quarta-feira, 1 de agosto de 2012


                             DIÁRIO DE UM JORNALISTA SESSENTÃO

                                         
                                                               JAIR PIMENTEL
                                                                    MTE-316/AL




Apresentação

Esperei chegar a chamada Terceira Idade (60) anos, para usar mais uma vez a minha máquina de datilografia de marca Royal (inglesa) e fabricada em 1902 (foto), em ferro fundida, teclas ainda com o alfabeto antigo, muito bem cuidada e que uso exatamente para inspiração, quando escrevo minhas memórias, meus romances e ainda a História de Alagoas. Os demais textos, rápidos e resumidos, para jornal, são produzidos mesmo no teclado do computador, sem o "barulhinho" saudosista da minha relíquia, que funciona muito bem.
Foi nessa máquina que escrevi meu primeiro livro de memória: Família Pimentel - de Portugal ao Bananal, onde cito toda a genealogia e ainda a minha infância vivida entre a cidade, morando e estudando e no campo na casa de meus avós e tios. De suas teclas também sairam: No Tempo do Brucutu, um relato de minha adolescência na fase da Jovem Guarda e mais: A História de Alagoas - Dos Caetés aos Marajás e Alagoas - Uma má noticia, ambos livros-reportagem. Tem ainda "A Índia Engaiolada", a história de uma índia remanescente dos Caetés, minha quinta avó, que casou com um português, iniciando a geração mameluca na família. 
Vi essa máquina, num antiquário onde sempre compro peças centenárias, e fiquei deslumbrado. Era tudo que queria, para fazer parte de meu acervo. Fiz o teste, funcionava, comprei e levei para casa. Fica numa estante-escrivaninha, também centenária e ao lado, um telefone da década de 1940, na cor preta e em pleno uso. Em várias oportunidades que o computador dar problema, recorro a ela, para depois levar o texto a uma lan-house onde digito, e envio a redação.
Mas meu diário no jornalismo, começa mesmo no inicio da adolescência, aos 14 anos, quando escrevi o primeiro artigo no JORNAL DE HOJE, um vespertino de Maceió, que tinha meu pai como um dos colunistas, escrevendo sobre literatura, principalmente poesias. Dele que herdei tudo que sou. A primeira matéria foi sobre a situação dos bairros da periferia de Maceió durante o inverno rigoroso de 1965. Tinha máquina fotográfica, marca Rolleiflex, inglesa, presente de minha tia e madrinha Bernadete Pimentel e já havia feito um curso de datilografia numa escola especializada, ou seja ferramentas indispensáveis para ser um jornalista.
Adorava ir a redação do jornal, que funcionava na Rua do Sol, acompanhado de meu pai que ia escrever sua coluna, sempre logo depois de pegar-me no Grupo Escolar Dom Pedro II, na Praça Deodoro, às 11 horas. Ele datilografava tudo muito rápido, já que o jornal era impresso a tarde. Tudo isso vivenciei como jornalista profissional numa redação mais moderna, mais movimentada e no jornal de maior circulação de Alagoas: Gazeta de Alagoas, aos 30 anos, quando profissionalizei-me mesmo, registrado no Ministério do Trabalho e no Sindicato dos Jornalistas.
Mas nesse meio tempo entre a adolescência e a fase dos 20 anos, casei, entrei na Universidade, trabalhei em várias empresas como escriturário, sempre ligado ao jornalismo, escrevendo artigos e ainda produzindo jornais internos em empresas. Dos 30 aos 60 anos nunca parei de escrever, tanto como jornalista, como escritor. Depois da aposentadoria, mais ainda, porque tenho tempo de ler até dois livros por semana.
Com a missão cumprida, agora passo para a História o meu DIÁRIO DE UM JORNALISTA SESSENTÃO.

Maceió, 20 de março de 2011.
José JAIR Barbosa PIMENTEL

JORNAL DE HOJE
Em minha casa sempre teve livros e jornais, desde a primeira infância em Viçosa, quando meu pai, já como funcionário público federal, destinava suas horas vagas para ler e escrever no jornal local. A cidade dispunha de jornal, gráfica e livraria. Era um dos centros culturais mais importantes do Estado, depois da capital e Penedo. Dispunha ainda de uma Escola Normal (formação de professores), colégio com curso científico e uma Escola Técnica de Comércio.
Com a transferência da familia para a capital, meu pai trabalhando como escriturário no Departamento Nacional de Endemias Rurais (Dneru), do Ministério da Saúde, engajou-se nos estudos, tentou fazer a Faculdade de Direito, mas não foi dada permissão na repartição, já que funcionava no mesmo horário. Mas tinha o curso técnico de contabilidade. E ingressou no jornalismo, através do JORNAL DE HOJE. Participava de seminários e cursos de jornalismo, mas também não podia acumular as duas funções, por problema de horário, ficando mesmo como colaborador, já que o jornal pertencia ao jornalista Jorge Assunção, casado com sua prima Kátia Pimentel.
Fiquei escrevendo artigos no jornal até o final de minha adolescência, quando casei e tive que trabalhar e estudar muito. Mas vez por outra, escrevia e meu pai mandava publicar. O jornal foi crescendo, passou a ser matutino, mudou de sede e funcionou por mais de 40 anos com o mesmo proprietário, que também criou a Rádio JH-FM, depois transformada em 96-FM, que continua no ar, sendo uma das de maior audiência.
Assim foi minha primeira escola de jornalismo, profissão que abracei porque não tive escapatória. É uma questão de gen. Meu pai e ainda meu avô, que mesmo vivendo num antigo engenho em Viçosa, era assinante do Jornal de Alagoas e da revista O Cruzeiro e que lia tudo em voz alta para a familia e uma platéia de moradores analfabetos, que ficavam deslumbrados com as notícias sobre a Revolução Constitucionalista de 1932; o Estado Novo, a Segunda Guerra Mundial, o suicidio de Getúlio Vargas e a Era JK. Ele morreu em 1959, mas deixou esse legado de cultura para seus filhos e netos.

