dois com 5 e 6 anos respectaivamente, nunca dando uma madrasta para eles. Morreu em 1959, com a certeza de que tinha cumprido sua missão: cinco filhos criados e cinco netos. Fui o primeiro, nascido em 1951 e, claro, muito paparicado por ele, minhas tias Jabete e Bernadete e meus tios Jayme e Cante. Meu nome deve ao irmão gêmeo de meu pai, que morreu antes de completar três anos de idade.

Meu avô estudou em Viçosa com seu primo Graciliano Ramos e se tornou um auto-didata. Sua primeira professora foi mesmo no Engenho Bananal dos seus avós: Maroca Pimentel, que depois se tornou sua sogra. Com a mulher Maria de Lourdes Pimentel Santos viveu 26 anos, ela exímia cantora sacra nas cerimônias da capela do Bananal e da Viçosa, além de organizadora de pastoril e reisado, herança de sua mãe. O casal também organizava peças de teatro.

José Victal foi um autodidata, sem nunca frequentar uma faculdade, mas leitor assíduo de O Cruzeiro (revista mensal) e do Jornal de Alagoas, diário que chegava na estação do Anel e ele reunia a "matutada" no alpendre da sua casa para falar da Intentona Comunista, a ditadura de Vargas, a II Guerra Mundial e outros acontecimentos das décadas de 1930/40 e 50. Uma verdadeira aula de cidadaina para uma platéia analfabeta composta dos moradores de sua terra.

Esse gosto pela leitura adquiriu de seu pai, o major Néco Victal, que juntamente com outros irmãos e cunhados, fundou no Engenho Bananal em 1888, exatamente no dia 13 de maio (abolição da escravidão), o jornal O Camponês, o primeiro jornal rural de Viçosa. Sempre gostou de livros, música, teatro, folclore. A revista O Cruzeiro, também era lida pelo pai, irmãs, a mulher Lourdes, os filhos e a sogra Maroca Pimentel, sua primeira professora e uma intelectual militante, amante dos livros, do teatro e da música. Tocava piano que aprendeu com seu irmão Nuno em Pilar e Viçosa.

Quando o Engenho Bananal entrou em "fogo morto" em 1925, já pertencia ao seu pai, Néco Victal, herdado do coronel Quintiliano Victal. Atuava como agricultor, plantando algodão e lavouras de subsistência em suas terras e ainda comerciante, com uma mercearia de secos e molhados,que ficava em frente a sua residência e ao lado do armazem para estocagem de algodão. Ao lado da casa, um pé de abacate que ele plantou quando nasceram os gêmeos Jair e Jair, que durou 70 anos, sendo replantando no quintal.

Minha avó Lourdes Pimentel, herdou o gosto pela música, teatro, folclore e a cultura em geral dos dois lados (paterno, Victal e materno, Pimentel). Tinha uma voz de soprano (música sacra e lírica), destacando-se nas missas e outras cerimônias religiosas da capela do Bananal e da matriz de Viçosa. Cantava em latim, como era costume em sua época. E nas idas a cidade, participava dos saraus promovidos no chalé suiço do tio e músico Nuno Pimentel. Uma atração a parte. No teatro brilhou ao lado do marido, na peça A Louca do Jardim. No pastoril, comandado por sua mãe, era a mestra.Participava também do reisado. Seu nome é lembrado no Bananal com o Museu Maria de Lourdes Pimentel Santos, que guarda a memória da família.


Geração perdida

Há mais de 10 anos participo de um grupo de genealogia alagoana fundado por Sônia Xavier de Araújo Ulrich, radicada na Bélgica. Aprendi muito sobre genealogia nesse período e consegui formar a árvore genealógica milinar da família Pimentel, documentada e direta, chegando até mesmo a porção mulçumana que surgiu na Península Ibérica (Espanha e Portugal) no século VIII, até surgir o sobrenome Pimentel, cinco séculos adiante, através de Vasco Martins Pimentel, Conde de Benevute. São exatamente 30 gerações, partindo do descendente de Maomé até chegar a minha neta.