GAZETA DE ALAGOAS
Depois de dez anos de trabalho como escriturário em empresas privadas, aliado aos cursos de Economia e Geografia na Universidade Federal de Alagoas, ingressei no jornal GAZETA DE ALAGOAS. Antes já escrevia artigos no JORNAL DE ALAGOAS, mas sem vínculo empregatício. Fui trabalhar no setor de contabilidade, que ficava ao lado da redação e acompanhava todo o movimento, conversando com os jornalistas. Até que consegui que publicassem meu primeiro artigo. Que felicidade senti! Estava sendo lido por milhares de alagoanos. E foram vários e semanais, até que fui chamado pelo diretor, jornalista Vladimir Calheiros, convidando-me a integrar o grupo de repórteres, necessitando apenas de um adendo no registro da carteira de trabalho. Era tudo que sonhava.
O chefe de reportagem era o jornalista Fernando Araújo, que entregou-me a pauta para minha primeira missão: entrevistar o presidente do então Clube de Diretores Lojistas - CDL, empresário Orlando Campos, sobre o índice de inadimplência no comércio. Disse apenas que eu me virasse, pois era estudante de Economia. Assim fiz e a matéria saiu como manchete de primeira página no dia seguinte.
Nessa época não existia ainda nenhuma turma formada em jornalismo na Universidade Federal de Alagoas - Ufal, curso iniciado em 1979. E  quem já estivesse atuando na área, mesmo sem ser formado, poderia ser registrado como jornalista profissional no Ministério do Trabalho. Assim fiz e consegui meu registro de número 316, ou seja só existia essa quantidade de jornalistas em Alagoas, desde a obrigatoriedade do registro.
No mesmo ano, fui convidado para ser Assessor de Imprensa do CDL, da Epeal (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Alagoas), continuava estudando na Ufal, atuando como professor e ainda na redação. Saía de casa as 6.30hs e só  retornava as 22.30hs. Sempre que entevistava executivos de empresas estatais e privadas, era convidado para trabalhar com eles. Optei por ficar com os dois primeiros, mas quis também o que muitos sonhavam: ser assessor de imprensa da Telasa, cargo que era do então editor geral da Gazeta, Gilberto Prado, que voltou a sua terra: Recife, para comandar o Jornal do Comércio.
Cai na confiança de Vladimir Calheiros, Fernando Araújo e do próprio presidente Pedro Collor de Mello. Era ainda responsável para fazer matérias pagas pelo Departamento Comercial. Passei a ser editor de Economia e todas as personalidades importantes da República que visitavam Maceió, era eu que ia entrevistar. Meu companheiro, jornalista Antonio Noya, assessor de imprensa do Hotel Jatiúca (o primeiro cinco estrelas da cidade) sempre conseguia agendar uma entrevista com algum notável que estivesse hospedado. E foram vários como Ivo Pitanguy, o maior cirurgião plástico do mundo; Luiz Eulálio Bueno Vidigal Filho, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo; Wasghinton Olivetto, grande publicitário (W-Brasil); Severo Gomes, ministro da Indústria e Comércio; Delfim Netto, ministro da Fazenda e tantos outros.
Na época circulava um suplemento semanal: Gazeta Agrícola, editado por Fernando Araújo, e eu como encarregado das matérias, viajando muito pelo interior para mostrar o que Alagoas produzia ou que poderia produzir, mas por desinteresse público, não fazia. Também o mesmo companheiro, lançou o Gazeta Automóvel, e sempre quando não podia viajar para algum lançamento de carro nas fábricas, eu que fazia isso. Assim, conheci São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, com tudo pago pelos fabricantes e ainda direito a participar do sorteio de um dos carros lançados. Nunca tive sorte de ser contemplado.
Também viajei pela Gazeta para Salvador (Congresso Nacional da Indústria do Fumo), Aracaju (inauguração de uma fábrica de uréia da Petrobras), Seminário de Assessoria de Imprensa, em Brasilia e mais as convenções nacionais lojistas, bancadas pelo CDL em: Natal, Fortaleza, Recife, Aracaju, Rio de Janeiro e Porto Alegre, tudo em hotel cinco estrelas.
Foram dez anos de total produção e prazer no que fazia. Cumpri sempre o meu papel de jornalista apolítico, sem nunca me corromper. Acumulava todos esses empregos, mas sempre cumprindo horários. Minha formação acadêmica em Economia e Magistério, ajudaram-me muito nessa profissão que abracei e sinto-me orgulhoso dela participar até a Terceira Idade. Só tenho a agradecer aos meus gurus do jornalismo na Gazeta: Vladimir e Fernando. Esse último continua atuando,comandando o semanário EXTRA, de linha totalmente independente e do qual participo como colaborador, com a coluna REPORTER ECONOMICO, minha marca registrada há mais de 30 anos.
A década de 1980 foi a mais marcante em minha vida jornalística, trabalhava muito, e era até chamado de "burro-de-carga" pelos companheiros. Mas fazia isso com prazer, exatamente porque era a profissão que sonhava desde a adolescência, quando tudo começou no Jornal de Hoje. Meu expediente era pela manhã sempre a partir das 9 horas. Antes atuava como professor nas duas primeiras aulas do dia no Impacto Curso (pré-vestibular) e no Colégio Marista, lecionando Organização Social e Política Brasileira - OSPB, que era economia, política, sociologia. A tarde, era Telasa, Epeal  e CDL, na assessoria de Imprensa e a noite, mais aulas no Colégio Guido, Escola Técnica de Comércio e Impacto Curso.
Saí da GAZETA em 1989, em plena campanha presidencial. A primeira eleição direta para presidente da República após a ditadura militar. E um dos donos do jornal foi o grande vencedor. Mas minha demissão foi necessária, segundo a direção, já que recebi todos os direitos e continuei prestando serviços. O jornal enfrentava uma grave crise financeira e teve que demitir jornalistas e outros funcionários administrativos. Todos alegaram que eu tinha outros empregos e ainda receberia de lá, via Departamento Comercial, com matérias pagas. Também fiquei fazendo uma coluna semanal: Repórter Econômico. Não parei, claro e logo no início de 1991 fui para o:
JORNAL DE ALAGOAS
Sempre sonhei em trabalhar nele. Em minhas passagens pelo Centro, olhava o sobrado que sediava esse que era o jornal mais antigo da cidade e pertencente aos Diários Associados. Ao sair da GAZETA, fui logo para lá, ocupar a mesma função: Editor de Economia. Levei a coluna REPORTER ECONOMICO e toda a página ficava sob minha reponsabilidade com matérias locais e as nacionais.
O editor geral era o jornalista Romero Vieira Bello e o chefe de reportagem e pauteiro, jornalista Bernardino Souto Maior, mais dois gurus, com quem muito aprendi. Tudo era mais prático, já que a redação ficava na Rua Boa Vista, no Centro e os demais empregos também na região. Não precisava de carro para cumprir minha pauta, até porque editava uma página e muitas entrevistas eram feitas por telefone, enquanto as nacionais chegavam das agências de notícias,via telex.
A redação ficava no primeiro andar com piso de tábuas, uma fileira de máquinas de datilografia (não existia ainda computador nos jornais, no início da década de 1990) e era televisão e rádios ligados, uma  grande, que nunca tirou-me a atenção no que estava fazendo. E mais: o som de música estridente emitido pelas lojas, gritos de camelôs. Um verdadeiro pandemônio! Aprendi a partir daí a concentrar-me no que faço e posso até ler um bom livro, mesmo com qualquer tipo de barulho.
Minha coluna Repórter Econômico era (e continua sendo) exclusivamente de dicas de economia para o dia-a-dia do consumidor. Não fujo ao tema. Mas tanto na Gazeta como no Jornal de Alagoas, a pedido da direção sempre colocava uma foto de algum empresário, executivo, economista ou afins, comentando sobre seu trabalho. Não havia qualquer ingerência política ou econômica, pelo menos no meu caso. Os diretores poderiam até faturar! Eu recebia apenas o salário e vez por outra a comissão sobre a matéria paga ao Departamento Comercial. Mas era difícil isso acontecer. Não reclamava.
O JORNAL DE ALAGOAS já tinha completado 80 anos de circulação ininterrupta. Pertencia a rede dos Diários Associados criada pelo jornalista Assis Chateaubriand, que também fundou a primeira emissora de TV do Brasil: a TV Tupy. Mas no nosso caso, estava numa situação financeira difícil de ser solucionada, com débito astronômico. Tinha apenas o prédio onde funcionava a redação e a parte administrativa. A impressão era em Recife, nas oficinas do Diário de Pernambuco, do mesmo grupo. Todos os dias,  a diagramação e fotos, seguia de carro percorrendo 280 km até a capital pernambucana. Se fosse hoje, tudo seria via Internet. Mas chegava cedinho às bancas e assinantes.
Assim como na GAZETA, o diretor geral, Aécio Diniz e o comercial, Ronaldo Cavalcante (ambos também jornalistas) sempre procuravam-me pedindo socorro, através de minha interferência junto ao mundo empresarial, já que era assessor de imprensa de várias entidades ligadas a economia alagoana. Não interferia, mas eles sim e, meu nome era sempre citado. Fazia questão de comunicar aos empresários que não tinha qualquer participação na área financeira do jornal.
Fechava minha página com o diagramador antes do meio dia e corria logo para um rápido almoço num dos restaurantes do Centro e seguia para minhas assessorias, em alguns dias, aulas pela tarde e sempre também no período noturno. Antes de chegar a redação, já tinha ministrado aulas no Marista, Impacto, Objetivo. Era um corre-corre muito grande, mas compensador, examente porque sentia-me realizado tanto na redação como nas salas de aula e nas assessorias.
Tudo isso acabou em 1993, quando todos já esperavam: o jornal encerrou definitivamente sua circulação em uma edição memorável, que guardo com muito zelo em minha hemeroteca, juntamente com todas as minhas páginas do período em que lá passei, além das da Gazeta e demais jornais. Voltei a colaborar por alguns meses com o JORNAL DE HOJE, sempre com o Repórter Econômico. Mas o mercado jornalístico aguardava com muita expectativa a entrada de mais dois jornais diários. E em agosto de 1994, ingressei em:

O JORNAL
Recebi o convite para ser o editor de economia desse novo veículo de comunicação que chegou para substituir mesmo o JORNAL DE ALAGOAS. Dois sergipanos: um jornalista (Nazário Pimentel) e um empresário do setor imobiliário (Luiz Carlos Barreto) se juntaram e trouxeram de Aracaju toda a maquinaria e demais equipamentos, alugando um prédio no bairro do Poço e meu novo emprego começou.
O editor geral era o notável jornalista e professor universitário Stefani Brito, outro com quem muito aprendi. Tinha ainda o sergipano, Heitor Augusto, jornalista veterano e excelente companheiro, com o qual fiz uma parceria para lançar vários suplementos como o de História de Alagoas (que depois transformei num livro) e ainda História dos Bairros de Maceió, hoje um site de boa aceitação na Internet. Também produzia muitas matérias especiais sobre cultura e economia.
Assim como nos três anteriores, tinha minha coluna diária com dicas de economia e a página com matérias locais e internacionais. Vez por outra, uma entrevista com perguntas e respostas, ilustrada com fotos. Qualquer personalidade marcante na economia, política e cultura que visitava Maceió, era enviado para entrevistar, tanto nos hotéis, como nos locais do evento em que participavam.
Viajava muito à Recife, para participar das reuniões do presidente da República com os governadores do Nordeste, na Sudene. As vezes de carro e outras de jatinhos dos usineiros. De lá enviava a matéria já via e-mail. O JORNAL já estava automatizado, com computadores de última geração. Começamos mesmo com a máquina de datilografia, mas um ano depois, já estavamos com computadores. Também fazia viagens a Hidrelétrica de Xingó, quando da abertura de turbinas e a presença do presidente da República. Entrevistei Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso nessas oportunidades.
Foram cinco anos de plena atividade jornalística, unindo ainda a assessoria da CDL e as aulas. Já estava beirando os 50 anos de idade e claro, cansado, tendo que restringi um pouco a carga horária. Assim, em 1999 deixei a redação para sempre. Logo depois, o jornal foi vendido ao industrial João Lyra, que continua. Mas não mais na sede original. E é nele que mantenho minhas crônicas semanais sobre cultura, principalmente. A parte econômica fica para o EXTRA. Em ambos não tenho qualquer vínculo empregatício, apenas como colaborador, graças a amizade que continua com seus editores, mesmo sem ir a redação. Minha missão foi cumprida no "batente de redação".

OS SEMANÁRIOS
Desde a década de 1980, quando ingressei na GAZETA, mantinha minha coluna Repórter Econômico em vários semanários. Fazia isso como continuo fazendo em O EXTRA: de graça. Apenas para ter espaço e ser lido, orientando o leitor no seu orçamento doméstico. Isso garantia-me ser palestrante de seminários, congressos e ainda para passar minhas dicas a universitários, empregados de várias empresas e órgãos públicos. Nesse último caso, recebia honorários. Era como se estivesse em minha sala de aula, repleta de adolescentes do terceiro ano científico e do pré-vestibular.
Lembro saudosista de minha coluna em O SEMEADOR, que era editado pelo jornalista Teófilo Lins. Jornal de responsabilidade da Arquidiocese de Maceió, abria esse espaço para orientar seus leitores sobre economia no dia-a-dia, exatamente porque era editado por um jornalista profissional, como manda a legislação. Fiquei colaborando até a morte desse saudoso companheiro. Depois os próprios sacerdotes continuaram editando o jornal, agora recentemente tem um jornalista responsável.
O semanário OPINIÃO, também foi outro espaço que dedicava minha coluna. De linha esquerdista, era muito lido pelos alagoanos. Passei um bom período nele, apenas enviando o texto, sem participar da redação, já que tinha meu emprego fixo no jornal diário.
Através de outro saudoso companheiro, jornalista Gouveia Filho, que editava o MOMENTO ALAGOANO, tinha minhas dicas a cada semana e era um jornal muito respeitado e lido a cada edição que misturava política, economia, polícia, esporte e cultura. Seguia o mesmo estilo: enviava a coluna.
O EXTRA
Esse desde o seu início, colaborei também com o REPORTER ECONOMICO. Sua primeira redação ficava na Avenida Fernandes Lima, no Farol, passagem de minha ida para a GAZETA e lá deixava a coluna. Já era comprovadamente de esquerda e aceito pelos leitores que viviam naquela época a chamda abertura política após a ditadura militar. Continua assim e mais respeitado ainda. Vende mais de 10 mil exemplares a cada edição, exclusivamente nos jornaleiros de esquina e nas bancas de jornal e revista. Não tem assinantes, mas ainda dispõe de alguns anúncios.
Também participei de revistas como a Society, voltada para a alta sociedade, mas que continha entrevistas com empresários,executivos e políticos, que ficava sob a minha responsabilidade. Memorável foi a que fiz com o senador Teotônio Vilela, em 1982, um ano antes de sua morte. Ainda colaborei com a revista de turismo do companheiro Antonio Noya, com uma coluna de economia.