Sempre gostei de conversar com os mais velhos desde meu avô, passando por meu pai,tios e parentes que gostavam de contar a história da família. No magistério e principalmente no jornalismo, esse tema era sempre passado para alunos e leitores. Escrevi dois livros: Família Pimentel - de Portugal ao Bananal e História de Alagoas - dos Caetés aos Marajás.

A genealogia é a ciência que estuda a origem da família, unindo-se a História, Filosofia, Sociologia. Teologia, Geografia, Psicologia e Biologia. Uma verdadeira "colcha de retalhos" que vai se juntando cada pedaço até chegar ao tronco principal. Mas tudo documentado através de registros de nascimento, batistério, casamentos, óbitos. Complicado porque existem muitos sobenomes diferentes e não vale os tais apelidos.

Do meu lado viçosense e quebrangulense (Viçosa e Quebrangulo), só consegui chegar aos meus pentavós: O português Raimundo Vieira e o pernambucano Manoel Inácio de Oliveira Passos, respectivamente, início do século XIX. Antes disso, nada. Alagoas era uma Comarca de Pernambuco. Os portugueses no século XX, eram perseguidos pelos brasileiros e a imensa maioria mudou de sobrenome, passando-se por brasileiros com os mais comuns: Silva, Santos, Souza, Ferreira, Pereira, Nacscimento, Oliveira,Barbosa, Costa, Gomes, Passos. E tinham aqueles que acrescentaram nomes nativos como Cansanção, Ferro, Oiticica, Porangaba, Carnaúba, Cajueiro, Jatobá, Lima, Limeira, Larajeira, Sucupira, Sapucaia,etc.

No caso da família Pimentel foi diferente: Ela é única. Surgiu na Península Ibérica (Espanha e Portugal), ramificou-se por outros países da Europa e chegou ao Brasil. Tudo documentado e arquivado em Institutos Históricos, Bibliotecas e muitos livros. O sobrenome não popularizou-se e sempre foi preservado.

Existem brasões de famílias portuguesas legítimos, que muitos no Brasil usam como se fossem seus. Na verdade, a imensa maioria dessas famílias com sobrenomes portugueses mais criados no Brasil, perderam a originalidade exatamente porque o sobrenome se popularizou. Mas existem os legítimos surgidos na Europa na Idade Média. Tenho o meu brasão Pimentel, adquirido numa loja especializada na confecção de brasões legítimos em Belo Horizonte (MG). Está exposto na sala principal.

Em minhas pesquisas sobre a família Pimentel, recorri não somente a Internet. Fui a Cúria Metropolitana de Maceió, verificar os registros de batistérios das paróquias de Porto Calvo, Passo de Camaragibe, Marechal Deodoro, Pilar e Viçosa, reduto da família dos séculos XVI até o XIX. Um trabalho árduo. Eram livros empoeirados, caligrafia difícil de ser lida, exigindo uma lupa apropriada e ainda documentos nos Institutos Históricos e Bibliotecas de Maceió, Recife e Rio de Janeiro, além de Portugal, Espanha e Holanda.

Tenho em meu Gabinete de Leitura e Pesquisa, manuscritos dos séculos XVI e XIX, de meus ancestrais: Antonio de Barros Pimentel (depondo no Tribunal da Inquisição, em Olinda, em 1595); o testamento de décimo avô, o alemão Cristovão Lins (1608) fundador dos primeiros engenhos e de Porto Calvo, doando uma imensidão de terras para seu sobrinho por afinidade (era sobrinho legítimo da sua mulher), Rodrigo Pimentel e ainda um manuscrito da ata de fundação da Sociedade Irmandade de São Francisco, em Marechal Deodoro, 1853, tendo como mesário e secretário, o meu trisavô Nuno Moreira Pimentel. E muitas antiguidades adquiridas em lojas especializadas ao longo dos últimos 10 anos. Um verdadeiro museu!