TELEVISÃO
Foi a coluna REPORTER ECONOMICO que levou a direção geral e de jornalismo da TV ALAGOAS a chamar-me para apresentar um programa com esse mesmo título, que obviamente recebia por esses serviço prestado e tinha um patrocinador de peso: TELASA, onde era assessor de imprensa. Ficou no ar três vezes por semana durante mais de dois anos. Era gravado em minha sala.Não precisava ir ao estúdio.
Depois dessa experiência nova, fui para a TV PAJUÇARA, também com o mesmo assunto, mas tendo que gravar os três dias em um só, no estúdio. Recebia a cada mês no dia marcado, como prestador de serviços, um valor que era muito bem aceito em meu orçamento. Nos dois casos, era apresentado dentro do noticiário local.
Só não tive experiência em rádio, mas dei várias entrevistas sobre assuntos diversos, envolvendo meu lado jornalístico, assim como escritor, já que tinha lançado dois livros.

ENTREVISTAS
Foram centenas que fiz nos meus 30 anos de "batente" na redação dos três jornais diários por onde passei. Tenho todas arquivadas, além de fotos com os entrevistados (algumas que conseguia no laboratório fotográfico). Nunca pedia ao repórter fotográfico para ser fotografado com a pessoa. Não era notícia, dava ela!
Mas as que realmente marcaram minha vida no jornalismo foram com as seguintes:
- Presidentes da República:
1. - João Batista Figueiredo, num congresso lojista no Rio de Janeiro.
2. - José Sarney, numa reunião do Conselho Deliberativo da Sudene, em Recife.
3. - Fernando Collor de Mello, em Maceió, por várias vezes.
4. - Itamar Franco, na Usina Hidrelétrica de Xingó.
5. - Fernando Henrique Cardoso, em Xingó e Recife.
- Ministros de Estado:
1. - Delfim Netto, Ernane Galvês, da Fazenda
2. - Mário Henrique Simonsen, da Fazenda
3. - Dilson Funaro, da Fazenda
4. - Luiz Carlos Bresser Pereira, da Fazenda
5. - Mailson da Nóbrega, da Fazenda
6.-  Zélia Cardoso de Mello, da Fazenda
7.- Marcilio Marques Moreira, da Fazenda
8.- Gustavo Krause e Pedro Malan, da Fazenda
9. - Nestor Jost e Aramury Stabile,  da Agricultura
10. Albano Pimentel Prado Franco, da Indústria e Comércio
11.  Antonio Kandir e Dorothéa Werneck,  do Planejamento
12.  Raul Jugmann, da Reforma Agrária. 
Também entrevistei outros ministros e presidentes do Banco Central do Brasil, como Gustavo Franco, Gustavo Loyola, Armínio Fraga e  líderes empresarias, sempre em passagem por Maceió, como nas convenções que participava em outras capitais. Outra importante entrevista com com o uruguaioEnrique Iglesias, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em passagem por Maceió. E mais: Herbet de Souza, o Betinho, dona Ruth Cardoso, mulher do então presidente Fernando Henrique Cardoso, Emilio Odebresch (presidente do Grupo Odebresch, dono da Braskem) e João Carlos Paes Mendonça, fundador do Grupo Bompreço.
Governadores:
Todos os governadores do Estado, a partir de Guilherme Palmeira ao atual, secretários de Estado, dirigentes de estatais, etc. Nas convenções que participei, entrevistava o governador de cada Estado em reuniões na Sudene, sempre abrindo o encontro e depois dando uma coletiva. Foram:
1. - Roberto Magalhães, Marco Maciel e Miguel Arraes, de Pernambuco.
2.-  Ronaldo Cunha Lima, da Paraiba
3.-  Agripino Maia, do Rio Grande do Norte
4.- Ciro Gomes e Tasso Jereissat,  do Ceará
5.- Hugo Napoleão, do Piauí
6.- Roseana Sarney, do Maranhão
7.- João Alves e Albano Franco, de Sergipe
10-Tancredo Neves, de Minas Gerais
11. Leonel Brizola, do Rio de Janeiro
12. Franco Montoro, de São Paulo
13. Jayme Lerner, do Paraná
14.  Antonio Britto, do Rio Grande do Sul

ARTISTAS
A mais memorável e emocionante entrevista que fiz foi com o REI ROBERTO CARLOS, a bordo de avião que ele batizou de Emoções, título de um dos seus maiores sucessos. Foi em 1982, quando ele veio a Maceió fazer um show no Estádio Rei Pelé. A entrevista foi em sua chegada dentro do avião. Fiquei ao seu lado e, claro tenho a foto. Os demais foram:
l. - Altemar Dutra
2.- Elba Ramalho
3.- Bruna Lombardi
4.- Cláudia Raya
5.- Mayara Magri e Matheus Carrieri, que participava de uma novela na TV Globo e estavam filmando em Maceió, exatamente no Hotel Jatiúca, meu reduto de entrevistas. Isabela Garcia, no camarote do Maceió Fest.
Marcaram muito as entrevistas com o Menestrel das Alagoas, Teotònio Vilela, Tancredo Neves (quando de sua presença em Alagoas para o funeral do Menestrel) e Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, Betinho, dona Ruth Cardoso, o próprio Fernando Henrique Cardoso,  Ulisses Guimarães, Mário Covas, Dante de Oliveira, todas aqui em Maceió. São os verdadeiros ícones pelo fim da ditadura militar e a volta das eleições livres, que só ocorreram em 1989.

DIÁRIO DE BORDO

- SALVADOR:
Minha primeira viagem como jornalista profissional e representante da Imprensa alagoana, foi em 1981, aos 30 anos, para Salvador, onde partipei da Convenção Nacional da Indústria do Fumo. Era repórter especial do suplemento GAZETA AGRÍCOLA, da GAZETA DE ALAGOAS, e assim viajei de avião, o que tanto sonhava. Fiquei hospedado no Hotel Othon, na praia de Ondina, um dos melhores cinco estreladas da cidade, com tudo pago pela Associação Brasileira da Indústria do Fumo (Abifumo).
Foram três dias de total mordomia, mas sempre assistindo toda a convenção, entrevistando autoridades e enviando as matérias por telex (não existia ainda a Internet). Existia a programação social com jantar em vários locais e no final um passeio de catamarã pela Baia de Todos os Santos até a Ilha de Maré. Inesquecível.
ARACAJU
No mesmo ano, a Petrobras convidou a Imprensa alagoana para a inauguração de uma indústria de uréia no município de Laranjeiras, com passagem de avião, hospedagem e cinco dias de intensa atividade, inclusive as mordomias noturnas. Foram 10 jornalistas e publicitários daqui, todos alojados no então melhor hotel da cidade: o Beira Mar, na praia de Atalais. Visitamos vários pontos turísticos e a própria índústria com entrevistas e envio das matérias para a redação da Gazeta.
SÃO PAULO
Em 1982 foi a vez de uma viagem mais longa de avião: Sâo Paulo. Fui como repórter do suplemento GAZETA AUTOMÓVEL, para o Hilton Hotel, na esquina das Avenidas Ipiranga e São João (lembrando a música homônima de Caetano Veloso). Total mordomia num cinco estrelas maravilhoso, em seu décimo quinto andar, com vista deslubrante da capital paulista, tudo bancado pela Volkswagem, que lançou o VOYAGE, a grande novidade do mercado. O lançamento foi no Village Hotel Atibaia, na cidade do mesmo nome, a cerca de 50 km de Sampa. Tinha o sorteio de um carro dessa marca entre os jornalistas,entrevistas, almoço, jantar, pernoite e retorno ao Hilton.
Passei dois dias na maior cidade do País e na volta para casa, fiquei no Rio de Janeiro, para alguns dias de total lazer no apartamento de meu tio em Copacabana. Conheci os pontos turísticos. Era a época da Copa do Mundo na Espanha e a cidade estava toda de verde e amarelo. Visitei o Corcovado, Pão de Açúcar, praias de Copacabana, Ipanema, Leblon, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes. Retornei à Maceió, feliz por ter conhecido finalmente as duas maiores cidades do Brasil.
Ainda em 1982, no segundo semestre, fiz mais uma viagem para cobertura jornalística. Desta vez como representante da GAZETA e da CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas de Maceió, onde era assessor de imprensa. Tudo bancada por essa entidade em avião fretado com dezenas de empresários do comércio alagoano e hospedagem no Luxor Hotel, cinco estrelas e todas as palestras no Centro de Convenções, na praia de Ponta Negra. Adorei a cidade, praias lindas, mas as nossas bem mais.
Foram cinco dias de intensa atividade, tanto jornalística (envio das matérias para Maceió) como sociais, em passeios turísticos e ainda festas noturnas em clubes, boates e no próprio hotel. O encontro reuniu mais de 3 mil pessoas, de todos os Estados brasileiros. Entrevistei o governador do Estado, palestrantes em seus mais variados temas e sempre com excelentes matérias para a Gazeta de Alagoas.
CURITIBA
Em 1983, mais uma vez a Gazeta Automóvel grantiu-me uma viagem inesquecível: o lançamento de mais um caminhão da Volvo (indústria sueca) com fábrica no Paraná. Fui o único representante da imprensa alagoana nesse encontro,bancadado pela multinacional, passagem aérea e hospedagem no Village Hotel, um cinco estrela beleíssimo, onde também foi realizado o lançamento, antes o sorteio para um jornalista. Mais uma vez, não fui contemplado. Passei apenas dois dias, mas deu para conhecer um pouco a cidade, jantar jum restaurante no bairro de Santa Felicidade, tipicamente vinho e música regional, o Centro e seu famoso calçadão. Linda cidade.
Ainda nesse ano, fui a Fortaleza para a Convenção Nacional do Comércio Lojista, no mesmo esquema de Natal, avião fretado e hotel cinco estrelas, bancados pela CDL. Imperial Othon, na orla marítima, intensa atividade social, em boates, bares, restaurantes e no final um baile show com o cantor cearense Belchior. Inesquecível. Muitas matérias para a Gazeta e o retorno à Maceió, cinco dias depois.
Uma viagem curta de apenas um dia, foi ao Recife, para a Convenção Norte e Nordeste do Comércio Lojista, no Mar Hotel (cinco estrelas), viagem num jatinho de apenas 40 minutos e hospedagem no hotel, onde assisti a abertura do enconro, fiz algumas entrevistas e enviei a Maceió, pernoitei e retornei logo cedo da manhã, para o batente da redação.
RIO DE JANEIRO
Foi em 1984, o último da ditadura militar, que realizou-se no Rio de Janeiro, no Hotel Nacional, na praia de São Conrado, a Convenção Nacional do Comércio Lojista, aberta pelo presidente da República, João Figueiredo. Um sufôco para entrevistá-lo. Ele detestava a Imprensa, mas consegui logo após a solenidade, através de uma "brecha" em sua agenda e identificando-me como jornalista alagoano. Ele não gostava mesmo era da Grande Imprensa! Portanto apenas os jornalistas dos Estados do Nordeste e Sul que estavam presentes, participaram da coletiva. Valeu a pena, porque ele falou da economia propriamente dita e do comércio em especial. Não quis saber nada sobre política, principalmente eleições diretas, que era o assunto do ano.
Foram cinco dias de intensa programação tanto no hotel como em outros locais da cidade. Fui a mais famosa boate: a Scala, com show das mulatas do Sargentelli e de Martinho da Vila, o puro samba carioca. No ano seguinte, a convenção foi em Belém e não participei. Era mais tempo fora da Gazeta e também tinha meus outros empregos.
MERCOSUL
Desta vez foi uma viagem particular com minha mulher e amigos. Estava em férias e fomos ao Rio de Janeiro, Paraná, Argentina e Paraguai. Uma semana só de prazer,mas obviamente que não em hotel cinco estrelas. O dinheiro saía de meu bolso! Era o início do Plano Cruzado (1986) e já tinha gasto muito com o aniversário de 15 anos de minha filha. Mas valeu a pena,porque pisei pela primeira vez em solo estrangeiro e retornei a Curitiba, cidade que tanto admirei quando fui pela primeira vez.
A viagem foi de avião até o Rio de Janeiro e no mesmo dia, pegamos um ônibus em excursão de uma agência de turismo, com guia e bastante confortável. Passamos por São Paulo, sem parar e chegamos a Curitiba, onde nos alojamos num hotel do Centro, conhecemos um pouco a região central e pernoitamos num frio de 5 graus. Era julho, pleno inverno "europeu". No dia seguinte seguimos para Foz do Iguaçu.
Aí começa realmente a viagem de meus sonhos: O deslumbramento com as Cataratas do Iguaçu uma das maravilhas do mundo. E ainda a Usina Hidrelétrica de Itaipu (Brasil e Paraguai) e claro a zona franca do Paraguai, com compras de produtos importados, além de Puerto Iguazu, na Argentina, sempre com compras, bar, restaurante e muitos fotos. Na volta, ficamos em Curitiba, onde pegamos um trem para Paranaguá, numa viagem belíssima descendo a Serra do Mar.
No Rio de Janeiro, enquanto os demais foram para seus Estados, fiquei com os casais: Helder/Ana e Roberto/Rosa, para curtir um pouco a cidade maravilhosa. Fomos a um passeio de catamarã a Ilha de Itaparica, inesquecível e ainda conhecemos o Centro, para depois voltarmoa à Maceió de avião.
RIO GRANDE DO SUL
Inesquecível mesmo foi essa viagem feita em setembro de 1989 a Porto Alegre, bancada pela CDL para a Convenção Nacional do Comércio Lojista. Levei minha mulher, pagando a parte dela. Mais uma vez avião fretado, com dezenas de lojistas, direto para a capital gaúcha, onde ficamos no Plaza Hotel, no Centro. Muitas entrevistas com os conferencistas, festas típicas em casas de shows e o mais deslumbrnte, no final da Convenção, a visita a Serra Gaúcha: Garibaldi, Gramado e Canela, com degustação de vinhos, visita as vinícolas e os demais pontos turísticos dessas cidades.
Ainda fui em 1991 para a Convenção Nacional do Comércio Lojista em Aracaju, tudo pago pela CDL, mas depois saí da Gazeta, fui para o Jornal de Alagoas e O Jornal e as viagens se restringiam ao Recife, para reuniões da Sudene. Também estava acumulando outras assessorias de imprensa e tinha os colégios onde ensinava. Foi assim que encerrei minhas viagens interestaduais, a situação foi "apertado" financeiramente.



REPORTER ESPECIAL
Desde que ingressei no jornalismo profissional (antes era só articultista), passei também a exercer a incumbência de Repórter Especial, dos mais variados assuntos, mas sempre ligados a economia, sociologia, política, religião. Nunca para polícia e esportes, que não entendia de nada. Foram várias matérias de página inteira, com chamada na primeira.
A que iniciei nesse campo foi sobre o Detran, onde a desburocratização não chegou. Era o último governo militar (João Figueiredo) que havia criado o Ministério da Desburocratização. Mostrei que naquele órgão do governo do Estado, a burocracia emperrava tudo e a corrupção era alarmante. Entrevistei gestores e principalmente usuários dos serviços pessimamente prestados, além dos altos preços das taxas pagas. Serviu de pauta para a TV, rádio locais e ainda jornais e revistas de circulação nacional.
Sempre atento ao que estava acontecendo em Alagoas, produzi outra página especial, com o caso de um município que leva o nome de um homem: Paulo Jacinto, mas que era comandado por mulheres: prefeita, presidente da Câmara de Vereadores e Juíza de Direito. Um excelente material para divulgação. Conversei com meus primos de lá e entrevistei as três bravas comandantes da "terra de cabra macho". E foi um sucesso. Chegaram por aqui jornalistas da ISTO É e VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO e ainda a TV GLOBO, que deu destaque no Fantástico, mostrando as três mulheres, a cidade e finalizando com um machão que caía do cavalo em plena praça pública.
Ainda no início da década de 1980, os sertanejos sofriam mais uma seca sem prescendentes, que destruiu toda a lavoura, matou gado e não existia água em para o consumo próprio. Fui ao Sertão,visitando os municípios mais castigados e fiz uma matéria especial de uma página, que valeu-me o Prêmio de Jornalismo, instituido pelo Governo do Estado. Também pauta para a Imprensa nacional, que aqui chegou e mostrou ao Brasil a miséria do Sertão alagoano.
No suplemento GAZETA AGRÍCOLA, descobri que Alagoas fazia caldo de cana em pó e cai em campo. Fui ao Engenho Samambaia, em Atalaia, onde o autor da façanha vivia. Entrevistei,mostrei todo o processo e experimentei o produto, que poderia ter se transformado numa novidade no mercado. Mas o senhor de engenho queria apenas mostrar o que sabia fazer, nada de comercializar nem dar sua experiência a outro. O consumo era familiar, tanto na casa grande, como nas casas de seus empregados.
Matérias de página inteira que fazia, entrevistando personalidades locais e nacionais, não foram só na GAZETA, mas também no JORNAL DE ALAGOAS e O JORNAL, sempre acumulando as funções de Editor de Economia e Repórter Especial.

MISSÃO CUMPRIDA
Sempre planejei chegar a idade mínima para minha aposentadoria e parar definitivamente de ser empregado, dedicando-me a ler muito e escrever. Assim fiz ao completar 53 anos de idade e 35 de carteira assinada. Dei entrada no INSS, e em agosto de 2004, passei a ser mais um sacrificado aposentado da Previdência Social. Minha renda despencou, mas estava feliz, com um imóvel devidamente pago na Caixa Econômica Federal, depois de 18 anos de pagamento de prestações, com os filhos formados e uma neta, além é claro da minha mulher - com quem vivo há 42 anos - também aposentada como funcionária pública federal.
Já tinha uma mini-biblioteca, com muitos livros que juntava desde a adolescência, mas que sempre ficava na casa de meus pais e de minha sogra, por falta de espaço no meu apartamento. Tinha uma poupança com muito sacrifício, e com esse dinheiro, comprei uma sala no Centro para transformar num gabinete de leitura. Comecei a adquirir estantes e peças centenárias e tudo se transformou num verdadeiro museu.
Com o dinheiro da aposentadoria e a montanha de livros que comprava e ganhava de amigos, tinha que ter um espaço maior. Aluguei um apartamento, também no Centro, com quarto, sala, cozinha, banheiro e deu para acumular tudo. Comprei mais estantes e até um piano. Passei a viver mais lá do que no da familia. Não era divórcio. Queria mesmo era total privacidade.  Minha mulher passava os fins de semana comigo e no dia-a-dia, mantinha contato com ela, minha filha, meu filho, genro e neta.
A biblioteca já contava com mais de 3 mil livros em várias estantes distribuidas pelos cômodos do apartamento. Sufocou-me, e precisava de uma casa para acomodar todo meu acervo e ainda a familia. Deixei minha filha casada no nosso apartamento e aluguei uma casa imensa que coube tudo e realmente ficou parecendo com uma "casa grande" de engenho dos meus antepassados.
 Minha mãe e minha irmã solteira, vivem em Viçosa, e para lá enviei metade de meus livros, formando um extensão da biblioteca, para quando estiver lá, ter meu cantinho, onde posso ler em total privacidade. Cumpri minha missão. E deixo esse legado aos meus filhos e netos, assim como recebi de meus antepassados.